Requião, o mestre do Direito e as frustrações da política
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de julho de 1989
Se como professor de Direito Comercial, autor de 8 obras que já atingiram, em conjunto, mais de 50 edições, sente-se plenamente realizado, com reconhecimento nacional, em termos políticos, de quem deu alguns dos melhores anos de sua vida naquilo que acreditava, Rubens Requião, 71 anos, não deixa de transparecer uma certa frustração.
Ao longo de um sincero depoimento para o projeto Memória Histórica do Paraná, Rubens Requião ofereceu sua visão sobre um dos períodos de maior tensão: os meses em que ocupando a Secretaria do Interior e Justiça no primeiro governo Ney Braga, teve criada em torno de si a imagem do "justiceiro". Numa época em que não se buscava marajás para fins políticos, Requião foi o executor jurídico, o grande advogado na tentativa do governo Ney Braga em buscar e punir os homens que, na administração Moyses Lupion, haviam se locupletado com negócios escusos.
Ao final de dez meses - período no qual, deixando suas atividades como advogado e mesmo na Universidade Federal do Paraná, na qual foi o sucessor do mestre De Plácido e Silva na cadeira de Direito Comercial, para se dedicar à Secretaria da Justiça, Rubens Requião renunciou ao seu cargo. Mesmo sem qualquer rompimento pessoal com o então governador Ney Braga, Requião deixaria a Secretaria por sentir que mesmo com todo empenho jurídico na montagem dos processos contra as corrupções ocorridas no período anterior, praticamente não houve punição.
Mais tarde, animando-se a disputar uma cadeira no Legislativo Estadual, dentro da UDN - partido do qual foi um dos fundadores em 1945, e no qual se manteve ligado até o seu final - Requião formaria com outros políticos de raízes conservadoras (João Vargas de Oliveira, Haroldo Leon Peres, Edgard Távora), um bloco que teve posição aguerrida na Assembléia Legislativa nos anos 60.
Mas bastou uma legislatura para convencê-lo de que a política também trazia uma dose muito grande de frustrações, para quem sempre procurou posições éticas rigorosas. Revolucionário em 1964, se decepcionaria com a transformação do movimento de 1º de abril numa ditadura militar.
Assim, a partir de 1965/66, Rubens Requião se dedicaria a sua cátedra obtida com a apresentação de uma tese sobre a regulamentação do trabalho do representante comercial (até então totalmente desguarnecido em termos jurídicos), e ao seu escritório, que se tornaria um dos mais procurados, até em termos nacionais, na área do Direito Comercial, e no qual, apesar de ter sofrido problemas cardíacos, continua a se dedicar durante algumas horas por dia.
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Paranaense de Foz do Iguaçu - onde seu pai trabalhava na segunda década do século como inspetor de rendas, Rubens veio ainda criança para Curitiba, aqui estudando na Escola Americana e no Gimnasium Paranaense, formando-se em Direito na turma de 1939.
- "Desde meus tempos de acadêmico o direito comercial já me atraía".
O fato de seu pai e avô, Edmundo Requião, terem residido alguns anos em Foz do Iguaçu, ajuda a explicar porque um de seus tios, Aníbal Requião, enfrentando uma viagem que na época levava 30 dias, chegou até aquela distante cidade e, apaixonado por cinema, fez as primeiras filmagens das 7 Quedas.
Apesar de, em seu tenso período como secretário do Interior e Justiça no início do governo Ney Braga, ter sido o "justiceiro" no combate às corrupções do governo Moyses Lupion, hoje, Rubens Requião faz questão de frisar:
- "Eu exercia uma função, um trabalho, que buscava a Justiça, o combate aos culpados - não pessoalmente visando ao governador Lupion, mas sim, encarando o governo em si. Embora ache que seria impossível que ele não tivesse conhecimento real do que acontecia ao seu redor".
LEGENDA FOTO - Rubens Requião: lembranças do tempo de caçador de corruptos no governo Lupion.
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