Maurício, as verdades de um homem de teatro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de abril de 1986
Maurício Távora, 49 anos, catarinense de Florianópolis, curitibano por adoção há quase 30 anos, é um homem de teatro. Já foi repórter policial nos bons tempos da sucursal da "Última Hora", revelou-se um dos mais criativos publicitários dos anos 60, ao lado da esposa, a atriz Jane Martins, participou, historicamente dos primeiros programas da televisão paranaense. Foi também superintendente da Fundação Teatro Guaíra durante o governo Jaime Canet Júnior e, dentro de sua independência e coragem, não aceitou injusta crítica do governador, dando a resposta devida. Perdeu o emprego mas não a dignidade - mercadoria, infelizmente, rara no comércio artístico local.
Enfrentando altos e baixos, momentos felizes e as tristezas e frustrações que atingem a todos nós, Maurício é um homem em permanente processo de criação. Autor de mais de uma dezena de peças, ator e meia centena de espetáculos - desde os tempos da Sociedade Paranaense de Teatro, ao lado do amigo Ary Fontoura - passando pelos momentos marcantes do Teatro de Comédia do Paraná e, chegando, em escala nacional, a montagem de "Rasga Coração", a obra póstuma de Oduvaldo Vianna Filho - que sob a direção de José Renato, o levou ao Rio e São Paulo.
Neste fim-de-semana, Maurício está novamente no palco do auditório Salvador de Ferrante que já pisou centenas de vezes. É o autor, diretor e intérprete de uma comédia de costumes, com toques sociais - "O Baiacu Sensual". Neste espetáculo - com figurinos de Luís Afonso Burigo, temas musicais de Paulo Vítola - Maurício lança uma nova e bela atriz: Adriana Salvador.
Como tantos outros profissionais de nosso teatro, Maurício é pessimista com o momento cultural que atravessamos. Sente a crise em que o Paraná mergulhou na área teatral - ele que acompanha a nossa vida artística desde os anos 50, sempre presente nos palcos, participando, atuando. Tem, portanto, moral, para exprimir os seus sentimentos.
Diz Maurício, cansado pelos esforços dos últimos dias, ao preparar a montagem de "O Baiacu Sensual":
- "Fazer teatro, no Paraná, é hoje uma tarefa espinhosa. O que era difícil, beira agora os limites do impossível."
Em sua opinião - como na de centenas de outros profissionais de nossa vida teatral - "indiscutível e vultosa parcela de culpa cabe às autoridades e órgãos públicos encarregados de nossa política cultural. Não há sobretudo, interesse."
Sem papas na língua, Maurício denuncia:
- "O Teatro Guaíra não é mais um instrumento, um orgulho, ou sequer um aliado. O Teatro Guaíra, ao que tudo indica, é apenas um entrave. Algo que tem que ser "engolido" por governadores, secretários, políticos em geral."
Mesmo sem querer ser nostálgico, Maurício recorda tempos melhores:
- "O teatro paranaense já teve dias e anos mais felizes. Quem não se lembra - talvez os mais jovens, não - do pioneirismo e sucesso do antigo Teatro de Bolso, o mesmo que foi demolido, impiedosamente, para dar lugar aos "ônibus-expressos" da Praça Rui Barbosa. Ou as produções do Teatro de Comédia do Paraná?"
O fato é que há pelo menos dez anos, "o descaso e a incúria passaram a marcar as 'atividades' culturais do Estado, principalmente no que diz respeito ao teatro". O que leva a uma triste realidade.
- Todos perdem. O público, em primeiro lugar. Os profissionais, obrigados a esforços inaudidos e geralmente acumulados. E, também com certeza, perde o Paraná, cuja imagem de patrono e dinamizador da cultura brasileira, vem sendo lamentavelmente borrada".
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Maurício Távora falou e disse. Com toda razão.
LEGENDA FOTO - Maurício e Adriana: "O Baiacu Sensual", em cartaz no auditório Salvador de Ferrante neste final de semana.
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