Julho dos festivais
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de julho de 1988
Nem só de poderio artístico (leia-se dólares) se faz (em) festival (is) e se o First New York Festival International Of Arts, que entra agora em sua semana final (a propósito, hoje completamos o registro com texto inicialmente previsto para domingo), não podemos nos queixar dos eventos programados para este mês de julho por aqui.
De princípio, o secretário Renê Dotti, da Cultura, voltou ontem de Londrina, exibindo um salutar sorriso dentifrício: apesar de todas as dificuldades - inclusive problemas que sofreu por questões intestinais em sua pasta (agora a ser devidamente extirpadas), o VII Festival de Música de Londrina começou bem no domingo, com a Sinfônica do Paraná e até o dia 23, em vários espaços daquela cidade, estará oferecendo múltiplas opções - tanto em cursos como espetáculos e mesmo exposições.
Para conseguir isto, o secretário da Cultura, somando esforços a Universidade e a Prefeitura de Londrina, pessoalmente assumiu o comando da comissão organizadora, enquanto a comissão artística foi entregue a quatro nomes de competência na área musical - os maestros Henrique Morozowicz, seu irmão Norton, padre José de Almeida Penalva e Najat Nasser Gaziri. Em merecida cobertura que ocupará muito espaço nas próximas semanas, os leitores acompanharão o Festival - em seus vários segmentos, numa prova de que mais importante do que apenas verbas é uma filosofia artística e, principalmente, evitar que grupelhos medíocres prejudiquem eventos oficiais - como vinha ocorrendo com o Festival nos últimos anos. Mas não foi fácil a Renê Dotti vencer as serpentes que tentaram picar o festival - e sobre as quais ainda é necessário manter-nos vigilante.
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Espera-se que o Festival de Londrina, fortalecido, agora, venha a obter projeção que facilite, a partir do próximo ano, um patrocínio generoso, como o que a Souza Cruz dá há anos ao Festival de Campos do Jordão, também iniciado no último fim-de-semana. Com direção musical do maestro Lutero Rodrigues (regente do Coral da Pró-Música em Curitiba), que no ano passado, em meio à crise provocada pelo afastamento do mega-maestro Eleazar de Carvalho - que há anos era o grande czar do evento - Campos do Jordão tem já uma estrutura consolidada. O jornalista João Marcos Coelho, que com sua maior eficiência coordena a divulgação nacional - nos comunicava na semana passada que até o próximo dia 23, mais de 40 concertos públicos no auditório (um magnífico espaço construído especialmente para sediar o Festival) e na Praça de Capivari, no centro da paradisíaca cidade de Campos do Jordão, envolvendo 10 orquestras, 4 bandas sinfônicas, nove grupos de câmara e 9 solistas estarão movimentando o festival. 250 bolsistas vindos de todas as regiões (e até do exterior) terão 126 horas de ensino individual, de música de câmara e de prática de banda e de orquestra, "equivalentes a mais de 3 anos de aulas práticas num curso regular de música", sintetiza João Marcos.
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Ao lado dos festivais voltados à música erudita, acontecem também os de música popular, competitivos, e que procuram abrir espaços para novos autores e intérpretes. No próximo fim-de-semana, dois estarão acontecendo, com participantes de vários estados - talvez até mesmo de Curitiba. Jorge Pias Rainski coordena o 2º Festival Musical de Inverno de Lagos (7 e 9), oferecendo Cz$ 100 mil em premiações.
Já em Avaré, é Juca Novaes quem leva adiante o mais organizado evento competitivo no Estado de São Paulo: A Feira Avarense de Música Popular, que iniciada em 1983 trouxe várias inovações - e de ano para ano vem conseguindo reunir comissões julgadoras com nomes do maior prestígio nacional, sempre sob a presidência de Zuza Homem de Melo, que para não faltar ao Festival, antecipou seu retorno de Nova York, após a longa viagem que fez por mais de 20 países, como um dos organizadores do super-tour do grupo de Milton Nascimento ao Oriente e Estados Unidos.
No ano passado, a Feira Avarense de Música Popular teve quase mil composições inscritas e fora a primeira a criar uma premiação especial para a música instrumental. A cada ano, também vem sendo homenageado um grande nome da nossa música: no ano passado foi Edu Lobo e nesta sexta edição (8 a 10 de julho) será Gilberto Gil, que fará o show no encerramento. Avaré também oferece uma das maiores premiações em dinheiro, num total de Cz$ 1.500.000,00, cabendo a cada uma das músicas selecionadas, independente de premiação, a quantia de Cz$ 30 mil. Só o Musicanto, em Santa Rosa, RS, oferece premiações maiores mas, traduzido num Ford Del-Rey, ao autor da primeira classificada.
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No Rio Grande do Sul, os festivais nativistas continuam a ser realizados, com um aprimoramento em sua organização. E em Cascavel, no final do mês, acontecerá a 18º edição do FERCAPO - o mais organizado evento competitivo de MPB no Paraná.
Portanto, não é por falta de espaço que os novos talentos da MPB deixarão de mostrar suas músicas. Mas que haja talentos.
LEGENDA FOTO 1 - Alceu Bocchino: regendo a Sinfônica do Paraná em Londrina.
LEGENDA FOTO 2 - Luthero: dirigindo o festival de inverno em Campos do Jordão.
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