Gould, o pianista do maior requinte
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de agosto de 1989
Realmente, não há razões dos apreciadores da música de melhor nível se queixarem. O jazz está em escalada com muitas (e ótimas) edições nacionais e para o público que aprecia a música erudita há lançamentos nacionais estimulantes. Claro que os milionários com discotecas CDs, exigentes, recorrem aos importados, mas para quem vive a nossa (triste) realidade em cruzados, o trabalho que Leo Barros vem fazendo na Polygram e Maurício Quadrio na CBS não pode deixar de ser digno dos maiores elogios.
No mês passado, em mais uma promoção associada à cadeira Breno Rossi - cujo presidente, Henrique Sverner, tem possibilitado a edição de centenas de álbuns que, normalmente, nem chegariam ao Brasil - saíram 13 elepês, com interpretações de um dos maiores pianistas contemporâneos, o canadense Glen Gould (1932-1982), com interpretações definitivas para o "Cravo Bem Temperado", as "Suítes Inglesas" e as "Suítes Francesas", de Johann Sebastian Bach (1685-1750) e a integral das "Sonatas para Piano" de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Essas gravações, realizadas entre 1971/79, constituem um marco na história da tecnologia e da interpretação, com acentuou Luís Antônio Giron, acrescentando: "Aquilo que o pianista canadense pregava como revolucionário nos anos 60 (dizia que o meio técnico do estúdio de gravação de consistir no meio ambiente primordial do músico e não mais a sala de concerto) - hoje parece banalidade". Mas Gould acreditava que a recepção musical se modificaria através do disco: tornar-se-ia mais útil o contato do ouvinte com a obra e, no fim das contas, cada ouvinte se tornaria um artista em potencial.
Justamente por isto que Gould - que aos 14 anos dava seu primeiro concerto em Toronto (onde nasceu) e em 1955 entusiasmava Nova Iorque - se afastaria, nove anos depois, das apresentações ao vivo para se dedicar às gravações, deixando um acervo incrível que, pouco a pouco, começa a ser mais conhecido no Brasil graças aos esforços da CBS/Breno Rossi.
Incluídos na coleção "Retrato do Artista", os 12 álbuns com Glen Gould são distribuídos com exclusividade pela cadeia Breno Rossi (em Curitiba, Shopping Mueller). Não é necessário transcrever elogios sobre a sua notável técnica e profunda emoção nas gravações, pois quem conhece música sabe da importância deste virtuose que detestava multidões e que morreu ainda jovem, de congestão cerebral. E que, entre tantas afirmações inteligentes, disse certa vez:
- "A única justificativa para se gravar uma obra é fazê-lo de modo diferente".
Realmente, existem milhares de gravações de peças de Bach, Mozart e tantos outros gênios, mas as que Gould fez, foram - sem trocadilhos - douradas, definitivas e, para que evitar a palavra-chavão!, originalíssimas.
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