Concerto desconcertante
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de agosto de 1977
O pianista Paulo Affonso Moura Ferreira, 37 anos, ex-diretor do Departamento de Música da Universidade de Brasília, que segunda-feira fez um recital didático de peças de vanguarda no Guairinha, estendeu sua temporada, com uma série de três palestras (ontem, hoje e amanhã, auditório da Escola de Música e Belas Artes do Paraná), sobre "Música Brasileira: As Possibilidades/ As Responsabilidades/ As Perspectivas". No concerto de segunda-feira, ao lado de peças de Zoltan Kodalyx, Joji Yusa e Ernst Mahle, Moura Ferreira fez a primeira audição, no Brasil, de "Five Easy Piano Pieces", obra que Bent Lorentzen, 41 anos, compôs em 1971 - e que motivou o título do primeiro filme dirigido por Jack Nicholson, no Brasil rebatizado como "Cada Um Vive Como Quer".
O (pequeno) público presente, formado principalmente por estudantes de piano, não deixou de surpreender-se com o inusitado programa. Por exemplo, "Cluster", que Mário Lavista, 34 anos, "compôs" em 1973, nada mais é de que um som único, provocado pelo pianista e mais 3 "participantes especiais", sobre todas as teclas do piano. Mas a mais insólita é "(Seqüência( Estéril" ou "A Montanha dos Palcos", de 1971, do paulista Jamil Maluf, 25 anos, atualmente estudando na Alemanha: simplesmente o pianista não toca, apenas encena uma situação. Na "Lírica di Trimbri", de 63, de Juliuz Luciuk, 50 anos, as teclas não são tocadas: o concertista usa baquetas e extrai os sons diretamente do interior do piano. O último número do programa, "Carrilhão",, de 1974, do mineiro Lourival Silvestre, 28 anos, foi o mais cansativo: 20 minutos repetindo as mesmas notas. Tanto é que, generosamente, Paulo Affonso, fez questão de destacar - ao vivo e no programa impresso - que o número já entrava como extra, e quem não o (agüentasse(, poderia deixar a sala que (compreenderia(. Ainda bem!
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