Cultura brasileira (II)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de julho de 1977
Do ponto de vista regional, não deixa de ser auspicioso: um humilde rapaz da cidade de Marechal Cândido Rondon, no extremo Oeste, consegue em menos de 2 anos de carreira fazer um elepê numa pequena etiqueta que, sem qualquer esquema de marketing atinge em um mês o 22º lugar entre os mais vendidos e se mantém numa posição que o poderá levá-lo aos primeiros pontos da parada de sucessos. Sociologicamente, as canções de Walter Basso, 25 anos, compõe e interpreta, mostram que a massificação musical torna possível um rapaz do Interior compor dentro das mesmas regras de comercialização de qualquer profissional experiente, do Rio e São Paulo. Assim, Walter Basso, dois compactos e agora com seu primeiro lp ("Quero Ser Seu Namorado", Scala, junho/77), não deve ser apreciado sobre os aspectos artísticos, pois desta forma não resistem a uma análise mais rigorosa. Mas dentro de um enfoque sócio- econômico, deve ser visto e registrado como um artista capaz de, dentro de uma faixa específica de consumo, se [transformar] num sucesso regional (nacional), como Agnaldo Thimoteo ou, mais recentemente, Odair José ou Sidney Magal.
xxx
José Maria Oliveira, 25 anos, rapaz astuto e trabalhador, que representa no Paraná o grupo Decajó, a maior empresa de venda de discos a atacado, foi quem percebeu as possibilidades comerciais de Walter Basso, crooner de um conjunto de bailes de Marechal Cândido Rondon, "Os Vikings". Assim, um primeiro compacto simples, com "Castelo de Sonhos", gravado em novembro de 1975, vendeu mais de 50 mil cópias - número suficiente para garantir um ótimo lucro e justificar o investimento de Cr$ 80 mil na produção de um elepê, que já teve suas 10 mil cópias colocadas em lojas em Curitiba, Ponta Grossa e, principalmente, na região Oeste. Entre o primeiro compacto e o elepê, Baso fez um segundo compacto duplo e teve músicas [incluídas] em lps-antologias da Scala. Agora, num lançamento-solo, vem [ao] encontro de um público simples, pouco exigente em termos musicais - mas que o absorve em seu romantismo feijão- com-arroz. Por razões de economia, as 12 faixas foram gravadas numa única sessão de 6 horas, com o mesmo grupo acompanhando, tão igual e quadrado, que parece a base única da mesma faixa.
Walter Basso, nascido em Concórdia, SC, mas desde os 10 anos em Marechal Cândido Rondon - município de colonização alemã, locutor da rádio local, é exemplo de influências da música comercial de nossos dias: em sua ingenuidade, faz um produto final que satisfaz ao mercado, capaz de, em poucos meses, ter-lhe dado uma renda que jamais obteria de outra maneira. Desprezando o regional mas não chegando a uma música urbana de qualidade, faz um som que o transforma num Odair/Magal do Oeste paranaense. E sobre este e único enfoque é que deve ser ouvido e observado.
xxx
Apesar dos 50 mil compactos vendidos com "Castelo de Sonhos", ao comparecer no EDDA para receber seus direitos autorais referente ao último trimestre, Basso quase chorou: Cr$ 205,00. Pior ainda no ano passado, quando a então SICAM lhe pagou Cr$ 35,00 de direitos autorais. Pelo visto, a Sombrás ganha mais um associado.
Enviar novo comentário