Alaúde-cravo com as suítes de Bach
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de janeiro de 1987
As dificuldades na produção de discos - com uma demanda maior do que a oferta, através de vendas impressionantes de alguns lançamentos - refletem-se também no mercado de música erudita. Destinada a um público de alto poder aquisitivo mas também rigoroso na qualidade dos produtos - agora, proporcionalmente abandonando as gravações tradicionais e preferindo o laser (este, ainda mais em falta no mercado, já que é totalmente produzido no exterior), os apreciadores da música dos mestres têm tido pouquíssimas opções nas últimas semanas.
Tanto a Polygram como a CBS - que mantêm os catálogos eruditos mais regulares - adiaram suas edições clássicas, concentrando-se apenas nos artistas populares, nacionais e estrangeiros cujos discos atingem a vendagens impressionantes.
Jonas Silva, o bravo e idealista produtor independente, pela pequena Imagem, conseguiu, a duras penas, prensar 3 mil cópias de dois excelentes elepês clássicos, que, com alguma dificuldade podem ser localizados nos balcões da Sartori - hoje a única loja da cidade que se preocupa em manter um estoque de clássicos.
São dois discos de música restauradora, suave - necessária de se ouvir num mundo tão poluído de ruídos e barulhos: as suítes de Bach com Gergely Sarkozy em cravo-alaúde e cinco concertos para violino e orquestra de Vivaldi, com Jaap Schroder, acompanhado pela orquestra de Capella Savaria, regida por Pal Nemeth...
ALAÚDE E CRAVO - Gergely Sarkozy nos oferece numa gravação produzida na Hungria - e cujos direitos de edição no Brasil foram obtidos por Jonas - duas belíssimas suítes de Johann Sebastian Bach.
Utilizando o cravo-alaúde, instrumento de uma suave sonoridade renascentista, Sarkozy mostra uma personalidade musical à parte e de nenhuma forma ortodoxa. O musicólogo János Malina, no detalhado texto de contracapa, entre outras informações diz que Sarkozy encontra sempre uma concepção ou uma idéia de apaixonada experiência e assim "do seu alaúde-cravo, se ele empresta algum elemento essencial de quase todos os instrumentos da época que se conhece - e isso é muito forte - não pode ser, entretanto, identificado em nenhum deles".
VIVALDI compôs cerca de 450 concertos para instrumentos solistas - a maior parte para violinos. Destes, o virtuose Jaap Schroder escolheu cinco dos mais expressivos para uma gravação marcante, acompanhado pela orquestra Capella Savaria, regida por Pal Nemeth - e que traz músicos notáveis, embora desconhecidos no Brasil, como os violinistas Janos Sandor, Mihály Szili, Peter Lissauer, Gyorgy Tarnai e Gyorgy Borgnár, o violoncelista Cseperke Falvay e, nas violas Sandór Nagy e Laszló Dabasi.
Nestes últimos 20 anos, Jaap Schroder tornou-se um nome respeitado como intérprete de obras criadas para violino nos séculos XVII a XIX. Schroder se apresenta regularmente nos festivais da Holanda, Suíça, Itália e Noruega, bem como na Inglaterra e Estados Unidos. No Brasil, entretanto, ainda é desconhecido.
Intérprete de música de câmara apaixonado, Jaap toca seguidamente com Custav Leohardt, Frans Bruggen, Colin Tilney, Jos Van Immerseel e Anner Bylsma. Foi fundador do "Quarteto Esterhazy", o primeiro grupo que se dispôs a tocar música sinfônica nos instrumentos construídos no estilo da época. Ao lado de Christopher Hogwood, com a respeitadíssima Academy of Ancient Music (que tem inúmeros discos lançados no Brasil), Jaap Schroder se dispôs a gravar a íntegra das sinfonias de Mozart, projeto destinado à repercussão mundial. Jaap é também professor no Conservatório de Amsterdam e leciona na Schola Cantorum de Balé e na Universidade de Yale.
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