"Otelo" não fica somente no palco
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1989
Independente dos resultados artísticos obtidos pela montagem de "Otelo" (estréia amanhã, Teatro São João, na Lapa; temporada no Auditório Salvador de Ferrante a partir do dia 21), houve uma salutar preocupação de Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, idealizador e principal responsável pelo retorno do elenco oficial: cercar a montagem de promoções paralelas capazes de lhe dar um sentido didático. Humilde e discreto como são as pessoas competentes, Viaro reconhece não estar descobrindo o óbvio: há 25 anos passados, quando ainda exercia o jornalismo, acompanhou o belo trabalho que foi feito para a temporada de "A Megera Domada", a maior superprodução do TCP e que naquele ano se inscreveu dentro das comemorações do quarto centenário de nascimento de William Shakespeare. Na época, a produção - que reuniu o maior elenco até então utilizado numa produção local, com direção de Cláudio Corrêa e Castro - foi acompanhada de uma série de palestras que a professora Philomena Gebran (hoje residindo em Brasília) fez em escolas e faculdades, concurso de cartazes (vendido por Ziraldo) e outros acontecimentos que marcaram a encenação - de tamanha qualidade que justificou sua apresentação no Rio de Janeiro, com sucesso.
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Para motivar a temporada de "Otelo" e, em agosto próximo, de "A Vida de Galileu" (título que foi dado a "Galileu Galilei"), de Brecht, Viaro ganhou um precioso reforço: o jornalista Arakem Távora, alma generosa e que há anos vem, idealisticamente, tentando ajudar a cultura no Paraná, mais uma vez se deu ao trabalho de montar um projeto para que haja outros pontos de interesse em torno da obra de Shakespeare. E o que é importante: ao contrário da maioria das pessoas que procuram a Fundação Teatro Guaíra, Arakem levou um projeto definido e com patrocínio - no caso a IBM, que também há muito vem sendo por demais generosa com as coisas culturais no Paraná.
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O projeto de Arakem previu exposições de 28 posters cedidos pelo Conselho Britânico, abordando a vida e obra de Shakespeare, que acompanhados de uma narração em fita, com texto e músicas de época, será montada possivelmente no Solar dos Leões. Ali também serão exibidos videocassetes trazendo imagens integrais de montagens inglesas de "Otelo", "Hamlet" e "Macbeth", interpretadas pelo The National Theatre Company e The Royal Shakespeare Company. Também cópias legendadas de "Henrique V" (1944) e "Hamlet" (1948) de Laurence Olivier, lançadas no Brasil, legalizadas, também serão exibidas. Estuda-se uma idéia de Valêncio Xavier, diretor do MIS-PR: mostrar em vídeo a "versão cabocla" que o criativo Ozualdo Candeias fez de "Hamlet" com o título de "A Herança" e no qual o conflituado personagem shakespeareano vive seus dilemas numa fazenda no Interior paulista, em clima de bang-bang. Este filme, pouquíssimo conhecido do público, é tido como uma das mais originais obras inspiradas em Shakespeare - cuja filmografia ultrapassa 500 títulos.
Barbara Heliodora, professora de teatro, ex-crítica de "O Globo" e reconhecida como a maior autoridade teórica em Shakespeare no Brasil, aceitou encerrar o ciclo de palestras, que Arakem idealizou. Barbara, com toda sua formação de obra de Shakespeare, fez poucas experiências como diretora de seus textos. Uma delas teve estréia nacional no Auditório Salvador de Ferrante, há 16 anos: "A Comédia dos Erros". O ciclo será iniciado no dia 18, com Paulo Autran falando de sua experiência em ter vivido o personagem Otelo em montagem dos verdes anos da Companhia Toni-Celi-Autran, em 1956. O psiquiatra Paulo de Tarso Monteserrat fará uma abordagem sobre "Otelo e o Ciúme".
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Celina Alveti, coordenadora de divulgação do TCP, está tirando água das pedras para motivar a temporada de "Otelo". Passou a semana tentando convencer alguns críticos nacionais a virem a Lapa para assistir a estréia, vem produzindo bons releases e editando um boletim com notícias sobre o TCP. Neste, vem usando charges de Armando Maranhão, 65 anos, 40 de teatro paranaense e que é uma espécie de guardião do (pouco) que existe de memória nas artes cênicas entre nós.
LEGENDA ILUSTRAÇÃO - Viaro, na charge de Armando Maranhão.
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