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Aramis

A louca corrida no porre visual de tantas imagens

Fortaleza - O Palácio dos (sonhos) Festivais seria um imenso hotel com uma dezena de cinemas, em sessões ininterruptas, exibindo todos os filmes em competição, das mostras paralelas e do mercado. Seria a única maneira de se conseguir acompanhar ao menos 30% das centenas de opções que são reunidas em eventos internaiconais. Aqui neste VI FestRio-Fortaleza que tem a sua sede no Imperial Othon, mas que se espalha com eventos (seminários no Hotel Pontamar, mercado no Hotel Esplanada) e seis cinemas repete-se aquele cruel dilema: qual a opção entre tantos programas oferecidos? Ivan Valença, 45 anos, sergipano de Aracajú, cinéfilo desde os três anos - quando acompanhava sua mãe Dulcinéia nas sessões vespertinas dos cinemas daquela cidade, é o exemplo de rato de festival. Por sua conta já esteve três vezes em Cannes (1974/76/78), acompanha o FestRio desde sua primeira edição e consegiu se profissionalizar fazendo o que mais gosta: hoje tem os dois melhores videoclubes de Sergipe (foi o primeiro no Estado e o terceiro no Nordeste) e assessora as distribuidoras de vídeos Look e Vic, o que garantirá coberturas das despesas no próximo ano para os festivais de Cannes. Também quem acompanha este evento desde 1984, sempre com recursos próprios, é o crítico e arquiteto gaúcho Marco Papaleo, 34 anos, que consegue assistir os principais programas e ainda registrar fotograficamente todas as entrevistas coletivas. Ivan Valença e Papaleo são exemplos de apaixonados por cinema que, com organizados mapas de programação, procuram desdobrar-se para acompanhar os filmes que, em horários diferentes, são mostrados nas salas, mas excluindo as mostras de vídeo (que aqui acontecem no Imperial Othon), "pois então seria impossível mesmo", diz Ivan Soares, outro apaixonado por festivais. Os filmes de chance única - escolher o que ver, eis a questão. Trocam-se informações para se buscar os filmes que dificilmente chegarão aos circuitos comerciais ou em vídeo (uma abertura ampla, para produções que normalmente não interessariam aos distribuidores) ou então antecipar o prazer de ver agora os filmes (e vídeos) que só chegarão dentro de meses nos circuitos regulares. Por exemplo, Fabiano Canosa, brasileiro que há anos reside em Nova York, onde programa o Public Theatre, do lendário Joe Papp (famoso por suas produções teatrais de vanguarda), voltou este ano a organizar os Midnight Movies, destinados a trazer filmes da novíssima safra de cineastas, "a produção mais recente, especialmente dos diretores norte-americanos que não possuem grande penetração no Brasil", explica Canosa. É o caso, pr exemplo, de "Route One", de Robert Kramer, que durante 5 meses de filmagens ao longo da Rota Um, uma autoestrada que vai do Canadá a Key West, na Flórida, procurou documentar uma rodovia que em 1936 era a mais utilizada no mundo, mas que hoje corre ao lado de imensas auto-estradas e corta subúrbios em pequenas ruas asfaltadas passando por todos os lados tradicionais do país. A presença de Paul Bartel, diretor de vanguarda americano - de quem já foram lançados em vídeo suas duas primeiras comédias - "A louca corrida do ouro" (Lust for gold) e "Tudo por dinheiro" (Eating Raul), ambos pela Look, fez com que as duas sessões em que foi projetado "Luta de Classes em Beverly Hills" (já adquirido pela F. J. Lucas, para o próximo lançamento em vídeo) tivesse bom público. "Foram, aliás, as únicas sessões em que a sala teve um público numeroso", queixa-se Bernardo Couto da Silva, 65 anos, um piauiense há 40 anos ligado na cinematografia, e que como gerente da Sala Center I, na qual estão sendo apresentados os "midnight movies" (cujas sessões aqui acontecem a partir das 19h30), lamenta que outros filmes desta mostra, por falta de legenda tenham público mínimo - "e no máximo atraindo os participantes do festival, praticamente ignorados pela população". Foi o caso do delicado "O Pequeno Teatro de Jean Renoir", realizado nos anos 50 para a televisão francesa, composto por três histórias (e um Intermezzo com Jeanne Moreau, no auge de sua carreira, cantando uma música romântica) apesar de ser uma produção antiga foi incluído na mostra. Apenas 5 espectadores o assistiram - pois na mesma hora aconteciam outros programas. "Bind Curve", de Gary Markowitz, com o veterano Rio Torn e a novata Candy Clark, destacado pelos críticos de cinema em Cannes, chegou inesperadamente para uma exibição nesta mostra, na qual também vieram uma produção indiana, "Sallaam Bombay", 1988, de Mira Nair - que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado, "The Rainbow", o último filme do inglês Ken Russel ("Tommy"), voltando ao universo literário de D.H. Lawrence, de quem já filmou "Mulheres apaixonadas", "Hairspray", de John Waters e "Burning Secrets", de Andrew Bierkin (com Faye Dunnaway, ao que consta também já negociado para edição em vídeo). LEGENDA FOTO - Uma produção independente americana, "The Package" (Entrega mortal), de Andrew Davis, é uma das novidades trazidas para a mostra informativa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/12/1989

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