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Histórias do nosso futebol (II) - Levi, 37 anos valorizando os craques de nossa várzea

A capa de "Futebol / Paraná / História", de Heriberto Ivan Machado e Levi Mulford Chrestenzen (edição dos autores, 658 páginas, lançado há duas semanas) traz uma foto em que três garotos assistem um jogo de futebol na várzea. Num feliz flagrante de Hermanito Christensen, 67 anos, irmão de Levi, de costas, três meninos - de boné, calças com suspensórios - vibrando num jogo como era tão comum acontecer nos improvisados estádios que se multiplicavam nos bairros de Curitiba. O programador visual da obra, Lúcio Marcelo Chrestenzen, 30, primogênito de Levi, ao escolher esta foto tão tipicamente de uma paisagem humana curitibana - as crianças, o futebol, e, ao fundo, o pinheiro - não poderia ser mais feliz. Identificando, inclusive os garotos que ali aparecem - hoje quarentões cidadões - os irmãos Luís Henrique e Wilson Becker, mais o amigo Bertinho (Alfredo Siscudo), a data (23/10/56), local (Campo do Operário do Ahú) e até o placar do jogo (Ahú 5 x Trieste 3), a obra que agora foi lançada traz, a partir da capa, uma empatia emotiva com Curitiba. Curitibano da Rua Barão dos Campos Gerais, no bairro do Juvevê, canceriano de 6 de julho, Levi Mulford, 60 anos, sempre teve duas grandes paixões: o futebol e o cinema. No futebol, chegou a jogar no juvenil do Palestra Itália nos anos 40 e foi torcedor do Britânia até a fusão daquele clube. Desde 1939, começou a reunir informações sobre futebol, paixão em que acompanhava o seu pai, Rodolfo Christensen (1901-1976). No cinema, a paixão também desde a infância o levaria, aos 18 anos, a aceitar o convite de um colega de geração, José Luiz Kaiser - um dos pioneiros redatores de coluna especializada em cinema na "Gazeta do Povo" (hoje com 65 anos, aposentado da Cervejaria Antarctica, há anos não vai mais aos cinemas que tanto freqüentava), e que começou trabalhando no escritório local da Columbia Pictures, em 1950. Na época de ouro do cinema, as produtoras americanas (e algumas européias) tinham grandes escritórios em Curitiba, cujo território cinematográfico (atingindo todo o Estado e parte de Santa Catarina) era dos mais lucrativos. Da Columbia, Levi passaria já como programador na antiga Republic, e, depois na Art Filmes, que trazia os filmes italianos. Só em 1957, quando foi aprovado no concurso para orçamentista da antiga Companhia Telefônica Paranaense, Levi deixou a cinematografia (com a incorporação daquela multinacional pela Telepar, ali continuaria até se aposentar em 1983). Mas o cinema continuou sua paixão e o futebol, uma cachaça que o levaria já em 1954 a escrever, já sobre os times suburbanos, no "Paraná Esportivo" (fundado em 1947). Em 17/10/1956, com a fundação da "Tribuna do Paraná" - e que desde o primeiro número se voltou a ampla cobertura esportiva que lhe garante há 35 anos a maior circulação junto as classes B e C - Levi aqui se integraria a equipe liderada por João Féder e que tinha, na animação que marcava graficamente o jornal, outra figura histórica de nossa imprensa, o Xiquinho (Osmar Zimmerman, hoje aos 56 anos, tranqüilo empresário em Cascavel, onde reside há 20 anos). Sem dúvida, a "Tribuna do Paraná" deve muito de sua popularidade, do fato de ser um jornal que atinge os mais humildes bairros de Curitiba, a cobertura que Levi sempre deu ao chamado "futebol de várzea". Todos os fins de semana, com sua máquina fotográfica Olympia-6 e seu caderno de anotações, Levi percorre os principais jogos que movimentavam, no passado, centenas de clubes - mas que hoje se restringem a apenas 35. "É conseqüência da especulação imobiliária, pois a maioria dos terrenos baldios que eram utilizados para campos de futebol foram transformados em prédios e conjuntos habitacionais - e também pela falta de uma política menos burocrática da Federação Paranaense de Futebol", comenta, com experiência. Ao longo destas três décadas e meia em que acompanha o futebol amador, Levi trabalhou com inúmeros colaboradores - que sempre o auxiliaram no fornecimento dos resultados de jogos quando dezenas de partidas ocorriam simultaneamente - e também colegas de redação, entre os quais um merece ser lembrado, o simpático e cordial Irone Santos (1926-1989). De extrema humildade e timidez, mas organizadíssimo e com uma imensa responsabilidade em seu trabalho - "afinal aprendi nos muitos anos em que fui orçamentista da Telepar a trabalhar com muitos critérios", comenta - Levi está entre aquelas pessoas admiráveis, que no seu cotidiano dá uma contribuição à cidade em que nasceu. Agora, da associação com outro sério pesquisador, resultou um livro básico, que merece toda a cobertura.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
22/02/1991

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