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DePortinari, mostra para ficar na história

Em poucas palavras, Jair Mendes, artista plástico e diretor do Museu Guido Viaro, traduziu o que todos entenderam: - Em 40 anos, esta é, sem dúvida, a mostra mais importante já realizada no Paraná. Mendes referia-se à reunião de 18 quadros de Candido Portinari (1903-1962), numa exposição única, funcionando desde ontem no espaço cultural do Clube Curitibano, onde permanecerá até 12 de outubro. Já falou com toda razão. Nunca houve, em Curitiba, exposição tão significativa como essa que agora acontece graças aos esforços de pessoas e entidades, e [ao] apoio de uma instituição financeira sensível aos eventos culturais. xxx O critico Ralph Camargo, autor de um dos melhores livros sobre Portinari, surpreendeu-se quando o pintor Domício Pedroso, coordenador técnico da exposição de Portinari em Curitiba, informou-o que 18 das mais famosas obras do mestre de Brodosqui aqui estariam reunidos. - Isso é fantástico. Nunca aconteceu nada igual. A última exposição de Portinari - assim mesmo bem mais reduzida - ocorreu em Brasília, em 1979. Realmente, trazer obras monumentais como o impressionante tríptico "Retirantes" (192x184 cm ), "Enterro na Rede" (180x220 cm) e "Ciranda Morta" (176x190 cm) , produzidos em 1944 e pertencentes ao acervo do Museu de Arte de São Paulo, junto a quadros da série Bíblica "O Lavrador do Café ", "São Francisco" e retratos de algumas pessoas - entre as quais José Cândido de Andrade Murici - representou um esforço especial dos idealizadores dessa exposição. No total são 18 quadros, de diferentes tamanhos. Faltaram apenas dois inicialmente previstos: duas telas de 126x404cm, pertencentes ao acervo do Banco Bamerindus, hoje decorando a sala da presidência, da organização, na sede da Rua Comendador Araújo. Devido ao tamanho das telas, elas exigiram complicada operação para ser retiradas do local - o que impossibilitou sua inclusão na mostra que se realiza no Curitibano. xxx Um evento como essa mostra de Portinari - sem maiores discussões, o mais importante artista plástico do Brasil - confirma como é importante a presença em cargos executivos de pessoas de gabarito cultural. Filho de Guido Viaro, uma das glórias da pintura no Paraná e ex-diretor administrativo da Fundação Cultural de Curitiba, o advogado Constantino Viaro, 47 anos, levou para a presidência do Curitibano a disposição de fazer com que o tradicional clube resgate sua presença no universo cultural paranaense. Afinal, quando o Curitiba foi fundado, há 104 anos, inexistia qualquer instituição cultural no Paraná e foi nessa sociedade que, por décadas, aconteceram os grandes eventos artísticos-literários-culturais. É estimulante saber que instituições distantes do oficialismo e da política podem - e devem - realizar aquilo que o Estado não faz. O professor Pietro Maria Bardi, diretor do MASP, não só acreditou na seriedade do projeto que lhe foi levado pela diretoria do Curitibano, como fez questão de apoiar a iniciativa. E a participação do Bamerindus, investindo cerca de Cr$ 50 milhões na realização (Cr$ 27 milhões só para cobertura do seguro de Cr$ 2,7 bilhões dos quadros) foi decisiva para realizar-se a exposição. xxx A partir de hoje, o espaço cultural do Clube Curitibano estará aberto a todos os que queiram conhecer algumas obras-primas de Candido Portinari. São quadros notáveis, impressionantes. Entre eles o "Tríptico dos Retirantes" - o mais pungente retrato da fome no Nordeste e o trabalho social de maior impacto de Portinari. Sobre essa obra, Bardi, no texto do catálogo da exposição, conta: "Visitando e conversando com Candinho apreendia seu esp;irito de dedicação e consideração para com os menos favorecidos, seu desgosto ao saber dos sofrimentos, das pessoas "esfrangalhadas", das coisas "frágeis e pobres", um ânimo altruista de constante vibração. Um dia me mostrou o "Tríptico", que estava escondido atrás de um grupo de telas, e me narrou patéticos episódios, dando-me um panorama da vida do campo: - "Quis lembrar. Pode ver a dor me dominando...", concluia ele com gestos de perplexa e desconsolada tristeza, movendo a cabeça, como que para me perguntar: - Mas é justo. Intervi: - Quero adquirir estas três pinturas. Portinari me perguntou a respeito da composição da ainda não anunciada pinacoteca do museu, evidentemente para saber se a representação das cenas do "Tríptico ", uma denúncia mais do que ilustração, não representariam um caso insólito. Expliquei ao mestre que a Pinacoteca devia ser o reflexo de tudo que os autores produziam. Combinamos a compra. Não me lembro bem quanto valia em contos de réis. Pedi ao Candinho se poderia pagar vinte contos, dois contos a cada mês. E ficamos acertados. Tive ocasião, quando o "Tríptico" foi exposto, de saber de certa censura, não contra a arte de Generoso, mas contra sua vocação política".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
20
26/09/1985

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