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Amélia, mulher otimista, quer salvar a Pró Música

Com muitas idéias na cabeça, otimismo apesar dos tempos bicudos e a experiência do que observou em seus 12 anos de vivência na República Federal da Alemanha, Maria Amélia Junjenge assumiu a Presidência da Pró-Música. Assumiu sabendo que não há saldo em caixa, que existem apenas 102 sócios que pagam Cz$ 200,00 por mês e que a época das vacas gordas em que os grandes nomes da música erudita - e até orquestras - vinham ao Brasil subsidiadas por seus países já passou. Mulher inteligente, não se ilude - ao contrário de alguns deslumbrados (até em cargos executivos) de que a Lei Sarney represente solução para todos os problemas culturais. Sabe que a corrida ao mecenato privado é grande e que só os projetos que interessem aos empresários - significando um bom retorno promocional -, serão aprovados. Assim mesmo, Maria Amélia diz, confiante, que, se a sua eleição foi por aclamação, pois quando a pianista Maria Leonor Oliveira Mello Macedo anunciou que, em hipótese alguma, continuaria na presidência, não apareceram outros candidatos à difícil função, "no futuro, quando eu terminar minha gestão, é possível que haja até duas chapas, pois espero que a situação seja estimulante a uma competição". xxx Fundada há 25 anos, a Pró-Música de Curitiba tem sobrevivido graças ao idealismo de um grupo de pessoas apaixonadas pela música clássica. Embora sejam muitos os nomes a serem lembrados, num registro jornalístico, sem pesquisa maior, alguns não podem ser esquecidos: o advogado Aristides Severo Athayde (primeiro presidente), a pianista Henriqueta e o seu marido, Eduardo Garcez Duarte; o padre José Penalva, o casal Hélio e Clotilde Germiniane, o compositor Henrique Morozowicz, o milionário Raul Reinhard, entre outros que, ao longo destas duas décadas e meia, empenharam-se para que a PMC não encerrasse suas atividades. Afinal, a Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê, fundada nos anos 40 e que teve uma importância básica na vida cultural curitibana, acabou sendo dissolvida pelo esvaziamento do corpo associativo e falta de pessoas dispostas a se empenhar em sua direção - numa crise que praticamente intensificou-se após o seu fundador, o professor Fernando Correa Azevedo, ter se transferido para o Rio de Janeiro, onde viria a falecer. Hoje, a Scabi é apenas o nome de uma sala de espetáculos no Solar do Barão, assim mesmo porque o seu único patrimônio, um piano, foi doado à Fundação Cultural. Mas sua contribuição por mais de 4 décadas à vida cultural paranaense foi levantada pela professora e pesquisadora Marisa Mendes Sampaio. xxx Interessante seria fazer uma interpretação do idealismo, crises e declínios que sofrem instituições culturais como a Scabi e Pró-Música, que nascendo do entusiasmo de pessoas que se dedicam à cultura à boa música, oferecem o melhor de si - , em esforços pessoais, relacionamentos, competência -, sem nada receber em troca, ao contrário, muitas vezes sofrendo pesados prejuízos e mesmo incompreensões. Comparando-se ao que estas sociedades trouxeram a Curitiba, em bons espetáculos, supera imensamente as onerosas promoções (ditas) culturais dos órgãos oficiais, que só com suas imensas folhas de pagamento, mordomias, manutenções de (muitaz vezes dispensáveis) sedes, comprometem mensalmente o que instituições privadas necessitariam para suas programações anuais. Parece incrível, mas a proporção que o Estado passa a interferir na vida cultural - seja com uma Fundação Cultural -, as despesas multiplicam-se, os resultados são discutíveis e aquilo que acontecia, no passado, de forma espontânea, como resultado da própria comunidade, vai esmorecendo. xxx A Pró-Música de Curitiba pode se orgulhar de muito do que realizou em seus 25 anos - e é lamentável que seu arquivo tenha sido destruído, pois assim tornou-se impossível um levantamento completo de todos os concertos por ela promovidos. Mas deve-se à Pró-Música a realização dos Festivais e Cursos Internacionais de Música, que em 8 edições, faziam de Curitiba, em janeiro, um centro cultural nacional. Aquilo que os governadores Ney Braga e Paulo Pimentel souberam prestigiar e estimular - e ao qual a Pró-Música dava o necessário apoio técnico, com a competência de seus diretores -, foi destruído pela ignorância e politicagem das administrações seguintes. Assim, se o Festival de Inverno de Petrópolis já passou dos 30 anos e o de Campos do Jordão é realizado desde 1965, consolidando-se através da continuidade, Curitiba perdeu, há muito tempo, o seu grande evento de música erudita - que, hoje seria contemporânea, aberto a novas escolas e tendências. O Festival de Música de Londrina, idealizado pelo flautista e maestro Norton Morozowicz (depois imerecidamente esquecido e afastado da promoção, na ingratidão que é tão comum no Paraná), tenta sobreviver, embora diminuindo cada vez mais, cortando eventos paralelos e improvisando soluções. Mas sobrevive, ao menos, há alguns anos - o que, em nossa indigência cultural já é alguma coisa. xxx Esposa de um executivo do Banco do Brasil, Arnold Jujenger, que durante 12 anos foi gerente das agências do BB em Frankfurt e Hamburgo, Maria Amélia freqüentou cursos de política e filosofia em universidades alemãs, aprimorou seus conhecimentos na área musical e, sobretudo, entendeu a importância da comunidade se integrar na vida cultural. Só que o exemplo alemão, embora belo, não pode ser tomado como modelo para o Brasil e a realidade aqui é diferente. Estusiasmo e dedicação não falta a Maria Amélia e seus companheiros de diretoria, num total de 70 pessoas - entre os que realmente trabalham já pela Pró-Música, e muitos, incluídos agora por razões políticas, decorativos mas que, bem ou mal, podem ajudar a sociedade a não morrer. E como primeira promoção, haverá o concerto do Quarteto de Cordas Takacs, da Hungria, formado pro Gabor Takacs, Karoly Schranz (violinos), Gabor Ormai (viola) e Andras Fojer (violoncelo), na próxima terça-feira, 18 (21 horas, auditório da Reitoria). Desconhecido no Brasil, o Takcs é apresentado como "do mesmo nível internacional de dois outros notáveis quartetos contemporâneos, o Melos, de Salzburgo e o Quarteto de Tóquio".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
15/05/1987

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