De homens, fatos & coisas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de setembro de 1978
Pode ser que em breve um músico curitibano esteja na Orquestra Filarmônica de Washington, ao lado de Mstislav Rostropovich. O flautista Norton Morozowicz, 32 anos, que desde 1971 integra a Sinfônica Brasileira, recebeu o convite, oficial e formal, de Rostropovich, durante a recente passagem do violoncelista do Rio de Janeiro, para se integrar a Filarmônica de Washington. Anteriormente, quando com a OSB viajou aos Estados Unidos Norton havia conhecido Rostropovich que confessou sua admiração pelo nível que o flautista atingiu. Agora houve o convite oficial e Norton está pesando, seriamente, as possibilidades, para, em 1979, deixar o Brasil. Afinal, aqui já atingiu o ponto mais alto de sua carreira - seja na Sinfônica, seja como concertista, trabalhando em duo com o irmão, Henrique.
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Jair Vicente Mendes, pintor e diretor do Museu Guido Viaro, homem de diálogo amplo e muitos amigos - e que tem conseguido movimentar aquela unidade da FCC, está tentando concretizar um velho sonho: reunir os artistas plásticos numa associação de classe. Há mais de 15 anos, nos velhos bons tempos em que a Cocaco, na Rua Ermelino de Leão, era o centro de reunião dos artistas nos fins de tarde, se tentou fazer algo parecido. Mas a briga começou a partir do nome que a instituição deveria ter. Agora, acreditando que o pessoal das artes plásticas/visuais da terra está mais adulto e profissionalizado, Jair faz nova tentativa. A propósito, ele está coordenando as doações dos quadros para o leilão em benefício da Associação Paranaense de Reabilitação. Antes do leilão, que será em outubro, os trabalhos estarão a mostra no Museu Guido Viaro. Haverá um luxuoso catálogo e 35% sobre o valor que a obra for arrematada será do artista. Assim a doação não é tão doida assim.
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A violonista Maria Livia São Marcos exigiu que o administrador do auditório Salvador de Ferrante, o figurinista Luís Afonso Burigo, trancasse as portas da sala durante o seu concerto. Só no intervalo entre uma e outra música é que os retardatários foram admitidos. Assim mesmo, por duas vezes, a violonista esperou, ironicamente, que todos se acomodassem antes de iniciar os difíceis números. Apesar do pesado programa, foi um dos concertos mais importantes do ano.
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A propósito: os artistas eruditos que se apresentem em Curitiba, no inverno, já estão sendo avisados de que por mais educado que seja o público, sempre haverá irremediáveis espirros e tosses. O que fez com que Aristides Athayde, ex-presidente da Pró-Música e habituê de todos os recitais, comentasse: "Vou sugerir ao meu amigo Arthur Moreira Lima incluir em seu próximo recital uma peça intitulada "Um minuto para a tosse".
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O Clube dos 21 Irmãos Amigos também fala em gripe. No último comunicado, o bem humorado presidente Sérgio Chaves Silveira da Mota, em linguagem descontraída, começa dizendo: "Agosto, final de inverno. Gripe, e que gripe! Nossos votos de pronto restabelecimento a todos os Irmãos Amigos que, como nós, estão gripados". O clube voltou a reunir-se na noite de terça-feira, quando o orador foi o coronel, professor e escritor Waldyr Jansen de Mello, o homem que coleciona títulos de cidadania honorária, medalhas e distinções. E foram admitidos cinco novos "Irmãos Amigos" no clube: desembargador Ariel Ferreira do Amaral e Silva, pela Paraíba; Coriolando Caldas Silveira da Mota, pelo Paraná; Sylla Fernandes Lima, por Goiás; coronel Sydney Lima Santos, pelo Rio de Janeiro e Átila Vieira Lemos, pelo Rio de Janeiro.
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Os temas ligados ao fantástico, exorcismo, possessões diabólicas, etc., tornaram-se tão comerciais que pouca gente dá atenção aos novos títulos a respeito. Mas "Visões de Dean Koontz (Livraria Francisco Alves Editora, 244 páginas, Cr$ 120,00), que esta semana foi lançado no Brasil, assume uma forma mais equilibrada por saber o autor intercalar os momentos de amor, suspense e horror. "Visões", best-seller em 77 nos EUA, narra a história de Mary Bergen que, aos 6 anos, foi torturada, ficando durante um período entre a vida e a morte. Esta fase tornou-a diferente, deixou-lhe marcas e poderes sobrenaturais. Um conhecido repórter policial, acostumado a violência, comentou: "Se isso acontecesse com todos que passam pela DFDG teríamos centenas de visionários em Curitiba".
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O Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra tem novo "maitrê": é o carioca Eric Waldo, 40 anos, 28 de dança, bailarino do municipal do Rio de Janeiro entre 1952/69, longo curriculum artístico. Aliás, o Corpo de Baile da FTG, que vem apresentando "Gisele" já há mais de um ano, em várias cidades (quarta feira foi levada a Castro) ganhou uma citação elogiosa no número de maio da revista "Dance News", editada em Nova Iorque.
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Quem assistiu, assistiu. Quem não foi, perdeu a (rara) oportunidade de conhecer, em primeira audição no Brasil, o som perfeito, novo, inquieto e criativo de uma dupla de excelentes artistas argentinos: Litto Nebia, 30 anos e sua esposa, Mirtha Defilpo, cantora e poeta. Há duas semanas no Brasil, a caminho do México e Los Angeles, Litto e Mirtha fizeram duas únicas apresentações no Teatro do Paiol (quarta e quinta feira), mostrando apenas com piano, violão e voz, um pouco de sua obra imensa - mais de 300 composições, 45 elepês gravados incluindo trilhas sonoras de vários filmes. Mirtha, uma morena alta, lembrando - física e vocalmente - a Flora Purim, faz poesias-letras das mais sensíveis. Litto é uma espécie de bruxo mágico nos teclados e na guitarra, além de harmonizar, vocalmente, na melhor linha de um Sivuca ou Milton Nascimento - compositores-intérpretes que, aliás, admira muito. Amanhã, o casal viaja para São Paulo, onde deverá fazer algumas apresentações paralelas ao 1º Festival Internacional do Jazz. Depois Rio, México e Estados Unidos. Não se surpreendam se, dentro de algum tempo, forem notícia em "Down Beat" e "Stereo Review", como revelações vindas da América do Sul. Talento para tanto não falta.
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Maurício Tapajós, arquiteto que está trocando, definitivamente, as pranchetas pelos acordes musicais, na cidade, desde quarta-feira: veio cuidar do show "Transversal do Tempo" (teatro Guaíra, hoje a domingo, 21 horas) com ELIS Regina & César Camargo Mariano & Cia. Aldir Blanc, que dividiu com Tapajós, a direção do espetáculo, não pode acompanhá-lo - + - Um curioso livro de referência lançado ontem, ao entardecer, pela Secretaria da Saúde e do Bem Estar Social: "Diagnóstico das Entidades Sociais do Paraná - + - Hoje à noite, um filme inédito de Dino Risi, que merece ser visto. Amanhã, "Trágica Obsessão" de Brian De Palma. No Plaza, ao que consta, foram canceladas as sessões de arte, aos sábados.
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