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Aramis

A longa viagem de Paris a Guaratuba

Rue de Constantinople, 24, 1 andar, bairro de Gare Salazar. Durante mais de quatro anos este endereço representava o abre-te Sezano de Paris para centenas de paranaenses que chegavam a Cidade Luz, sem maiores referências. Era o endereço do apartamento-studio, dividido pelos pintores Domicio Pedroso e Fernando Velloso, entre 1958/62, quando foram estudar na França. Jovens, estusiasmados com a Europa, Fernando e Domicio, recebiam amigos, conhecidos - e muitos apenas que eram recomendados por outros amigos de amigos, numa boa vontade que hoje dificilmente se encontra em terras estranhas. De Pedro Viriato Parigot de Sousa - que chegaria a governador do Paraná - ao jovem Karlos Rischbitter, então noivo de Francette Garfunkel, o estudante de arquitetura Jaime Lerner e muitos, muitos outros, passaram pelo apartamento de Fernando e Domicio, que com suas esposas e filhas - Cristina, então com 2 anos (hoje poeta, oficial-de-gabinete da Secretaria da Cultura) e Elenora - ali viveram um período marcante de suas vidas. xxx Uma amizade que só cresceu com o tempo. Agora, Fernando Velloso, dono de uma das mais sofisticadas galerias da cidade - a Contemporânea (Rua Golçalves Dias, 164, Batel), expõe as "Marinhas & Favelas" de Domicio, telas de cores marcantes, tamanhos diversos e que mostram um artista seguro. Grande parte dos trabalhos - em exposição desde o dia 14 de maio (apesar da chuva que caía naquela noite, mais de 300 amigos foram levar o abraço a Domicio) - já estão reservados, pois Domicio é um artista valorizado. Com 29 anos de atividades profissionais - (em 1958, fez sua primeira individual na Biblioteca Pública ), dezenas de esposições, muitas premiações, Domicio não estudou apenas pintura em Paris. Foi o primeiro paranaense a se interessar por artes gráficas e sua aplicação em exposições, sendo hoje um experte. Foi também o primeiro brasileiro a obter um diploma em Comunicação Visual no Centro Audio-Visual de Saint Cloud, título de validade internacional, homologado pela Unesco. xxx Na exposição (que permanecerá aberta até o dia 5 de junho), Domicio concentra duas temáticas que sempre o fascinaram: as favelas e as marinhas. Desde que, pela primeira vez, visitando o Rio de Janeiro, subiu no morro do Cabrito à procura de um amigo de rodas-de-samba, Domicio sentiu o lado pictórico das favelas, que ao lado de seus problemas sociais oferece também um exemplo de integração comunitária. - "Nunca vivi numa favela, mas sinto-as com uma grande intensidade." Já as marinhas fazem parte de sua vida. Filho de um dos primeiros curitibanos a freqüentar regularmente Guaratuba, o saudoso Simeão Mafra Pedroso (1899-1983), descendente inclusive de uma família de pescadores, Domicio e seu irmão, Renato, cresceram na Guaratuba dos anos 40, quando eram poucas as famílias que ali chegavam para passar as temporadas de férias - pois o caminho era difícil e levava-se mais de um dia para se chegar até a antiga vila. Das memórias de infância ficaram imagens que, hoje, na maturidade de seus 50 anos, Domicio coloca em cores de mágica beleza - e que fazem o encanto de quem sabe apreciar os bons trabalhos plásticos. Não é sem razão que seus trabalhos tem sido procurados por colecionadores de vários estados e mesmo estrangeiros, de refinado conhecimento, também tem sabido valorizar suas telas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
30/05/1987

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