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Aramis

Depois do Perfume, a Pomba de Suskind

Não é sem razão que Alfredo Machado conseguiu transformar em poucos anos uma modesta editora na maior casa publicadora do Brasil: a Record. Líder da indústria editorial, com uma visão notável para a escolha de best-sellers, o chamado "Alfredão" consegue emplacar, simultaneamente, vários títulos entre os mais vendidos e fazer do mais desconhecido escritor de hoje um nome famoso no mês seguinte. A nova prova de marketing editorial da Record está sendo dada nesta semana, com o trabalho prévio do lançamento do novo romance do escritor Patrick Suskind, bávaro de Ausbach, 29 anos, e que depois de "O Perfume" tem o seu novo livro - "A Pomba" - lançado com tiragem impressionante de 100 mil exemplares. Um verdadeiro kit promocional de Suskind está sendo distribuído - com biografia, xerox de publicações internacionais que registraram o livro (e entrevistas com o autor) e até um capítulo, também em xerox, para possibilitar aos jornalistas uma visão do estilo de Suskind. "O Perfume" teve várias edições esgotadas em 17 países nos quais, até agora, foi editado e a fórmula pretende ser repetida com "A Pomba", definido como "uma história filosófica". No Brasil, "O Perfume" com sua ação ambientada na Paris do século passado e seu fascinante personagem Jean Baptiste Grenouille, lançado no final de 1986, continua entre as listas dos best-sellers. Agora, a fórmula tentará ser repetida com "A Pomba", que pode ser definida como uma parábola do medo, da insegurança e do vazio. Um caos microscópico que convulsionara durante 24 horas a vida de Jonathan Noel, um cinqüentão que não acredita que nada mais lhe possa acontecer a não ser a morte. Trabalha há 30 anos como guarda de segurança em um banco de Paris, e já se confunde com as peças do mobiliário. Leva uma vida apagada, sem sustos ou questionamentos. Não tem amigos. Vive humildemente num pequeno quarto que é o seu refúgio contra o passado e, as tristes lembranças. Sente-se feliz assim, afastado dos outros humanos nos quais não deve confiar. Até que numa manhã de 1980, ao abrir a porta para sair, ele a viu: "estava agachada com os pés vermelhos e angulados, com a lisa plumagem cinza-chumbo". E do encontro com a pomba, convulsiona-se o mundo de Jonathan ao longo de 24 horas. Seu medo irracional ao olho redondo e desnudo, inquisidor, aterradoramente fixo e imóvel de uma pomba. Como aconteceu com "O Perfume" - acusado de ter sido escrito a partir de um ensaio de Alain Corbin ("La Miasms et lá Konquille"), também "A Pomba" teria sido "chupado" em sua idéia básica de outro texto, de Javier Tomeo, que em 1984 teve seu livro "Amado Monstro" (editado no Brasil, pela Brasiliense, 120 páginas) desclassificado no II Prêmio Heralde de Novele. André Ervilha, em comentário no jornal "O Globo", aponta várias coincidências entre as duas obras, mais isto não deverá impedir "A Pomba" de voar para o primeiro lugar nas listas dos mais vendidos nas próximas semanas. LEGENDA FOTO - Suskind: ora, Pombas!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/08/1987

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