Os 10 anos da Funarte (que poucos lembraram)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de março de 1986
Passou totalmente despercebida uma efeméride: os 10 anos de existência da Fundação Nacional das Artes. Possivelmente, nem o ex-governador Ney Braga - hoje presidente da Itaipu - lembrou-se do que foi a 16 de março de 1986, quando ocupava o Ministério da Educação e Cultura, que o antigo Plano de Ação Cultural ganhou autonomia administrativa através da criação de uma Fundação que, bem ou mal, já tem um respeitável acervo de realizações através de seus diversos institutos e, especialmente, um trabalho editorial significativo através do lançamento de mais de 400 títulos, entre livros, discos, álbuns, posters, cartões-postais, fascículos, etc.
O primeiro diretor-executivo da Funarte foi Roberto Parreiras, 46 anos, que hoje preside a Funtevê, após ter também presidido a Fundação TV-Educativa, no Rio de Janeiro e a Embrafilmes. Ziraldo Alves Pinto, cartunista conhecido internacionalmente, preside hoje a Funarte, cuja direção executiva é da paulista Maria Luisa Librandi.
O escritório regional da Funarte, coordenado pelo pintor Domício Pedroso e professora Lucia Camargo, tem desenvolvido muitas atividades nos últimos meses - suprindo a incompetência da Secretaria da Cultura, reconhecidamente o órgão mais inoperante do Estado. Por exemplo, a Funarte trará de 1º a 25 de abril, a Curitiba, nomes de expressão nacional para um curso denominado "Cultura Brasileira: Tradição/Contradição".
Agora realizado de forma itinerante - além de Curitiba, também será promovido em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília (em maio), o programa abrangerá 18 temas polêmicos, entre eles o da ideologia cultural importada, que será abordado por Roberto Schwarz, professor da Unicamp, e as ambigüidades da vanguarda, como o poeta Affonso Romano de Sant'Anna. A filósofa Marilena Chauí, professora da USP, falará sobre o pensamento filosófico. A música brasileira terá três análises, de pontos de vista diversos, por nomes da maior competência: maestro Júlio Medaglia, compositor Hans Joachim Kiellreuter e José Miguel Wisnik. Este último, professor de literatura brasileira da USP, autor de "Coro dos Contrários" (Livraria Duas Cidades, 1984) e "O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira" (Editora Brasiliense, 1985), participou, há duas semanas, no IV Encontro de Pesquisadores da MPB, no Rio de Janeiro, debatendo com o temível José Ramos Tinhorão a questão do colonialismo cultural no Brasil. Em Curitiba, Wisnik abordará a Tropicália.
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