ah! Bons tempos do teatro nos anos 50
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de julho de 1984
A coincidência da Funarte/macem promoveram um ciclo de palestras sobre o teatro paranaense como evento paralelo ao projeto Mambembão Ipiranga e o lançamento, quinta-feira 12, da revista comemorativa ao centenário do Teatro Guaíra, faz com que a história de nosso teatro seja retomada. As comemorações oficiais dos 100 anos do Guaíra - considerando a inauguração do antigo São Teodoro, em 29 de setembro de 1884 - motivaram uma preocupação em resgatar a memória teatral. E um dos mais estimados e competentes jornalistas do Paraná, Nelson Faria de Barros, coordenador de comunicação da FTG, teve o encargo de organizar esta revista dos 100 anos do Teatro Guaíra, calçada especialmente num levantamento histórico preparado pelo professor David Carneiro, 80 anos, memória das mais importantes de nossa cultura.
As anotações do professor Carneiro cobrem especialmente até a demolição do antigo Teatro Guaíra, na Rua Dr. Muricy, em 1930. Sem maiores detalhamentos, a visão do historiador é genético - o que deixa o campo aberto a interpretações mais minuciosas, inclusive aos pesquisadores que eventualmente se disponham a participar do concurso de monografias que dará Cr$ 500 mil ao autor do melhor trabalho.
Existe, entretanto, um longo e rico período a ser pesquisado - e cuja falha de documentação foi sentida na própria elaboração desta revista comemorativa. Ao procurar ilustrações dos anos 50, muita amarelecidas fotografias trouxeram imagens de peças montadas há menos de 30 anos, mas com atores que não tiveram condições de serem identificados - nem pelos próprios contemporâneos destas produções.
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A revista dos 100 anos do Teatro Guaíra teve um expressivo faturamento, através de mais de 20 páginas de publicidade de empresas estatais e particulares - que deve ter coberto, com tranqüilidade, o seu custo.
Por outro lado, as palestras que se realizaram de segunda a sexta-feira no miniauditório Glauco Flores de Sá Brito, no seminário promovido pela Funarte/Inacem, deverão se transformar numa publicação. Para tanto foram gravadas e caberá a coordenadora desta promoção, professora Lúcia Gluck Camargo, editar o texto final - que representa mais uma contribuição para a nossa precária memória teatral.
Na segunda-feira, 9, a pesquisadora Maria Theresa Lacerda falou sobre os primórdios do teatro no Paraná, enfocando o pioneirismo desenvolvido nas cidades de Paranaguá, Morretes e, especialmente Lapa. Na terça e quarta-feira, um período bem mais recente - e rico em dados para outras análises - foi lembrado pelos diretores Eddy Antonio Francisco e Armando Maranhão, responsável pelo Teatro de adultos do Sesi e Teatro do Estudante do Paraná, respectivamente. Na quinta-feira, 12, houve uma mesa redonda, com a participação de representantes de várias entidades ligadas ao setor, para um check-up da situação . Ontem, finalmente, a professora Marta Moraes falou sobre o dramaturgia no Paraná.
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Pela sua própria informação de jornalista, profissão que abraçou há 30 anos passados, Eddy Franciose fez de sua palestra na tarde de terça-feira um verdadeiro documentário do ativo teatro amadorístico que se fazia na Curitiba dos anos 50. Numa época em que a televisão ainda não havia chegado a esta Capital, então com cerca de 400 mil habitantes, funcionavam mais de dez grupos regulares, mantendo elencos praticamente estáveis e movimentando quase todos os auditórios da cidade (só em 19 de dezembro de 1954, o Salvador de Ferrante seria inaugurado).
Era um teatro feito por pessoas idealistas, entusiásticas, que sem terem qualquer remuneração, apresentavam espetáculos de nível superior mesmo aos que fazem hoje nossas campanhas (ditas) profissionais. Existia uma crítica regular nos quatro principais jornais da cidade ("Gazeta do Povo" O ESTADO, "Diário do Paraná" e "O Dia ") ao ponto de em 3 de julho de 1957 ter sido fundada a Associação Paranaense dos Cronistas Teatrais. O Centro Acadêmico Hugo Simas além de manter um atuante grupo de teatro - por onde passaram muitos nomes que hoje são personalidades conhecidas no Estado - promovia também um festival anual, que movimentava a cidade.
A partir de 1956, Eddy Franciose dirigiu o teatro de adultos do Sesi, instituição que manteve até 1961 também uma pioneira escola de arte dramática. Foi uma época de grande efervescência com encenação de várias companhias - além do TAS, havia o Teatro Paranaense de Comédia, o Teatro do Estudante, a sociedade Paranaense de Teatro (fundada por Ary Fontoura), o Teatro de Equipe, o Grupo de Teatro Amador do Colégio Estadual, o Grupo Experimental de Operetas (dirigido por João da Glória), o Teatro Experimental do Guaíra, entre tantos. O Teatro de Adultos do Sesi, que iniciou suas atividades em 15 de setembro de 1950, dirigido em seus primeiros anos por Waldemar de Olíveira, tinha uma organização modelar, levando peças que tinham em média 15 apresentações, atingindo um público ao redor de 5 mil pessoas. Coube ao Teatro do Sesi, com a peça "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, em maio de 1957 - fazer a primeira apresentação teatral no grande auditório do Guaíra, quando o mesmo se encontrava em obras. Foram 17 apresentações ininterruptas, em que apesar do frio que fazia na época (e o teatro não tinha portas ou janelas, sem qualquer proteção, o público sentando-se no cinema) houve 25 mil espectadores, numa média de 1.200 pessoas por noite
Da coluna "Mosaico", na edição da revista Visão que está nas bancas: "Valentim Daricin, prefeito de Manoel Ribas, Norte do Paraná, teve sua residência invadida por dois assaltantes, que o tiraram da cama e o obrigaram a indicar a casa do gerente do Banco do Estado do Paraná, sob ameaça de escopetas. O prefeito acordou o gerente, em cuja companhia seguia para o banco.
Aberta a casa-forte e roubado o dinheiro, Valentim foi obrigado a entregar um carro oficial, com tanque cheio, aos assaltantes, em cuja companhia seguiu como refém durante a fuga. A alguns quilômetros da cidade, o infeliz alcaide foi abandonado, de cuecas, ao relento frio da madrugada, tendo regressado a Manoel Ribas na infantaria, a fim de alertar as autoridades policiais sobre o assalto".
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