Dom Pedro, 50 anos num mesmo endereço
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de julho de 1989
Em fevereiro do próximo ano, Dom Pedro Fedalto vai comemorar, intimamente, com direito a um vinho da melhor cepa, uma data muito especial: os 50 anos de residência no Palácio Episcopal. Pois foi exatamente na manhã de 2 de fevereiro de 1940, que o seu pai, Jacó, acompanhado pelo professor Luís, da colônia de Antônio Rebouças, o trouxeram ao seminário que funcionava já no casarão da Avenida Jaime Reis.
Ali o menino Pedro, nascido no interior de Campo Largo (11 de agosto de 1926) permaneceria por onze anos, fazendo os estudos religiosos e só para cursar teologia superior é que, em meados de 1951, foi para o Instituto Superior de Estudos Teológicos Ipiranga, em São Paulo. Ordenado em 6 de dezembro de 1953, seria designado para serviços na sede do arcebispado, então ocupado por Dom Manoel da Silveira Delboux.
Funções que exerceria por 17 anos, em cargos diferentes, mas sem jamais deixar aquele espaço. Também sem nunca ter deixado Curitiba - e especificamente, morado em qualquer outro lugar que não a residência episcopal - teve sua ascensão na Igreja e chegou ao cargo máximo, ao ser elevado pelo papa Paulo VI a Arcebispo em 28 de fevereiro de 1971.
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A coincidência de nunca ter deixado o mesmo endereço episcopal - a não ser o relativamente curto período que passou em São Paulo - foi lembrado por Dom Pedro Fedalto ao longo de um depoimento sincero, com toques didáticos sobre a Igreja no Paraná e não faltou inclusive uma certa dose de bom humor, gravado para o projeto Memória Histórica do Paraná, patrocinado pelo Bamerindus.
Nos 97 anos da Diocese de Curitiba, Dom Pedro é o sexto ocupante do cargo máximo - e o quarto arcebispo. Em quase um século - a diocese foi constituída em 1892, época em que abrangia também Santa Catarina - Dom Pedro é também o primeiro paranaense a chegar a esta função, "o que é algo muito raro na hierarquia religiosa, pois os bispos e, especialmente, arcebispos, são sempre de outros Estados".
Embora criada em 1892, o primeiro bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros, só assumiu a diocese dois anos depois. Havia pouquíssimos padres no Paraná e Santa Catarina e nenhuma religiosa, o que levou Dom José a estimular a vinda de padres estrangeiros, que se integraram junto as diferentes etnias. "Ele também preocupou-se pela evangelização através das escolas, nascendo inclusive muitos estabelecimentos religiosos", lembrou Dom Pedro - citando que em 1896 chegavam as primeiras religiosas e, em 1902, as irmãs que fundariam os colégios até hoje existentes. O primeiro Bispo criaria também um jornal religioso, "A Estrela".
O segundo bispo que veio para Curitiba, Dom Duarte Leopoldo Silva ficou apenas 28 meses.
- "A razão é que ele não gostava de estrangeiros, era muito nacionalista. E o clero, na época, era constituído basicamente por padres estrangeiros, assim como os imigrantes, formavam uma parte expressiva da população de Curitiba ainda reduzida", explica Dom Pedro.
Já o terceiro bispo, o pelotense Dom Francisco Braga, aqui ficaria até 1934. Filho de uma família riquíssima, educado na Europa, falando várias línguas, havia sido bispo em Petrópolis e quando aquela diocese acabou foi designado para o Paraná.
- "Era necessário um bispo diplomata", reconhece Dom Pedro. "E Dom Braga o foi".
Com seus recursos, ajudou a construir não só o palácio episcopal na Avenida Jaime Reis como vários colégios particulares. Logo que aqui chegou houve a separação das províncias eclesiásticas do Paraná e Santa Catarina e em sua administração religiosa foram criadas as dioceses de Ponta Grossa, Jacarezinho e a prelazia de Foz do Iguaçu. Em 1926, com a elevação de Curitiba a Arquidiocese, tornou-se o primeiro arcebispo. Um bispo baiano, Dom Ático Eusébio da Rocha, o substituiria em 1936, por um período de 14 anos. Finalmente viria Dom Manoel da Silveira Delboux, paulista de Itu, que aqui chegou em 1950 - o Ano Santo - e permaneceria até a sua morte, em 1970. Em 28 de fevereiro de 1971, Dom Pedro Fedalto, que foi seu secretário particular, viria substituí-lo.
Hoje, os bispos e arcebispos também são atingidos pela compulsória.
Aos 75 anos, há uma aposentadoria obrigatória. Dom Pedro, aos 67 anos, entretanto, ainda tem um longo período pela frente. Embora filho de italianos, campo-larguense - mostra-se mineiro quando lhe indagam a respeito sobre seu sucessor - já que ele foi quem substituiu a Dom Manoel:
- "Não há qualquer possibilidade de fazer previsões sobre a sucessão na Igreja, nem mesmo em relação a ascensão às funções de bispo - que acontecem dentro de um lento processo de informações secretíssimas dentro da própria Igreja, na qual se cruzam milhares de informações".
LEGENDA FOTO - Arcebispo Dom Pedro Fedalto: 50 anos com o mesmo endereço.
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