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Aramis

Frutos da Boca

O MPB-4 está comemorando com muito trabalho seus 20 anos de existência: dois espetáculos musicais e um infantil no Teatro da Galeria, RJ, mais 20 conferências sobre MPB e o lançamento do lp "Coringa", que, infelizmente, a Barclay esqueceu de divulgar. O MPB-4 tem razão para registrar esta efeméride: poucos grupos vocais conseguem sobreviver sequer 5 anos, quem dirá as duas décadas. Quando um grupo vocal termina, ficam os herdeiros. O Boca-Livre, o mais bem sucedido conjunto vocal aparecido nos últimos anos, após dois discos independentes que batreram recordes de vendagem e um contrato com a Polygram, também acabou. As seus integrantes estão fazendo carreiras solos: José Renato já com seu segundo elepê-solo; David Tygell compondo (a trilha sonora de "Espelho da Carne", por exemplo) e fazendo arranjos, a exemplo de Maurício Maestro. De Lourenço Baeta não se tem ouvido falar mas, por certo,também não parou. Claudinho Nucci, que foi a primeira dissidência da Boca, já há 3 anos, também está em carreira solo. Chegou nas lojas neste final de ano com um explêndido elepê ("Melhor de Três" Odeon), com direção musical e arranjos de Jaques Morelembaun, arranjos vocais de Maurício Maestro e produçãso de Homero Ferreira. Um disco de imensa brasilidade, ligado à memória e `a isnstituiçào - como tão bem sintetizou Rosane Travassos. "É umas espécie de invenções da vivência, onde uma ponta de tradição emenda com o futuro". Claudinho Nucci propõe uma viagem que mergulha, por exemplo, em canções nas quais compõe letras com nomes indígenas ("Duzíndio"), ("Os Rios") ou expressões onomatopaicas/indígenas ("Mágicos") os três, por sinal, parcerias com Juca Filho (também um talento-solo, co o já provou em elepe feito há 3 anos pela Philips). Em parcerias em Cacaso - "Santa Clara", "As Coisas", "Melhor de Três", "Oh Minas Gerais", "Feira Livre", "Na Minha Casa", "Me Dá a Mão" e "Boitatá", Cláudio fala do Rio São Francisco, de Minas, de Goiás, das imagens simples ("Feira Livre", por exemplo, é dedicado a Zé Coco do Riachão). Comparar alguns momentos deste elepê aos melhores instantes da criação de Antonioo Carlos Jobim, sobretudo em sua fase ecológica, não é exagero. Excelente voczslista, beneficiado com um coral que chega a 62 vozes ("Feira Livre") e mais 12 cordas, Cláudio Nucci faz com que as músicas deslizem neste seu trabalho seriíssimo, maduro - sem favor um dos melhores discos do ano. xxx Ex-companheiro de grupo vocal de Cláudio Nucci - e seu parceiro em várias musicas - José Renato (Moskovitcht, Rio de Janeiro, 1955) é responsável por outro dos mais interessantes discos do ano ("Luz e Mistério", Polygram, outubro/84). A tonalidade de voz é especialíssima - possivelmente uma das únicas no Brasil. Afinadíssimo, sensível, tem uma carreira das mais bonitas, já que apesar de sua pouca idade tem mais de 50 composições de nível gravadas, presença de destaque em vários grupos numa primeira fase amadorística e a integração ao Boca Livre desde sua fundação. "Luz e Mistério", seu segundo elepê solo, é daqueles discos que crescem à proporção que se vai ouvindo e penetrando na beleza das harmonias, dos arranjos (também de Maurício Maestro), e, especialmente das interpretações de José Renato. Classificar este como um "disco de MPB de Câmara" não está errado. Realmente, há um clima intimista, personalíssimo em cada faixa - sejam as composições de Zé Renato ("Prazer" e "Promessa de Verão"), com Ronaldo Bastos; "A Flor dos Olhos" com Xico Chaves - ou as homenagens que ele presta, gravando "Estrela" (Maurício Maestro), "Coração Civil" (Milton-Brandt), e, especialmente "Luz e Mistério" (Guedes/Caetano). Com novos parceiros - Capinam ("Ele ai Te Flechar"), Abel Silva ("Ponta do Fio") ou antigos companheiros - como Juca Filho ("A Flor dos Olhos", "Toda Vida"), e, especialmente com Xico Chaves, na bossanovista "Fica Melhor Assim", que José Renato atinge o ponto mais alto deste delicioso disco. Excelentes instrumentistas - Helvius Vilela (teclados), Ricardo Silveira (guitarrista), o próprio Maurício Maestro (baixos, vocais, pianos), entre outros - e um coral amigo (com Verônica Sabino, David Tygel, Lourenço Baeta, Evelino), temos um astral belíssimo, para um disco significativamente dos mais importantes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
20
16/12/1984

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