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Aramis

Novas gravações com as obras dos velhos mestres

O bom gosto e, sobretudo, a informação do mercado, está possibilitando que Leonardo Barros, diretor da área de clássicos e jazz da Polygram, acerte na mosca em termos de lançamentos. Assim é que aproveitando o momento jazzístico - com toda a promoção do IV Free Jazz Festival (encerrado dia 11, em São Paulo), acaba de sair a coleção de cassetes em cromo, "Walkman Jazz" - que a exemplo da Silver Collection (clássicos) e Opera Gala, traz uma esplêndida seleção - no caso como os nomes mais conhecidos do Jazz. Paralelamente, em elepês, temos gravações esplêndidas com mestres como Bach, Beethoven, Mozart, Sibelius e outros, enquanto que para os fãs de óperas há desde "Volare", com Luciano Pavarotti acompanhado pela orquestra de Henri Mancini (presente também com um álbum com árias de óperas consagradas) até Mario Del Monaco. Enfim, mais um pacote de altíssimo nível, que justifica o investimento - nesta época em que mesmo os colecionadores mais bem abonados procuram selecionar criteriosamente o que levam para suas casas. Concertos de Bach - um dos projetos mais sonhados do cravista Roberto de Regina, 62 anos, fundador (e diretor) da Camerata Antiqua (e da qual foi cruelmente afastado devido à insensibilidade da diretoria da Fucucu) era a gravação dos concertos para cravo solo de Johann Sebastian Bach (1685-1750), chegando a registrar material para três álbuns, dos quais só o primeiro foi editado - inicialmente em produção independente, posteriormente relançado pela Kuarup e, agora, incluído no catálogo da Philips/Polygram, conforme registramos há alguns dias. Nos contava o maestro Regina, ao voltar de uma viagem à Alemanha, que havia procurado com insistência gravações de Bach, para cravo, e mesmo nas melhores lojas daquele país nada havia encontrado. Portanto, o seu projeto de gravar os concertos para cravo solo são válidos e merecem ter continuidade. Agora, entretanto, em quatro excelentes álbuns (Archiv Produktions/Polygram) temos o cravista Trevor Pinnock, acompanhado pela The English Concert (que utiliza instrumentos de época) interpretando as belíssimas "Die Konzerte", num total de quatro peças desenvolvidas por Bach no período central dos anos em que, em Leipzig, trabalhou com o Colegium Musicum. Ele assumiu sua direção na primavera de 1729 e a manteve (com uma interrupção indo do verão de 1737 até outubro de 1739) até cerca de 1741. Os concertos musicais que esta associação independente de estudantes dava no Café Zimmermann, estimularam Bach a voltar novamente seu interesse ao gênero de concerto instrumental, que já havia desempenhado um papel essencial para ele na época em que foi mestre-de-capela da corte de Cothen (1717/1723), mas que suas obrigações de compositor de música sacra, nos primeiros anos de suas funções de Kantor em Leipzig, haviam levado a relegar a um segundo plano. Como ensina o musicólogo Werner Breig, "o que caracteriza essa nova abordagem do concerto instrumental é que, pela primeira vez na história da música, Bach tenha neles recorrido amplamente ao cravo como instrumento "concertante". É verdade que Bach não criou para esta nova forma de distribuição outras composições mas, mais exatamente, remanejou concertos compostos antes de haver assumido suas funções em Leipzig. As partes solo, inicialmente escritas para instumentos melódicos solistas, foram de certa forma transferidas para o cravo (mais tarde, faria obras especialmente para cravo). E agora, através destes quatro magníficos álbuns com Trevor Ponnock e The English concert, temos a possibilidade de conhecer melhor esta importante fase de Bach. The Academy of Ancient Music, dirigida por Christopher Hogwood, está tendo, pouco a pouco, toda sua magnífica obra editada no Brasil. As duas temporadas que este conjunto já fez (numa delas, vindo a Curitiba, em julho/81) contribui para que sua música antiga, executada por excelentes instrumentistas, encontre cada vez mais admiradores - o que por certo vão se deliciar como o novo álbum (L'Oiseau Lyre/Decca/Polygram), com as gravações das Sinfonias nos. 4 e 5 de Ludwig Van Beethoven (1770-1827). xxx Outros lançamentos classe A, com orquestras e solistas de primeiro nível; acompanhado pela Philarmonia Orchestra, sob regência de Giuseppe Sinopoli, de Londres, temos o violinista Shlomo Mintz executando três belíssimas peças de Ludwig Van Beethoven: os "Romances" nos. 1 e 2 - obras que criou no início do século XIX; e o Concerto para Violino e Orquestra em Ré Maior, opus 61, obra datada de 1804, época em que Beethoven realizou algumas das mais importantes peças, incluindo-se os Quartetos "Razumovsky", a abertura "Corialano" e a Quarta Sinfonia. Aos apreciadores de violino, outras preciosidades: também com Shlomo Mintz, mas desta vez acompanhado da Filarmônica de Berlim, regida por James Levine, executando o Concerto para Violino e Orquestra em Ré Menor, opus 47, de Jean Sibelius (1865-1957) e o Concerto em Lá Menor, opus 53, de Antonín Dvorák (1841-1904). O concerto de Dvorák foi composto quase um quarto de século antes do de Sibelius (1903), entre 1879/1882. Já com a violinista Viktoria Mullova, considerada pelo New York Times como um dos grandes talentos desta década (em 1983, ao chegar a Nova Iorque, era saudada por "sua técnica forte, sua sonoridade suntuosa e por sua precisão técnica") temos também em registro da Philips, dois concertos para violino e orquestra de P.I. Tchaikovski (1840-1893), os opus 35 e 47. Acompanhando Viktoria, a Orquestra Sinfônica de Boston, sob regência de Seizi Ozawa, com o qual, na temporada 1985/86, empreendeu tournées de grande êxito. Requisitadíssima, Viktoria tem se apresentado com as melhores orquestras do mundo e ainda na temporada 1986/87 tocou com a Sinfônica de Pittsburgh, regida por Lorin Maazel e com a Filarmônica Real de Londres, regida por André Previn, afora apresentações com a Sinfônica de Londres no Kennedy Center, em Washington. Nascida em Moscou, fez seus estudos entre 1969/78 e se projetou internacionalmente ao vencer o Concurso Sibelius de Helsinki (1981) e após conquistar a Medalha de Ouro do Concurso Tchaikovski, Viktoria deixou Moscou e começou a construir sua carreira de concertista no Ocidente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
25/09/1988

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