A cultura em gincana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de maio de 1977
Como a palavra gincana é mais ou menos sinônimo de desperdício de gasolina, a diretoria do Clube Curitibano encontrou uma solução bastante original: a tradição promoção da saudável juventude do Curitibano Júnior dentro do badalativo Festival de Maio transformou-se em "maratona cultural". Mas com exceção nome, tudo foi como sempre: 13 equipes - vadiando de 80 a 800 pessoas em cada uma, miltarmente organizadas, percorreram milhares de quilômetros, consumiram milhares de litros de combustível e incomodaram meia Curitiba, em busca das soluções dos testes imaginados pelo Sr. Marcos pinheiro Machado, "double" de técnico do Badep e especialistas na montagem de provas de gincanas.
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A conta de telefone da boutique Castel Gandolfo, na Praça Santos Andrade, pertencente a Sra. Diva Labatut Stresser, foi aumentada em alguns mil cruzeiros no domingo: para solucionar uma das mais simples questões do segundo roteiro - quando a Índia investiu em pesquisas em 1976, foi feito um telefonema para Calcutá, via Londres, em busca de resposta, tentada, anteriormente, ser obtida junto a Embaixada da Índia, em Brasília - cujo funcionamento que atendeu não soube responder. A resposta foi encontrada num dos últimos números da revista "Correio da Unesco", onde estava também outra solução de uma questão aparentemente difícil: quantos estudantes de direito havia no Sudão em 1973?
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Uma das questões que mais encubou os participantes da gincana foi identificar as três netas de Maria Escolástica da Conceição Nazareth. Houve quem imaginasse que essa senhora fosse a mãe do compositor Ernesto Nazareth (1863-1934) e outros que julgavam como a celebre "Maria Polenta", curandeira curitibana. A professora Silvia Stadler de Souza Labatut, da equipe Castel Gandolfo, foi prática: folheou a coleção de lista telefonicas de todo o País, que havia prudentemente conseguido e acabou localizando-a em Salvador: Maria Escolástica da Conceição Nazarethé a Menininha do Gantois, que generosamente, não só disse pelo fone o nome de suas netas, como ainda fez a tradução para o português de uma letra em idioma nagô, prova 24, do domingo.
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Difícil mesmo foi conseguir um exemplar do Prava.
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Até favelados foram requisitados pelos "gincaneiros". Eis o que exigia a questão 43 da prova de domingo: "Você já ouviu falar em "bicho-de-pé?" Pois faça uma boa ação. Traga uma pessoa que tenha bicho-de-pé ao clube Curitibano entre às 13 e 14 horas de hoje, no departamento médico, para que o médico de plantão retire o referido parasita". Às 13h45min, não havia mais nenhum favelado da cidade com bicho-de-pé à disposição.
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Outra questão que prejudicou muitas equipes: traga um passaporte de uma pessoa que tenha entrado no Brasil no dia 10 de março de 1976.
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E a gincana acabou fazendo com que se descobrisse uma questão curiosa - e cuja resposta vai interessar a muitas pessoas: "Quais os dias críticos ou de transição (físico, emocional e intelectual) do governador Jayme Canet, de acordo com os bio-ritimistas?"
Uma dos homens mais incomodados sempre que há, gincana, o professor David Carneiro, acabou perdendo sua fleuma lapense-britânica e, à certa altura, expulsou as equipes que insistiam em perturbar sua tranqüilidade dominical.
A bibliografia sobre Charles Chaplin em português já é ampla, com mais de 10 títulos, aos quais acrescenta-se agora "Chaplin & Oona" de Frederick Sads (Livraria Francisco Alves editora, 134 páginas, Cr$ 60,00). Com o substitulo de "A História de um Casamento", focaliza exclusivamente o homem Chaplin "em seu prisma de sereno convívio conjugal". Apesar de ter uma movimentada vida amorosa - Edna Purviance, Pola Negri, Joan Barry - desde 1943, o criador de carlitos é casado com Oona, que quando ela conheceu tinha 18 anos (e ele 64), filha do dramaturgo Eugene O`Neill. Fatalmente ilustrado, o livro de sads conta a história do casamento, com 8 filhos - problemas. Aos 88 anos, desde 1952 vivendo fora dos EUA, Chaplin é o último grande nome da fase de ouro do cinema.
Mais dois nomes nas artes plásticas da terra: Jair Stella Filho e sidney Quadros. Autoridades, nascidos em Curitiba, integrantes da Equipe Propaganda, tiveram trabalhos aceitos no V Salão de Arte Jovem do Centro Cultural Brasil Estados-Unidos, em Santos.
Jair diz que busca influências "nas raízes do realismo fantástico". Já Sidney Quadros, mais modesto, "sensibiliza-se mais pelos casarões da nostálgica Antonina". Nota distribuída pela Equipe, anunciando o lançamento dos dois artistas acrescenta: "Ambos tentam se exprimir através das limitações das cores. Um grito de sensibilidade sufocado pelo gelo do cimento.
Ou melhor, dois".
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