Não é sem razão que o Blue Note Jazz Club, em tão boa hora idealizado pelo empresário Eduardo Guy de Manoel, está dando certo, com uma afluência cada vez maior de interessados em conhecer o melhor jazz. Apesar da crise, as vendas de ingressos para a terceira edição do Free Jazz Festival (setembro, Rio/São Paulo) estão surpreendendo, ao que nos conta a organizada Yvone Kassou, divulgadora do evento, e a discografia jazzística cresce cada vez mais. Só nas últimas duas semanas, mais de dez excelentes lançamentos foram editados pela CBS e WEA, sem contar a fundamental "I Love Jazz", em tiragem exclusiva para a cadeia Breno Rossi. O novo pacote da CBS trouxe além dos fundamentais álbuns de Tony Bennet cantando com gigantes do jazz e do álbum de Charlie Watts, ex-baterista do Rolling Stones, a frente de uma big band, com standards, dos anos 30/40, também os mais recentes álbuns dos saxofonistas Paquito D'Rivera ("Manhattan Burn") e Wayne Shorter ("Phanton Navigator"). Aliás, este segundo elepê solo de Shorter, depois da longa jornada com o Weather Report, é sem dúvida uma das mais belas obras produzidas pelo saxofonista. Inteligência e fantasia se fundem no virtuosismo do músico, que, desta vez, faz do sax soprano o ponto focal de uma linda paisagem musical, ao longo de sete temas especialíssimos. Mas outro momento iluminado do saxofone no jazz é do japonês Sadao Watanabe ("Good Time for Love", WEA), gravado no Japão e com a participação de músicos de maior competência - embora desconhecidos no Brasil. Aos 54 anos, Sadao Watanabe é hoje um dos músicos japoneses mais conhecidos em todo o mundo. Aberto a todas as influências, gravou há alguns meses um elepê com o violinista Toquinho, solidificando uma amizade iniciada quando passou pelo Brasil, sem entretanto aqui fazer apresentações. Em 1953, Sadao já tinha uma banda de rhythm'blue ("Jafro"), época em que conheceu a pianista Toshiko Akioyoshi, que o convidou a entrar em seu Cozy Quartet. Naquela época, Sadao conheceu a música de Charlie Parker. Três anos depois, Akioyoshi mudou-se para os EUA e Sadao tornou-se líder do Cozy Quartet. Em 1961, Toshiko voltou ao Japão com Charles Maliano e juntos convenceram Sadao a ingressar na Berklee School of Music, em Boston. Nesta época, fez o seu primeiro disco, e, em agosto de 1962 ele viajou para os EUA. Em Nova Iorque gravou com Mingus, Gillespie e Phil Woods. Em setembro, ingressou, na Berklee. Três anos depois, Sadao começava a trabalhar em Nova Iorque, nas bandas de Gary McFarland e Chico Hamilton e ao concluir o curso voltou ao Japão. Passou então a gravar intensamente, acumular prêmios e buscar sempre novas aberturas musicais. Em 1970, esteve no Festival de Montreaux e, em 1973, "Open Road", descreveu sua primeira viagem a África. Seu prestígio só cresceu nos anos 70 - e por três vezes veio ao Brasil em 1976 e 1987, participando de documentários da TV japonesa e, em 1980, para lançamento de "Nice Shot", gravado com a banda de Dave Grusin, com quem faria mais um álbum ("Orange Express", 1981), acompanhando-o em excursão pelos EUA e Ásia. Em 1984, seu elepê "Fill Up The Night" chegou ao primeiro lugar nas paradas americanas e logo depois fazia outro álbum marcante, "Rendez Vous" - editado no Brasil há três anos. Sadao faz uma excursão pelo Japão tendo Roberta Flack como convidada especial. Em 1985, gravou "Maisha", em elepê com a participação especial de Herbie Hancock - resultado de viagem a África. No ano passado, Sadao gravou este esplêndido "Good Time for Love", exclusivamente com músicos japoneses. Quatro temas seus e apenas três de outros autores - "All the Way" (não confundir com a premiada canção do filme "Chorei por Você""), "Loving You is Easy" e "When we Make a Home". LEGENDA FOTO - Watanabe: imagens jazzísticas marcantes.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Música

Página: 49

Data: 09/08/1987

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