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Aramis

Eny abre os olhos e encontra o nome

Há seis meses que a advogada Eny Carbonar buscava o título para o livro que escreveu sobre a experiência que teve como diretora do Presídio de Mulheres, em Piraquara. Várias sugestões foram feitas, mas nenhuma lhe agradava. Mulher sensível, poeta bissexta, Eny queria um título que transmitisse a idéia de esperança e liberdade, mas dentro da realidade das mulheres condenadas pela sociedade. O nome de um quadro elaborado por uma das internas, quando ela dirigia o presídio, é o que estava mais próximo de seu pensamento: "Da Janela de Minha Cela Vejo Pássaros". Entretanto, a definição veio quando lhe foi sugerido o título que Flora Purim deu à belíssima canção que gravou que gravou há alguns anos, quando estava na prisão, na Califórnia, condenada por tóxicos: "Abra seus Olhos / Você Pode Voar". "Open your Eyes You Can Fly", parceria de Chick Corea / Neville Potter, gravado em 1976, foi um dos maiores sucessos da carreira de Flora. Gravado num elepê produzido por Orrin Keepnews, da Milestone Records (no Brasil, editado pela RCA), "Open your Eyes You Can Fly", com a participação não só do marido de Flora, Airton Moreira, mas também de outros famosos instrumentistas brasileiros - Egberto Gismonti, Roberto Silva e Laudir de Oliveira, esta canção teve um grande significado, pois quando do lançamento do álbum, Flora deixou a prisão. O produtor Keepnews, no texto da contracapa disse que "Liberdade (e seus símbolos vivos como voar, andar, rios e trens) é aqui o tema principal". Enfim, um título feliz para uma música de alto astral. xxx Paranaense de Guaraji, um pequeno distrito do município de Ponta Grossa, Eny Carbonar é uma mulher notável. Nos oito anos em que dirigiu o Presídio de Mulheres, a convite do então secretário Túlio Vargas, da Justiça, estabeleceu um clima de harmonia e confiança que garantiu tranqüilidade naquele local. Bem relacionada nos meios artísticos, Eny levou artistas plásticos a criarem desenhos para tapeçarias executadas por internas, revelando muitos talentos. As exposições dos trabalhos feitos pelas internas mostraram como se pode obter de mulheres marginalizadas um ótimo rendimento. Quando Eny Carbonar deixou a direção do presídio, em abril de 1983, escrevemos em nossa coluna que se sua substituta fizesse ao menos 50% do que havia conseguido, mereceria nossa admiração. A propósito: quem foi que a substituiu? E quem é que dirige hoje o presídio? Infelizmente, pessoas como Eny são raras. E sua vivência como advogada e administradora do presídio de Piraquara, o relacionamento que soube ali implantar, estão nas 115 páginas de seu livro, já em fase de editoração na Literotécnica. A capa foi criada por Dulcirene Moletta e Gilith Scharff e já há data para seu lançamento: 7 de outubro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
42
09/08/1987

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