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Aramis

As crônicas de dona Flora

Há exatamente um ano (30/4/77), escrevíamos nesta coluna que "dentro da vida social-cultural de Curitiba, a Sra. Flora Munhoz da Rocha é uma personalidade a parte. Apesar de pertencer a uma família de quase dois séculos de tradição, ela, inteligentemente, soube, manter uma atividade intelectual independente. Assim, suas crônicas não se confundem com o blá-blá-blá inútil de tanta gente preocupada apenas em escrever como "status" cultural. Com dona Flora, que não conhecemos pessoalmente mas que sempre admiramos, ocorre o contrário: escreve com naturalidade, clareza, sinceridade, o que faz com que seus textos não tenham interesse restrito às camadas mundanas. Muito pelo contrário, é autora de crônicas que, sem favor algum, podem ser incluídas em rígidas amologias. Um dos aspectos que se destaca na prosa de Flora Munhoz da Rocha é o bom humor, a agilidade em extrair dos fatos do cotidiano, o aspecto mais leve e feliz. Escrevendo sobre coisas do dia a dia, fatos triviais, dona Flora, arguta observadora, sabe dar uma dimensão maior - eliminando o ranço, os adjetivos desnecessários, o falso elitismo da sociedade provinciana e preconceituosa para, como mulher inteligente e liberal que é, formular conceitos próprios oferecidos quase subliminarmente, nas entrelinhas de seus textos. xxx Aquilo que afirmamos em relação a "Ida e Volta" (flagrantes de viagens, 1976) - que como "Domingo a Gente se Fala" (crônica, 1975) e "O Armazém de Seu Frederico" (1973, contos), já havia transposto a linha de apenas "mais um livro de uma senhora que escreve como hobby" para "um livro com textos inteligentes e agradáveis", pode repetir-se agora em relação "A Beleza de Ser Criança" (134 páginas, impresso na Gráfica Vicentina, edição da autora, abril/77). Se às crônicas de viagem de dona Flora - algumas publicadas originalmente em O Estado, nas edições dominicais - já revelavam uma autora de estilo leve, bem humorado e agradável, agora, falando do mundo encantado das crianças, dona Flora mostra que está escrevendo cada vez melhor. As 33 crônicas deste seu sétimo livro, reproduzindo principalmente um universo familiar (ela que tem vários filhos e muitos netos), contém, entretanto uma comunicação que independe de espaços geográficos: criança é criança em qualquer país e as frases espirituosas, as perguntas surpreendentes, as situações às vezes, até surrealistas que se criam, nas crônicas de dona Flora, podem ser entendidas (e sensibilizar) qualquer leitor - o que faz com que este seu pequeno e despretensioso livro, possa merecer até uma tradução. Há anos que dona Flora coleciona estórias alegres de crianças, colaborando inclusive com a coluna que seu amigo Pedro Bloch mantém na revista "Pais e Filhos". E, agora, dedica todo um livro a estórias ingênuas, simples - mas belas e sensíveis. E isso faz com que esse seu livro seja uma leitura agradável - com o gosto de infância que todos nós procuramos. xxx Dona Flora promete que o seu novo livro ("A Imagem que Ficou") será um depoimento sobre Bento Munhoz da Rocha Neto, talvez o último grande Estadista que o Paraná teve. Como sua esposa, dona Flora participou de mais de um quarto de século de uma vida política do Estado em que apesar dos jogos do poder, havia respeito e consideração aos homens e a inteligência. Mesmo que, pelo seu próprio espírito e formação, dona Flora Munhoz da Rocha, não pretendia fazer revelações indiscretas ou polêmicas, seu livro de memórias deverá se constituir num trabalho importante. Como são as suas crônicas que merecem o adjetivo de saudáveis e felizes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
29/04/1977

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