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Aramis

Os 80 anos do padre Gustavo

Como faz há 30 anos, domingo pela manhã o padre Gustavo Pereira Filho oficiou sua tradicional missa na Igreja do Rosário. Para aqueles que poderia chamar até de fiéis cativos - mais do que católicos que, se habituaram a ouvir seus sermões lúcidos e inteligentes, amigos de muitos anos - o padre Gustavo demorou-se neste último domingo a pregar sobre uma efeméride que muito toca: o início do ano inaciano, que começou na última quinta-feira, 27 de setembro, comemorativo aos 450 anos de fundação da Companhia de Jesus, a 31 de julho de 1991, e os 500 anos do nascimento de seu fundador, Santo Inácio de Loyola (Azpeitia ? - 1490 Roma, 1556). Há algumas semanas, Dom Pedro Fedalto, arcebispo Metropolitano, convocou padre Gustavo para coordenar no Paraná a programação alusiva a esta efeméride, com palestras, exposições, congressos e mesmo uma maior divulgação em torno dos jesuítas e sua ordem e ação no Brasil e no mundo. O padre Gustavo não é o único jesuíta no Paraná - aqui espalham-se cerca de 50 dos 551 que estão no Brasil (em todo o mundo, são 25 mil), mas é, com certeza, um dos religiosos mais conhecidos, populares e estimados da província religiosa do Brasil Setentrional. E dentro de dez dias, uma efeméride, pessoal, do próprio padre Gustavo, o tornará, mesmo contra sua vontade - (mas imposto pelos milhares de amigos e muitos discípulos) - centro de solenidades religiosas e um democrático jantar de confraternização: seus 80 anos de idade, a transcorrer a 12 de outubro. Gaúcho de Santa Maria, filho de uma família classe média, o pai Gustavo era maçom e a mãe, Maria, católica devota - o menino Gustavo após os primeiros estudos em sua cidade natal foi para Porto Alegre, onde se formaria em 20 de setembro de 1935 em medicina. Tendo professores ilustres como Raul Pila e contemporâneo de Brizola, quando este já exercia liderança no meio universitário ("nunca chegamos, entretanto, a freqüentar as mesmas assembléias", recorda), Gustavo sempre teve uma "vocação interna" para a religião o que levaria, após anos de reflexão a ingressar no noviciado da ordem Jesuíta. Mas a medicina não foi abandonada (de sua turma de 42, restam vivos ainda 15, muitos dos quais deverão vir a Curitiba para sua festa dos 80 anos) pois por 11 anos trabalhou na pediatria da Casa de Saúde São Vicante de Paula. Quando ainda estudante de medicina, durante a Revolução de 1930, já havia atuado em unidade médica junto ao 5º Regimento Militar, em Santa Maria. Ordenado sacerdote em 30 de novembro de 1953, na Catedral de Porto Alegre - e para cuja solenidade fez questão que um dos amigos que mais o influenciou, D. Luís Sartori, então recém-nomeado bispo de Montes Claros (MG) fosse o religioso sagrante - o padre Gustavo teria em Pelotas, como sua primeira missão religiosa, um trabalho junto aos circuitos operários. Em depoimento gravado para o projeto Memória Histórica do Paraná, recordou aquela época de sua vida, revelando inclusive seu conhecimento com Manoel Ribas, quando prefeito de Santa Maria, a quem coube saudá-lo em uma solenidade. Na época, D. Ático Euzébio da Costa era bispo de Santa Maria e, coincidentemente, com a vinda de "Maneco Facão" para a interventoria do Paraná, o prelado foi também removido para Curitiba. "Coincidências do Estado e religião", comenta o padre Gustavo, com um leve toque de ironia. No final dos anos 50, D. Manoel da Silveira Delbroux - que havia substituído a Dom Euzébio na Arquidiocese de Curitiba - preocupava-se com a falta de um sacerdote capaz de se identificar com os estudantes e realizar o trabalho de capelão universitário. Por indicação do jesuíta padre Albertum, de formação arquiteto (responsável pelos projetos da Igreja de N. S. De Guadalupe e Colégio Medianeira) que havia sido seu colega no seminário dos jesuítas, convidou o padre Gustavo para a função. Assim, há 30 anos, chegava em Curitiba, para iniciar uma nova fase de sua vida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
02/10/1990

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