A orquestra e as tosses
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de agosto de 1987
Irônico em sua sapiência de música clássica, o engenheiro Eduardo Garcez Duarte, 57 anos, ex-presidente da Pró-Música, aproveitava o intervalo no concerto da Orquestra de Câmara da Rádio e TV Polonesa, segunda-feira, à noite, para indagar a todos que encontrava:
- "Que tal, gostaram do "Concerto Brandenburguês nº 3?"
Se a resposta fosse afirmativa, Garcez não escondia um sorriso crítico, para informar:
- "A abertura do concerto foi com uma "Fantasia" de Mozart..."
A peça de Bach foi substituída na programação oficial, distribuída no hall da entrada e como nem todos tem cultura e o conhecimento de Eduardo Garcez Duarte, ouvira Mozart como se fosse Bach...
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Desta vez, não houve aplausos nos momentos inconvenientes. Prova de que o público que pagou Cz$ 400,00 para conhecer a Orquestra de Câmara da Rádio e TV Polonesa sabe diferenciar um movimento do final de uma obra. Em compensação, a cada intervalo de movimento, ouvia-se uma sinfonia de tosses - prova de que o Inverno antecipou-se da obra de Vivaldi e deu aos curitibanos uma contribuição extra; suficiente para inspirar um compositor de vanguarda a criar uma obra em que as tosses do público possam fazer parte da estrutura harmônica.
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