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Aramis

A erótica santidade de Iwersen

Exibida em público, até agora, numa única vez (há 2 semanas, na sala de exibição Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro), o média-metragem "A Santidade do Prazer" do cineasta curitibano José Augusto Iwersen, já começa provocar polêmicas. Francisco Alves dos Santos, 29 anos, ex-seminarista, programador daquela sala, em artigo no semanário "Voz do Paraná" fez uma crítica que, evidentemente, entristeceu a Iwersen, acostumado até agora a ser saudado sempre com palavras de incentivos. O pequeno público que compareceu aquela seção dividiu-se em termos de opinião - e muita gente que não viu o filme já se atreve a também comentar "por ouvir dizer". Zé Iwersen, 30 anos, 15 dos quais dedicados, idealisticamente, a tentar fazer cinema e promover atividades culturais no Paraná, vai levar o seu filme aos festivais de Super 8 programados para 1977. Independente das críticas desfavoráveis, "A Santidade do Prazer" mostra razoável apuro técnico e uma fotografia caprichada que, apesar dos toques que vão das plasticamente belas influências do mexicano Gabriel Figueiroa ao francês Claude Lelouchi, pode merecer uma premiação. Nos últimos 5 anos, Zé Iwersen, fundador do Cine Clube Pró-Arte, uma corajosa experiência em tentar fazer cinema de arte no final dos anos 60 (Ribalta), editor de livros e publicações de cinema, ex-distribuidor de fitas nacionais e checoslováquias, tem se dedicado ao cinema Super 8. Ao longo de duas dúzias de curtas-metragens, publicitários e documentais, adquiriu uma experiência e habilidade artesanal que fizeram há 3 anos, o seu documentário "O Homem do Caranguejo" mereceram prêmio de incentivo numa mostra nacional realizada em Curitiba e, no ano passado, obter o prêmio de melhor ficção, na Jornada de Cinema, em Salvador, com o seu "A Lenda dos Crustáceos". Liberal em termos de temática, mas sem deixar de ser um apaixonado pela baia de Antonina como cenário de seus filmes, José Augusto Iwersen deixou em "A Santidade do Prazer", documental para um assunto erótico, difícil de ser transmitido em apenas 20 minutos de projeção, num filme sem diálogos (a dificuldade da dublagem no Super 8 valoriza a imagem sobre a palavra). Mas, em que pesem as cenas fortes, de um erotismo sem maior requinte, não se pode reduzir "A Santidade do Prazer" a um filme pornográfico. É, isso sim, confuso, difícil de transmitir as intenções do autor, com uma trilha sonora que apesar do talento do jovem que a criou - o mineiro Luis Antônio Rocha - torna-se cansativa pela insistência com que foi utilizada. Entre tanto, tem méritos, mostra que Iwersen acoraja-se a cada dia nos temas propostos e, trabalhando com amadores - a bela e sensual Karin Van Der Brooke e seu noivo, Roberto Raio - obtém resultados razoáveis em certos momentos. As opiniões divergem, é fácil criticar negativamente o filme. Mas, para quem conhece Iwersen e acompanha o seu trabalho, sabe de suas intenções sérias e honestas. E afinal, se o paulista Ozualdo Candeias fizesse um filme com o mesmo tema, temos certeza que uma parcela dos que detestaram "A Santidade do Prazer" estariam agora batendo palmas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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03/03/1977

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