Livro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de fevereiro de 1974
Não deixa de ser um desafio o relançamento de "I Fioretti", nos dias de hoje. Em plena era tecnológica, quando muitos até mesmo tentam fazer entender que o homem não passa de um mero esquema cibernético, no momento em que a tecnocracia e o instinto de morte procuram destruir o planeta em que habitamos e relegar a poesia, a simplicidade e a candura a termos meramente históricos, a Editora Vozes faz questão de relançar um livro famoso pela sua candura, pelo seu aspecto poético, pela sua ingenuidade, escrito há quase setecentos anos. "I Fioretti" (palavra praticamente intraduzível) conta pequenas estórias relativas a feitos de São Francisco de Assis, estórias estas que não tiveram acolhimento nas duas Legendas oficiais que contam a vida do Santo, únicas reconhecidas como autênticas. São fatos corridos de boca em boca, narrados pelos primeiros frades e pelos primeiros devotos, todos entusiasmados pela personalidade marcante do "Pobre de Assis". Ocorreu, um dia, a algum frade ou devoto - ninguém sabe quem - a grande idéia de colecioná-los. E aconteceu que estes relatos extra-oficiais sempre receberam mais crédito, por parte do povo que os próprios documentos oficiais. Podemos dizer que se trata de um livro atual, em face do renascimento místico e romântico de toda uma parte da humanidade. "I Fioretti" é a própria contracultura, desta vez sem revolta, sem contestação, sem violência. A Vozes fez questão de conservar o livro na sua tradução antiga e com a mesma introdução das primeiras edições brasileiras, com todo o seu entusiasmo, talvez ingênuo para os nosso dias, mas que bem demonstra a perenidade da obra.
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