Elsie, a pintura com os espíritos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de março de 1989
Entre outras adjetivações que caberiam num perfil da sra. Elsie Dubugras estaria esta curiosidade: nos anos 20, foi uma das três primeiras mulheres a exercer uma função importante - a de secretária executiva - junto a um grande grupo empresarial paulista. Claro que, na época, mesmo com toda a transformação que já se prenunciava na sociedade paulista, a admissão de uma mulher para uma função importante numa empresa tradicional causava sempre polêmicas. Ainda mais se jovem, bonita e... inglesa.
Elsie foi à luta e se firmou como uma das mais competentes executivas no braço brasileiro da Imperial Chemical Industries - aqui chamada Companhia Imperial das Indústrias Químicas do Brasil. Ali ficou por mais de duas décadas, só saindo quando seu primogênito, Robert, teve condições de começar sua carreira na empresa. Que, por normas centenárias, não admitiu nunca o nepotismo - ou seja, presenças de familiares em cargos de chefias. Entre o filho e um afastamento, dona Elsie preferiu uma aposentadoria. Mas que não seria definitiva, pois outras funções sempre ocuparam os seus dias.
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Hoje, aos 85 anos, uma aparência jovial, elegância de dama inglesa, dona Elsie é a editora-assistente da revista Planeta, a mais importante publicação de assuntos ligados a religiões, esoterismos, Ovnis etc... "enfim, tudo aquilo que desafia a mente humana e busca explicações".
Com a profunda formação kardecista, estudiosa de parapsicologia, autora de quatro livros - o último ainda em fase de finalização, dona Elsie não pára. Em companhia do filho Bob e da nora Vera, passou por Curitiba, a caminho de Porto Alegre. Aparentemente, férias de verão, mas a jornalista e pesquisadora sempre presente: aproveitou a ida a Porto Alegre para entrevistar o agrônomo José Litzenberger, dentro de uma ampla pauta sobre Ecologia e final do milênio. A ecologia também tem constado das preocupações dos editores da Planeta.
Nascida no Brasil mas tendo passado sua infância e adolescência na Inglaterra, formação cultural, portanto, basicamente européia, dona Elsie retornou a São Paulo em 1924, quando começou a trabalhar numa das empresas do grupo Matarazzo. Casada com Victor Dubugecos, filho de um dos mais famosos arquitetos europeus do final do século, dona Elsie teve dois filhos - Victor e Robert, que lhe deram 7 netos e 4 bisnetos.
A idade nunca contou fisicamente. Explica:
- "Ao contrário, me sinto mal apenas quando estou sem nada para fazer".
De uma colaboração despretensiosa com a revista Planeta, lançada há 17 anos e que teve o hoje consagrado escritor Ignácio de Loyola Brandão como seu primeiro editor, até chegar à chefia de redação, junto ao editor Eduardo Araia, foram anos de um trabalho sério e dedicado.
Embora por modéstia, não goste de falar de seu serviço, deve-se à dona Elsie, algumas pesquisas importantes dentro do caráter de seriedade científica que caracterizam os textos publicados pela Planeta, que no Brasil, segue a mesma linha da original francesa.
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Em 1972, numa de suas viagens a Londres, dona Elsie assistiu a uma demonstração da parapsicóloga Coral Polge, uma das primeiras a desenvolver experiências de psicopictorigrafia, recebendo espíritos de artistas plásticos já falecidos. Sem nunca ter visto a dona Elsie, a inglesa Coral Polge fez o desenho de uma velha dama, ao seu lado que, mais tarde, identificaria, comprovadamente, como sua bisavó. De volta ao Brasil, impressionada com as experiências da psicopictoricografia, foi levada por amigos a conhecer um modesto jovem chamado Gaspareto que também recebia "espíritos de artistas".
Ingênuo, restrito a um modesto centro espírita, Gaspareto reproduzia dezenas de desenhos com cores impressionantes. Dona Elsie, pessoa de sólida formação cultural, impressionou-se com o estilo de artistas consagrados, nacionais e estrangeiros, todos já mortos, alguns há séculos, naqueles desenhos e decidiu aprofundar os estudos. Convocou um grupo de 16 pessoas, entre parapsicólogos, professores, jornalistas, "enfim pessoas sérias, não ligadas obrigatoriamente ao espiritismo" que, durante sete meses acompanharam as sessões de psicopictoricografia, realizadas à luz do dia, sem qualquer possibilidade de fraude.
Resultado: realmente Luiz Antônio Gaspareto, paulista nascido a 16 de agosto de 1949, recebia artistas como Miró, Renoir, Portinari e muitos outros. A imprensa deu ampla divulgação ao fato e uma revista de assuntos parapsicológicos, editada em Frelburg, na República Federal da Alemanha, fez questão de patrocinar uma série de conferências-demonstrações de Gaspareto por vários países.
Em Londres, a vice-diretora da programação da BBC, levou dona Elsie e Gaspareto ao programa "Renoir e Você", no qual, para uma audiência de 6 milhões de espectadores, foram feitas várias demonstrações.
De volta ao Brasil, dona Elsie concluiu o livro sobre Gaspareto, ao qual deu o título de "Renoir e Você", justamente em homenagem ao programa inglês, que mostrou na Europa a sua mediunidade.
Depois, escreveria "O Mundo Paranormal", "Gaspareto" (um estudo mais profundo sobre o fenômeno paulista), e atualmente, conclui um livro sobre memórias de São Paulo, com belíssimos desenhos que ela mesmo executa.
LEGENDA FOTO - Dona Elsie Dubogras: redatora-chefe da revista Planeta e pioneira em estudos de psicopictoriografia.
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