A crise no Guaíra reforçou oposição
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de agosto de 1985
Mais do que uma nova crise na área cultural - o que na atual administração peemedebista já se tornou lugar comum - a brutal demissão dos professores Rita Pavão, Lilian Fleury e Wolf Schaya, do Curso de Artes Cênicas da Fundação Teatro Guaíra, provocou numa das vítimas a decisão de tomar posicionamento político bem mais profundo. Rita Pavão, 32 anos, 26 de balé, com cursos de mestrado na Ucla, em Los Angeles, já se colocou a disposição tanto do comitês do ex-governador Paulo Pimentel como do ex-prefeito Jaime Lerner - ambos candidatos à Prefeitura de Curitiba, para colaborar, "de todas as maneiras, dentro de minha arte, para que a oposição vença as eleições do próximo dia 15 de novembro".
Embora ainda sem definir-se pelo PDT ou PDS - desejando, numa primeira etapa, "ajudar a quem representa a resistência contra o arbítrio peemedebista", Rita Pavão pensa - e seriamente - em fazer carreira política. Amigos (que são muitos) que a conhecem e admiram pela sua capacidade de liderança e coerência de opiniões, apostam que ela poderá se sair bem numa campanha eleitoral, representando o segmento artístico. E a Câmara de Vereadores poderá ser a primeira etapa.
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Wolf Schaya é professor de empostação de voz, maestro ligado desde os tempos pioneiros do Grupo Experimental de Operetas da antiga Superintendência do Teatro Guaíra. Homem humilde e modesto, foi surpreendido com sua demissão - sem qualquer justificativa. Lilian Fleury, que, coordenando o projeto Carreta desenvolveu um dos melhores trabalhos de real democratização do teatro nos últimos 2 anos, vinha sendo perseguida pela atual administração da FTG, desde quando tomou uma coerente e honesta posição de apoio no episódio das demissões de Yara Sarmento e Oracy Gemba. Rita Pavão, entretanto, se manteve neutra naquele episódio - do que agora se arrepende - de forma que foi surpreendida por sua demissão e, mais ainda, da atitude tomada contra a sua pessoa, impedia sequer de dialogar com os estudantes na sala de aula e retirada pela segurança das dependências do Guaíra.
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A crise é bem maior do que os releases oficiais procuraram minimizar: os estudantes do Curso de Artes Cênicas estão em greve há uma semana e fazem várias exigências - incluindo 14 itens de reivindicações relacionadas aos estranhos, nebulosos e ditatoriais decisões na "escolha"de professores do curso. É questionada, inclusive, a relação com a Universidade Católica, que através de convênio deu o aval didático para que o curso fosse legalizado após quase 25 anos - e que foi, reconheça-se, um trabalho de Oracy Gemba e elisa Gonçalves - esta também atingida pela violência e incompetência que caracterizam a Secretaria da cultura (sic).
O episódio das demissões de Gemba e Yara Sarmento (que retorna nesta semana de sua viagem à Europa e Estados Unidos) nem sequer ainda foi absolvido (tanto é que o cargo de superintendente continua vago) e esta nova crise na área da cultura confirma, mais uma vez, a incompetência dos ocupantes da área. Numa hora em que se busca o entendimento e o diálogo, a Secretaria da Cultura e do Esporte consegue provocar cada vez maiores rachas na área cultural - levando os nomes mais expressivos e competentes a tomarem posições claras e decentes de oposição aos desmandos que acontecem.
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Homens como o ex-governador Paulo Pimentel - que em seu governo procurou valorizar a classe artística (e na época não existia ainda a hoje malfadada Secretaria da Cultura - sic) recebem, assim, espontâneos, reforços de pessoas que ficam cada vez mais enojadas da política do governo José Richa. Um breve retrospecto mostra que em pouco mais de dois anos, nenhum setor do governo ficou tão desgastado como a área cultural. E, pelo visto, se não houver mudanças radicais, as crises se tornarão cada vez maiores.
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