De como o português usa bem o seu lazer
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de maio de 1987
A passagem de dois executivos do Instituto Nacional para Aproveitamento do Tempo Livre dos Trabalhadores, de Portugal, por Curitiba, na semana passada, teve um resultado prático: a Criart - Associação Promotora de Atividades Artísticas, dirigida pela médica Marília Bernardes, já está representando esta instituição oficial do governo português e organizando o primeiro grupo de 45 brasileiros que passará duas semanas em Portugal, com passagens, hospedagens e programação de visitas, ao preço total de US$ 900 dólares. O que, convenhamos, é bastante atraente nesta época em que uma viagem à Europa custa quase o dobro só no transporte aéreo.
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Criado em 1936, o Instituto Nacional para Aproveitamento do Tempo Livre dos Trabalhadores opera em várias frentes com uma finalidade básica: possibilitar que os portugueses possam usufruir bem as suas férias. Carlos Alberto Pereira de Campos Cardoso, 49 anos, diretor executivo do Inatel, fala, com satisfação de que através de onze centros de férias espalhados por todo o país, do Algarve ao Minho - e também na paradisíaca Ilha da Madeira, são oferecidos mais de 3 mil leitos para ocupação, durante todo o ano, pelas famílias assossiadas. O governo - através do Instituto subvenciona 30% do custo, já reduzido, "pois o Inatel não pode, estatutariamente, ter lucros". A legislação trabalhista garante também a todos os trabalhadores o pagamento de férias em dobro, "o que somado ao 13º mês , faz com que tenhamos 14 salários por ano - contra onze meses de trabalho", explica Carlos Campos Cardoso.
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Afora a programação do lazer interno, o Inatel tem um ativíssimo projeto de turismo externo, através de convênios com vários países aos quais se acrescenta agora o Brasil. José Trindade da Silva, 53 anos, diretor do Departamento de Turismo, afirma que só em 1986, foram 40 mil portugueses que se beneficiaram do programa, viajando em suas férias para a Romênia, Checoslováquia, Hungria, Canadá, Argélia, Itália, França, Espanha, Bélgica e, agora, também o Brasil. "Para uma população de 10 milhões de habitantes, este número é significativo e tende a crescer", explica Trindade - que na semana passada manteve contatos demorados com o secretário Glauco Souza Lobo, da pasta municipal de Turismo - e que no ano passado visitou Portugal.
A operacionalidade dos convênios que posssibilitará que os brasileiros beneficiem-se de toda infra-estrutura do Inatel, em Portugal e na Ilha da Madeira, será coordenado pela Criart, uma entidade também sem fins licrativos e fundada pela médica Marília Bernardes, que há quatro anos já promove, no Brasil, a escolha da criança que representa o nosso país na Gala Internacional de Pequenos Cantores, em Figueira da Foz.
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Um jovem instrumentista curitibano, Wellington Bettes, executante de guitarra portuguesa, foi o primeiro beneficiado com o convênio estabelecido entre a Criart e o Inatel. Já se encontra em Portugal, há meses, freqüentando aulas com um dos mais famosos guitarristas daquele país, Antonio Cahinho. Em Curitiba, Bettes lidera um grupo de música portuguesa, que tem como cantora a bela Isabel Maria de Sousa, e que se apresenta, até a sua viagem, no Alpendre, restaurante português do casal Maria Eugênia-Pedro Andrade. Tão logo volte a Curitiba, o grupo será reestruturado para fazer shows de fados, não só no Alpendre, mas também em espaços culturais da cidade.
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