Domício, retrato do artista quando sério
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de abril de 1986
Dentro do universo artístico de Curitiba, Domício Pedroso poderia ser apresentado de várias formas. Animador cultural, executivo do escritório local da Funarte, coordenador de alguns dos melhores eventos artísticos aqui realizados e, naturalmente, pintor. Mas tem mais: em sua simplicidade e modéstia - características das pessoas realmente de valor - Domício é o nosso maior experto em planejamento e montagem de exposições. Pelo menos metade de sua vida profissional tem sido dedicada a organizar e fazer exposições do maior gabarito. Como poucos outros profissionais no Brasil, Domício sabe da importância da distribuição dos painéis, onde colocar uma determinada peça, como obter a melhor iluminação. Sabe também planificar o evento, supervisionar o catálogo (são grandes também seus conhecimentos na área gráfica), a forma de motivar a freqüência de platéias específicas e obter o máximo rendimento de uma exposição.
Por estas e outras virtudes, Domício - sempre com ajuda e entusiasmo de sua Leila, mais do que esposa, uma legítima parceira de ideais artísticos - fez com que durante uma década o hall do Banco de Desenvolvimento do Paraná abrigasse as mais importantes exposições aqui realizadas. Distribuídas por temas, escolas, acontecimentos, as mostras que tiveram lugar naquele amplo espaço foram das mais significativas e mostraram como uma organização pode, sem maiores despesas, contribuir culturalmente no Estado e na cidade.
Com a tempestade que caiu no Paraná a 15 de novembro de 1983, as atividades culturais do Badep também foram suspensas. Embora não sendo político, Domício foi prejudicado pelos ódios peemedebistas e quem perdeu foi a cidade: nada mais de importante aconteceu no hall do Badep, um entre tantos espaços culturais desperdiçados neste Estado, vítima da incompetência e rancor dos eventuais donos do poder.
Domício, entretanto, não parou. Paralelamente a atividade em outros setores (inclusive no escritório da Funarte) voltou-se à produção de seus óleos, retomando uma linha que caracteriza sua obra: as favelas estilizadas cromaticamente. Afinal, o domínio das cores, as noções estéticas e uma forte criatividade sempre marcaram seus trabalhos, ele que estudou em Paris no início dos anos 60 - época em que dividia apartamento com outro talento paranaense, o irreverente Fernando Velloso.
De Paris, Domício trouxe além dos ensinamentos em pintura também o diploma do Centre Audio Visuel de Saint Cloud, como primeiro brasileiro a especializar-se numa técnica de comunicação visual que, até então, era praticamente desconhecido no Brasil.
Agora, quebrando um jejum de muitos anos - em que seus quadros estiveram apenas em coletivas e mostras especiais - Domício faz uma individual (galeria Casabrannka). Uma exposição da maior importância de um dos artistas paranaenses, da geração que na década de 60 renovou nosso mundo plástico e que merece o conceito que possui.
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