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Aramis

A FCC quer mesmo o Rui. Mas não é por moralismo

- Quem, eu? Moralista? Surpreso diante das alegações de que uma das razões pelas quais a Fundação Cultural de Curitiba teria solicitado o cine Rui Barbosa seria a sua programação com filmes pornográficos, o advogado Carlos Frederico Marés de Souza, secretário municipal da Cultura, fala de sua surpresa ante tal acusação, acrescentando: - "No ano passado fui criticado por ter realizado o seminário sobre Arte & Erotismo. Aliás, como dirigente cultural eu tenho sido pró-erotismo muito mais do que seria desejável por muitos." Elegantemente, como é de sua formação, Marés de Souza explica seu posicionamento em relação à decisão da Fundação retomar o espaço do terminal rodoviário na Praça Rui Barbosa para ali implantar mais um teatro. Acredita, sinceramente (ou será ingenuamente?) que o mesmo poderá ter uma boa dose de ocupação - ainda mais agora, com o fim do Teatro 13 de Maio, aliás uma novela meio complicada e que ninguém esclarece ao certo. Marés de Souza diz que a Fundação está preocupada em diversificar seus espaços e reconhece falhas nos teatros do Paiol, no asfixiante Universitário (na passarela Júlio Moreira) e, especialmente no Teatro de Bolso. "Cada um tem seus problemas e falta um teatro popular" diz, empenhado em justificar a estrutura do futuro Teatro Rui Barbosa como ideal. Basicamente já há espaços para camarins, sua localização é "excelente em termos de trânsito de público" e o Secretário da Cultura acredita que com sua mudança de sala exibidora de filmes pornográficos em um espaço cultural-popular, também na programação do vizinho cine Morgenau deverá ser alterada. "Já conversamos com os irmãos Santos e eles estão dispostos a colaborar" diz Marés, lembrando que o Morgenau - implantado anteriormente ao Rui Barbosa e com excepcionais vantagens aos seus proprietários, é tradição da cidade, já que conserva o nome da mais antiga sala de exibição - durante quase 60 anos funcionando no bairro do Capanema. xxx João Aracheski e os irmãos Zonari, da Fama Filmes, não pensam como Marés de Souza. Arrendatários do espaço - legalmente pertencente à URBS (hoje Empresa de Gerenciamento do Transporte Municipal), pretendem defender seus direitos de inquilinos (pagam mais de Cz$ 9 mil por mês) na justiça, lembrando inclusive de que o Rui Barbosa é um cinema popular, atendendo uma faixa de público - prova disto é que sua média de espectador/sessão (180 lugares) é das mais altas da cidade, com aproximadamente 20 mil espectadores ao mês. Além do mais a Fama Filmes preocupa-se, assim como outros exibidores privados, com a escalada da Fundação Cultural na exploração de casas de exibição. No início, era apenas a Cinemateca, com programação específica. Depois veio o cine Groff, seguiu o Ritz e finalmente o Luz - todas salas com programações hoje comerciais (embora de bom nível artístico) financeiramente lucrativas - rendendo o suficiente para a Fundação manter um bom programa de exibição nos bairros, atingindo 12 pontos da cidade. Ainda neste semestre, possivelmente a Fundação terá uma quarta sala de exibição, a ser instalada no futuro Centro Cultural do Portão - unidade que terá várias atividades e sediará o museu formado com o acervo de obras que o artista Poty Lazarotto doou a Curitiba. Se a cidade perde no próximo dia 28 o Vitória - adquirido pelo Governo do Estado para ali implantar o Centro de Convenções - haverá mais dois novos cinemas no centro, lembra Marés. Nas últimas semanas, finalmente a Prefeitura deu o alvará para a Unibrás, grupo cinematográfico paulista que aqui já explora o Plaza, iniciar as obras de duas salas na área que adquiriu no antigo Colégio Santa Maria, defronte para a Rua Conselheiro Laurindo. xxx Nebulosa até agora a transação do imóvel onde situa-se o Teatro 13 de Maio (ex-da Classe). Há algum tempo, o Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba nos garantia (e aqui publicamos) desconhecer qualquer transação - que normalmente teria que ser consultada aos órgãos de planejamento, já que obras de reforma ou demolição naquela zona da cidade têm uma legislação específica. Posteriormente, deu-se como certa a compra do imóvel pelo riquíssimo empresário Husseim Hamdar, proprietário de centenas de imóveis no centro da cidade - sem dúvida, um dos homens mais ricos do Estado, embora conserve seus hábitos simples, de imigrante libanês que fez fortuna vendendo calçados de terceira categoria. Consta agora, que ao saber de que o projeto de demolir o prédio e usar o espaço para um lucrativo estacionamento não terá luz verde do IPPUC/Secretaria do Desenvolvimento Urbano, Hamdar teria desistido do negócio. Curiosamente, a própria Associação dos Empresários Teatrais, até hoje não conseguiu maiores esclarecimentos sobre a situação legal do imóvel, da qual é uma das inquilinas (outros locatários são o Studio D, de Dora Paula Soares e em um bar gay, que funciona nos fundos).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
22/01/1987

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