Guairinha tem hoje à noite Autran interpretando Ibsen
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de abril de 1989
"Solness, o Construtor", peça que os críticos consideram o auto-retrato literário do genial norueguês Henrik Ibsen, fica em cartaz de hoje a domingo no Guairinha, quando o público será contemplado com a interpretação de Paulo Autran no papel de um personagem avassalado que, na Inglaterra, coube a sir Laurence Olivier fazer. Embora considerada a obra-prima de Ibsen, a peça jamais interessou ao teatro brasileiro. E ela tem quase cem anos!
Coube ao Grupo Tapa, bastante elogiado pela crítica paulista e com inúmeros prêmios, vencer o desafio de enfrentar um texto tão profundo. Segundo as publicações do ano passado, quando a peça estreou em São Paulo, Eduardo Coutinho soube imprimir ao espetáculo uma sábia direção e dignificar o chamado "teatrão". E Paulo Autran, em seu primeiro Ibsen de sua longa (39 anos) carreira teatral, "sempre surpreende com uma repentina interiorização expressa no olhar pungente ou no silêncio carregado de tensão ou dor", como destaca Jefferson Del Rios.
Paulo Autran, "o Construtor", com poucas palavras expõe toda a trama da peça:
"Ibsen é um gigante. Solness, o Construtor é uma das [últimas] obras de sua longa carreira. Obra de maturidade, portanto. Que vibrante maturidade! A cabeça que influenciou todo o melhor teatro do nosso século continuava em plena ebulição criadora. Solness é um personagem concebido sem piedade, com seu profundo egoísmo, sua extrema vaidade, sua paranormalidade e seu estranho misticismo, seu sentimento de culpa doendo como uma ferida aberta, mas não o suficiente para provocar atos reparadores do mal que fez e, ao mesmo tempo, carregado de paixão, de grandeza, de ânsia pelo absoluto. E é um homem assim que chega à conclusão de que igrejas e casas não podem fazer os homens felizes, mas sim a arte, a filosofia, a metafísica, a poesia, condensadas na expressão "castelos no ar". Mas Solness não chegará a construí-los. Roído pelo remorso, com as energias gastas no culto de si mesmo, cheio de medos, ele apenas caminha para a morte. Ele enfim cede seu lugar (coisa que tanto temia) à juventude para que esta o supere, se possível."
"Solness, o Construtor", escrita em 1892, é considerada a peça que melhor representa a fase simbolista de Ibsen, autor de textos como "Casa de Bonecas". "Peer Gynt", entre as mais famosas já encenadas no Brasil, que o colocam como pai do realismo moderno. Em "Solness", entretanto, Ibsen (1828-1906) opta por uma parábola para falar de temas transcendentais. Confira.
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"Solness, o Construtor" entra em cartaz no Guairinha, hoje, às 21 horas, com o Grupo Tapa e a participação de Paulo Autran como ator convidado. Direção de Eduardo Tolentino. Até domingo, com ingressos a oito cruzados novos. Hoje, especialmente para a estréia, ingressos a seis cruzados novos.
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