Uma festa para milhões
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de março de 1987
Se hoje a festa do Oscar é uma das maiores produções artísticas, concebida para uma transmissão que atinge praticamente todo o mundo, com todas as atrações possíveis, no início era modesta, reservada a poucos convidados. Durante os primeiros 15 anos, a partir da primeira apresentação (16 de maio de 1929, no Hotel Roosevelt, em Hollywood, com os prêmios referentes a temporada de 1927/28), os prêmios eram entregues em banquetes em salões de hotéis como o Roosevelt, Baltimore, Ambassador, etc. De 1942 a 1945, foram entregues no famoso Chinese Theatre (ponto turístico de Hollywood, pois em sua calçada estão gravadas as mãos das estrelas). Em 1946 e 1947 a festa passou para o Shrine Civic Auditorium (aonde, aliás, este ano foi apresentada a festa do Grammy - o Oscar da indústria fonográfica - transmitida pela primeira vez para a televisão brasileira, na madrugada de 24 de Fevereiro último). Em 1940 a festa foi no próprio teatro da Academia. Entre 1949/59 passou para o Pantage Theatre e de 1960 a 1967 no Santa Monica Civic Auditorium. A partir de 1968, fixou-se no Dorothy Chandler Pavillion, com transmissão pela televisão, para o Brasil, a partir de 1969.
Desde 1943 a festa se abriu para o público e conforme pesquisa de Rubens Edwald a idéia foi de Bette Davis, que queria vender ingressos para a renda e ajudar o Fundo da Guerra. A Academia não aceitou a proposta e Bette saiu da diretoria. Até hoje, só entra na festa quem consegue convites. Imagine-se a briga de foice para obtê-los.
PRESTÍGIO - Nos Estados Unidos, as cerimônias passaram a ser transmitidas pela televisão em 1953 (anteriormente, o rádio já transmitia a festa). Ninguém ganha "cachet" para aparecer no Oscar - (imagine-se o quanto custaria pagar o desfile de superstars que aparecem a cada ano?). Em compensação, o prestígio é imenso. Com a renda da transmissão - claro que são cobrados com caríssimos anúncios - permite a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood manter-se por todo o ano - com sua sede na Wilshure Avenue, onde mantém biblioteca, cursos, oferece bolsas de estudos, preserva (e recupera) filmes antigos e faz edições de livros e revistas.
A ESCOLHA - Não custa repetir o que muitos sabem, mas outros não! A responsabilidade da escolha dos candidatos a vencedores é dos 4.300 membros da Academia. O sistema de escolha é o seguinte: os associados votam nos finalistas de sua categoria (ator vota em ator, músico em músico, diretor em diretor, assim por diante). Depois de anunciados os cinco finalistas em cada categoria (o que normalmente acontece em fevereiro), todos votam nas 13 categorias existentes (as restantes são votadas pelo comitê de direção da Academia, que tem hoje o cineasta Robert Wise na presidência). Para votar em filmes estrangeiros, documentários e curtas (os quais nunca chegam a serem exibidos no Brasil) só podem os que assistiram a todos os concorrentes.
Não é preciso ser sócio da Academia para concorrer. E uma indicação não quer dizer que a pessoa se torna sócia automaticamente.
É impossível saber quanto um prêmio pode ajudar na renda de um filme. Uma pesquisa indicou que "Um Estranho No Ninho" (melhor filme/1975) cresceu mais de 70% depois da premiação. "Operação França", premiado em 1971, quadruplicou sua renda. Uma simples nomination já ajuda bastante, embora isto funcione mais nas categorias de filme, ator e atriz. Mas há exceções: por exemplo, "Sonhos Do Passado", de John G. Avidsen, que valeu o Oscar de melhor ator a Jack Lemmon em 1971, foi um fracasso. E exemplos não faltariam a respeito recomendando-se para quem se interessa por estas estórias a leitura da edição especial de "Vídeo", na qual Rubens Edwald sintetizou informações que foi descobrir em 1001 publicações especializadas que possui em sua completa biblioteca-arquivo.
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