Ligadão
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de dezembro de 1980
Não é necessário ouvir o disco inteiro, mas adquiri-lo, por algumas faixas. Como "Eu te amo", que Chico divide com Tom Jobim. Novamente o compositor prova saber, como ninguém, fazer o verso certo para falar dos mistérios e da dor do amor. Tem "Mar e Lua", de um lirismo impressionante para ouvidos habituados a um Chico falando do submundo, da crueza da vida. Ele está mais romântico, mais para dentro, em suas novas composições. Há trabalhos já gravados por outros cantores, como "Bye Bye Brasil", "Morena de Angola", "De todas as Maneiras" e "Não sonho mais". Nota-se que falta um encaixe melhor, o disco está com cara de apressado, de mistura de músicas. Falta a harmonia peculiar de discos anteriores. Mas Chico ainda conserva seu lugar certo e particular na MPB, não há dúvida. Graça Canto Magnani
Era difícil imaginas que Chico Buarque fizesse uma canção mais profundamente lírica e profunda sobre amor & desamor, a separação com dor, após a obra-prima "Trocando em Miúdos". Pois, senhores e senhoras, mais uma vez o poeta Francisco Buarque de Holanda, 36 anos, consegue se superar a si mesmo: "Eu Te Amo", faixa 1, lado 2, de seu novo lp (Philips, 7128311, dezembro/80) é daquelas músicas definitivas, que se pode ouvir uma, duas, dezenas de vezes, com emoção, prazer, empatia, identificação, entusiasmo. De certa forma, "Eu Te Amo" complementa uma [trilogias da separação iniciada com "Atrás da Porta" (81972), que prosseguiu com "Trocando em Miúdos" (1978) - ambas parcerias com Francis Hime - e que alcançam o seu [vértice], "Eu Te Amo", não poderia ter um melhor parceiro: Antonio Carlos Jobim, com quem dividiu, 12 anos passados, "Sabiá" (vencedora do III FIC, Rio). Um poeta maravilhoso, capaz de criar imagens dignas de um Drummond, Chico chega a felicidade plena ao dividir as músicas com criadores de harmonias perfeitas como Hime ou Tom. Sinceramente, basta ouvir "Eu Te [Amo]" para se concluir que "Vida" é um dos elepes do ano, o que é redundância tratando-se de Chico, que nunca deixou de estar entre os melhores de cada ano. Mas todas as faixas estão perfeitas: seja as inéditas, como a que dá título ao disco (e onde Chico coloca um pouco de sua prematura perplexidade frente a vida, a idade, o tempo), sejam regravações ("Bastidores", "Fantasia", "Morena de Angola", "De Todas as Maneiras" etc).
Desnecessário repetir elogios a produção, aos músicos, aos arranjos (Hime, Tom, Menescal). Só se pode dizer: corra a loja e compre quantos discos seu orçamento permitir. Não há melhor presente a sua namorada, seu melhor amigo. A você mesmo, enfim!
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