Requião, videomaker, uma esperança visual
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de dezembro de 1990
A intimidade que o governador eleito Roberto Requião tem hoje com modernas técnicas de comunicação - um dos campos ao qual sempre se dedicou, desde os tempos de aluno do curso de jornalismo - inclui um especial interesse pelo vídeo. Tanto é que quando prefeito de Curitiba montou um ágil estúdio de produção, com câmeras e ilha de edição, no qual, pessoalmente, supervisionava várias produções publicitárias de sua administração. Este equipamento, após ter permanecido ocioso por um ano na Fundação Cultural de Curitiba, foi retomado pela Secretaria de Comunicação Social, mas que o tem limitado apenas ao registro burocrático de algumas atividades do prefeito Jaime Lerner - quando poderia ser aproveitado para realização de documentários culturais, e principalmente, de registros históricos e sociológicos da cidade. Material este que, caso tivesse sido estimulado na atual administração, poderia amparar visualmente as conferências internacionais que o alcaide Lerner tanto gosta de fazer no Exterior - como acontece agora, em sua nova viagem aos Estados Unidos e Europa.
Durante a campanha que o conduziu ao Palácio Iguaçu, Roberto Requião foi quem deu a última palavra nas edições dos programas de televisão, ampliando assim os seus conhecimentos nesta bitola, que ele, lucidamente, entende como força maior para a comunicação em massa. Perante tal visão, a esperança de muitos videomakers que até hoje capengaram em seus sonhos de poder realizar trabalhos é de que, na administração que inicia a 15 de março de 1991, seja, realmente, priorizada uma programação que dote o Paraná de uma central de documentação e pesquisas audiovisuais, capaz de robustecer o nosso acervo de documentários voltados a depoimentos, registros, enfim, em torno de tudo que se relacione ao Paraná - sua história, política, geografia, economia, sociologia, urbanismo, etc.
Durante o I Festival de Vídeo Amador de Maringá, em conversas informais entre videastas paranaenses e paulistas, convidados do evento, se falou muito nas imensas possibilidades que o vídeo oferece para que se forme um arquivo de imagens, possível de ser viabilizado com investimentos mínimos. O próprio Estado já dispõe de alguns equipamentos básicos, os quais, embora servindo para a documentação oficial, até hoje estiveram inacessíveis para jovens videomakers, na busca de chances de fazerem seus primeiros trabalhos. O diretor do Museu da Imagem e do Som, Valêncio Xavier, 56 anos, quase 30 de televisão, procurou nos últimos dois meses, promover cursos básicos - roteiro, direção, iluminação, etc. - para dar as noções básicas para a feitura de vídeos. Entretanto, o MIS-PR não dispõe de equipamento apropriado e muito menos de recursos para desenvolver um programa regular, o que impede que haja resultados práticos destes cursos (ainda esta semana, o cineasta Fernando Severo e o videomaker Beto Carminatti iniciaram um novo curso).
Vídeos como "Mal", que teve a graciosa participação de José Maria Santos (1935-1990), em sua última atuação, produzido no final do ano passado, como complemento de um curso de iluminação, foi rodado com imensas dificuldades. Imagine-se quantos aspectos de nossa realidade já poderiam ter sido documentados em vídeos se existisse um programa específico?
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"The" Academia Brasileira de Vídeo - o uso do artigo em inglês é uma "private joke" de seus proprietários, explica Mônica - já conta com uma videoteca de 170 produtos realizados por seus alunos - desde simples registros de 30' até documentários de 25 a 40 minutos. Com uma média que oscila entre 60 a 120 alunos, oferecendo cursos modulados em prazos fixos e basicamente práticos, a Academia é a primeira escola de vídeo privada do Brasil, tendo em seu quadro de professores mais de 50 videastas, muitos deles também jornalistas, professores universitários e produtores autônomos, que fazem, inclusive, cursos em outros estados. Rita Moreira, por exemplo, que com seu "Temporada de Caça" acumulou 12 premiações, tem sido requisitada para orientar cursos de iniciação ao vídeo em várias cidades, o que a trouxe a Curitiba há algumas semanas.
- "Claro que num primeiro curso não se forma já profissionais, mas representa uma janela para que os interessados descortinem as possibilidades oferecidas por este meio de expressão visual", explica. Atualmente, Rita tem uma produtora que ao lado de trabalhos comerciais - "necessários para a sobrevivência" - desenvolve também um projeto de vídeos sobre as crianças de ruas de São Paulo. Seria interessante que nossa primeira dama municipal, Fany Lerner, Secretária do Menor, procurasse conhecer estes vídeos.
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