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Aramis

Gaúchos

O Rio Grande do Sul já conseguiu entrar no mapa da música popular brasileira. Sem contar os grandes valores do passado - o eterno Lupiscínio Rodrigues (1914-1974), o imenso Radamés Gnatalli - magnífico aos 76 anos de vida e música, ou o ainda esquecido Tulio de Piva, ou mesmo deixando de lado os talentos dos anos 60 - como a hoje superstar Elis Regina, o fato é que os gaúchos podem se orgulhar de seus filhos. A década de 70 foi efervescente na música do Rio Grande do Sul e tanto o tradicionalismo, através das interessantíssimas Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, como a música urbana sofreram um grande boom. Mesmo com a ISAAEC tendo desativado seu setor fonográfico - após lançar mais de 30 importantes discos, sobram muitos talentos que hoje trilham seus próprios caminhos. Por exemplo, dos Almondegas - grupo que dividiu como Bicho-da-Seda uma presença vigorosa na música gaúcha até o final dos anos 70, saiu a dupla Kleiton e Kledir, hoje já conhecidos nacionalmente, enquanto o mano mais novo, Victor Ramil, também já tem seu "New Disc" na praça- embora prejudicado pela divulgação da Polygram, que no Paraná está sabotando seus contratados no que se refere [à] área promocional. Em compensação, Kleiton & Kledir, contratados da Ariola tiveram seu novo disco muito bem colocado nas lojas. Neste segundo lp, os autores de "Navega Coração" - que o Céu da Boca defendeu no festival MPB-81, apresentam músicas identificadas com o Rio Grande do Sul, numa presença forte, de raízes, que valoriza os seus trabalhos, o MPB-4, que conduziu Kleiton & Kledir numa excursão nacional e deles gravou o "Vira Virou", participa do "Lagoa dos Patos", uma bela homenagem musical a um dos pontos geográficos mais característicos do Rio Grande do Sul. Em "Deu Pra Ti", a utilização de uma expressão tipicamente gaúcha e que, nas vozes da dupla, pode se tornar um neologismo nacional. "Semeadura" (Victor Rail/Fogaça), "Estrela, Estrela" e "Noite de São João" - (Pery Souza/Kledir Ramil), são faixas bastante significativas, nesta última com a participação (e arranjo) de Sivuca ao acordeon. Mas é a "Trova" de Kleitom/Kledir, que tem o toque mais caracterizado, com o repente gaúcho - tão significativo, quanto os improvisos dos cantadores nordestinos, e que na linguagem jovem da dupla, pode chegar a uma faixa de público que, normalmente, não aceitaria a música gauchesca de suas raízes. Por exemplo, o público que venha a curtir esta "Trova" de Kleitom e Kledir, talvez procure entender o linguajar típico de "Rodrigo, O Rio dos Pampas" (FIF/selo Mickael/Brasil Rural, 08.135), que em seus cantos fala de tropeiro, ciganas, amor e desamor - num trabalho dos mais interessantes do ponto de vista sociológico. Aproveitando o humor, outro exemplo de intérprete gaúcho é Gildo de Freitas, já com vários discos editados pela Continental/Chantecler e que em um novo volume, traz criações onde sem deixar de extravasar seu romantismo inclui também muito de humor e mesmo observação social. Faixas como "Ajudando a Medicina", "Dizem que o poeta é louco", "Venha comigo Mariquinha", "Cachaça" tem muito de sabedoria popular que não pode - e nem deve - ser desprezada. Já que hoje estamos registrando a música do Rio Grande do Sul, um outro aspecto que deve ser lembrado: os conjuntos vocais - instrumentais. Afinal, se em Porto Alegre, nos anos 60, surgiram grupos como o de Breno Sauer, acordeonista e depois vibrafonista que, no estilo do norte-americano Art Van Dame, fez escola no Brasil (e passou 2 anos em Curitiba), ou Norberto Deadulf também marcou uma fase, hoje existem no Rio Grande do Sul mais de 30 grupos instrumentais e vocais. Mesmo sem chegar a criatividade de Breno Sauer ou as harmonias de Bauldalf, propõem entretanto uma música digestiva, amplamente consumida em bailes. A hoje já extinga K-Tel, pelo seu selo Campeiro, chegou a lançar o primeiro volume do "Musical Monte Carlo", grupo formado em 1968, de um encontro de jovens do município de Horizontina, e que teria continuidade fonográfica se não fosse o fato da K-Tel ter encerrado suas atividades. Outra etiqueta de precária atuação, a Choró lançou o conjunto Luar de Prata, enquanto ainda pelo selo K-Tel, os Doge ("Um Baile em Paraíso") trouxeram uma música fundindo influências de schotts com varandões - num resultado curioso. Já Os Montanari e Os Futuristas estão entre os grupos instrumentais-vocais, que atuam no Rio Grande do Sul e Santa Catarina com maior sucesso na área de clubes e também vendendo muitos discos - razão para a Chantecler montar uma série fundindo sucessos destes 2 conjuntos ("7 x 7").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
29
20/12/1981

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