As imagens "Blues" e o som de Arrigo no filme "Vera"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de novembro de 1986
Brasília
Há 3 anos foi "Janete", de Chico Botelho - um filme de belas imagens e uma história com toques felinianos, que teve inclusive seqüências rodadas em Piraquara e Curitiba. Agora é "Vera", do paulista Sérgio Botelho, 30 anos. Em ambos, a trilha sonora de Arrigo Barnabé, paranaense de Londrina, o superstar da vanguarda tupiniquim. Exibido na noite de sábado, 1º, "Vera" tornou-se um dos grandes favoritos de muitos jornalistas e espectadores para a premiação do XIX Festival do Cinema Brasileiro - cujos resultados só foram divulgados na noite de terça-feira. A trilha de Arrigo para este filme dificilmente será premiada - afinal, os trabalhos de Wagner Tiso ("Chico Rei"), Nivaldo Ornellas ("A Dança dos Bonecos") e David Tygell ("A Cor de seu Destino") soa bem mais sonoramente agradáveis. Entretanto é funcional a trilha de Arrigo Barnabé para as belíssimas imagens que o argentino-brasileiro Rodolfo Sanchez, 43 anos, conseguiu para o filme - plasticamente o mais belo exibido no festival. Requisitadíssimo (e muito bem pago) fotógrafo de filmes publicitários, Sanchez fotografou dois dos filmes de seu compatriota Hector Babenco ("Pixote" e "O Beijo da Mulher Aranha") e, mais recentemente, "Sonho de Valsa", de Ana Carolina - em fase de montagem.
Acreditou no talento de Sérgio Toledo - que havia conhecido durante as filmagens dos filmes de Babenco (na qual Toledo integrou a equipe) e produziu um trabalho magnífico amparado na perfeita cenografia e direção de arte do múltiplo Neum Alves de Souza - complementada por Simone Raskin.
O filme blue - "Cidade Oculta", de chico Botelho - que foi exibido na noite do encerramento do festival já ganhou o adjetivo do filme dark do ano - desde sua participação no Rio-Cine Festival - onde obteve as premiações de melhor filme, direção, trilha sonora (Arrigo Barnabé) e fotografia (José Roberto Eliezer), "Vera" pode ser considerado como o primeiro filme blue do novo cinema nacional. O próprio Sérgio Toledo gostou desta adjetivação, admitindo que o fato de ter nascido e crescido dentro de uma família - os Segall, de São Paulo - contribuiu para sua formação. Neto do pintor Lasar Segall, filho do museólogo Maurício Segall e da atriz Beatriz Segall (vista no palco do Guaíra, há alguns meses em "Emily"), Sérgio preferiu adotar o sobrenome da mãe para não ser, em termos cinematográficos, confundido com o Sérgio Segall, também paulista, publicitário em Curitiba - (e diretor de criação da agência do grupo Nasser) - e que há 10 anos rodou em Antonina uma ingênua pornochanchada - "Os Galhos do Casamento".
Formado em Sociologia pela USP, vivência no Exterior - Sérgio Toledo estudou com o documentarista hoalndês Joris Ivens no Centro George Pompidou em Paris. Revelou sua preocupação social em seu primeiro longa-metragem, "Braços Abertos, Máquinas Paradas", co-dirigido com Roberto Gervitez (atualmente filmando "Feliz ano Velho", do best-seller de Marcelo Paiva), documentário que recebeu o prêmio dos realizadores do Festival de Leipzig, na Alemanha, em 1980.
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