Como se faz um sucesso (de consumo)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de abril de 1978
Um rapaz modesto e simples, mineiro de Mantenas, 28 anos, que passou sua infância em Assis Chateaubriand e há 3 anos está em Curitiba, começou a escalada para se colocar ao lado de Agnaldo Timóteo, Nelson Ned e até Waldick Soriano numa faixa muito específica de consumo de uma música popular, de imagens dramáticas, lacrimogêneas, ao gosto das pessoas mais simples. Paulo de Paula (Agenor Barbosa de Almeida), depois de tentar o gênero sertanejo, tendo inclusive gravado um disco em homenagem a Tônico e Tinoco (CBS, 1976), foi visto pelos técnicos de marketing da gravadora paulista RGE, como um cantor capaz de preencher uma faixa específica do mercado. O resultado e que o seu primeiro compacto feito há alguns meses, com a música "Quarto de Mansão" e "Moisés", Um Santo de Areia", vendeu nada menos que 160 mil cópias, chegando ao 3o lugar da Parada nacional de Sucessos, que é um termômetro da música comercial brasileira.
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Vivendo até há poucos meses de magro salário de divulgador fonográfico, Paulo de Paula passa agora a merecer cuidados especiais em sua condição de novo astro. Ontem, um jantar no restaurante Mariás, trouxe a Curitiba o diretor-executivo da gravadora RGE-Fermata, Marcos Silva, junto com seus principais executivos, para prestigiar o lançamento do primeiro lp de Paulo de Paula ("Realidade"), na fábrica. José Francisco Dias, 35 anos, supervisor de marketing, vê em Paulo de Paula potencialidades de ser, em poucas semanas, um dos maiores vendedores de discos do País, atingindo inclusive o Norte/Nordeste, motivo pelo qual fará uma longa viagem aquelas regiões.
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Paulo de Paula deve ser anotado em termos não apenas musicais, nos aspectos estéticos - prisma sobre o qual suas musicas podem merecer restrições - mas, do lado sociológico. Mineiro, de formação rural, criado na região Sudoeste do Paraná, absorveu certas informações urbanas e, em suas músicas - algumas com parceiros, como um certo Zé da Praia (que apesar do apelido mora em Londrina), fala das coisas simples, piegas, mas que emocionam uma vasta faixa de consumidores, haja visto que o seu compacto (Cr$ 25,00 cada) vendeu como pão quente e deve chegar às 200 mil cópias. A RGE, gravadora fundada há 21 anos e que agora, sob presidência do argentino Enrique Lembediger (poderoso no campo de edições musicais, através da Fermata), viu em Paulo de Paula um artista para disputar uma faixa muito rendosa do mercado - para a qual, até agora, não havia dado maior atenção. Os grandes sucessos comerciais da RGE, haviam sido discos de brasileiros cantando músicas americanas (ou compostas aqui, em inglês) como Christian (na verdade José Pereira, de Goiás) e Steve Mcclean (Hélio Eduardo Costa Manso), além de estilizar as canções lusitanas na voz de Roberto Leal (Joaquim Antônio Fernandes, português de Algarves).
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Embora adotando um pseudônimo artístico, Paulo de Paula tem o mérito de cantar músicas em português, sem fazer maiores concessões. A existência de um público que consome o tipo de musica que ele faz é tema para um longo ensaio sociológico, como nunca nos cansamos de repetir. Aqui fica apenas o registro e os cumprimentos a Paulo - ou, na verdade Agenor Barbosa de Almeida, bom moço, gente simples, que busca seu lugar no panorama artistico-comercial, usando as armas e o talento - que dispõe.
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