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Aramis

E quando o público poderá ver os filmes do FestRio?

Uma semana após o VI Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão ter acabado, desta vez em uma bem sucedida edição Fortaleza - que ofereceu plenas condições para sediar este evento da maior repercussão cultural (e turística) - uma pergunta natural é feita entre (tantas) reflexões que sempre cabem: quando o grande público poderá conhecer ao menos os principais filmes levados nas mostras competitivas (e algumas paralelas) que, entre 22 de novembro a 5 de dezembro ocuparam os mais nobres espaços da imprensa nacional? Aos organizadores do FestRio não cabe, naturalmente, compromissos de comercialização/distribuição dos filmes que são reunidos para o evento. Como em Cannes, Montreal ou Berlim ou Veneza - os festivais funcionam como uma grande vitrine/feira da produção cinematográfica up to date (paralelamente a mostras retrospectivas e homenagens especiais), aproximando jornalistas, realizadores e distribuidores, a quem é que cabe fazer com que os filmes estrangeiros cheguem nos circuitos comerciais de 35mm ou, a partir dos anos 80, com o boom do vídeo, nas embalagens portáteis desta nova forma de comunicação. Aliás, o vídeo passou a ser a grande opção para democratizar os filmes que, até a década passada, se limitavam a tela ampla - mais pesada em sua estrutura de comercialização. Hoje, quando o vídeo atinge no Brasil já um ponderável peso econômico - são 61 distribuidoras atuantes e 4.635 locadoras, conforme levantamento do jornalista Oceano Vieira, 35 anos, editor do "Jornal do Vídeo" - publicação na linha de "Variety" que vem circulando com uma média de 250 páginas, repleta de anúncios e informações (o último número, distribuido em Fortaleza, pesa exatamente um quilo e vinte gramas). Portanto, por uma própria necessidade de mercado, os filmes que tem sido levados a festivais encontram hoje uma faixa segura de serem conhecidos, a curto e médio prazo - pois há segmentos capazes de absorver mesmo as obras mais experimentais e difíceis, aquelas que assustariam, tempos atrás, os distribuidores tradicionais. Embora o mercado de filmes e vídeos, coordenado pelo experiente Carlos Moletta e que funcionou no Hotel Esplanada, tenha sido bastante movimentado, serviu mais para aproximação da comunidade que viabiliza a produção e exibição de filmes. Assumpção Hernandez, da Raiz Filmes, esposa do cineasta João Batista - que se prepara para iniciar o tão aguardado "Vlado", comentava conosco: - "Pouco a pouco as relações vão se tornando mais seguras e a grande função dos mercados que existem paralelamente aos festivais é de fazer com que se conheçam ambas as partes. Assim, o interesse é recíproco e também a busca de seriedade nas negociações." Além de reunir recursos estrangeiros (TV Espanhola e Chanel Four, da Inglaterra) para o filme sobre Vladimir Herzog, Assumpção tem outros projetos em andamento, inclusive uma co-produção com Portugal, "Solo de Violino". Já Lúcia Murat, realizadora de "Que bom te ver viva" (cine Ritz, 5 sessões), que já havia negociado há 60 dias os direitos de seu premiado filme com a Sagre Vídeo (que está lançando um pacote de produções da melhor qualidade) sacrificou o prazer de acompanhar os principais filmes em competição para aprofundar relações com distribuidores estrangeiros vindos de várias partes do mundo. É bem verdade que grande parte dos negócios estão sendo sacramentados agora, junto as sedes das distribuidoras - de vídeo/filmes 35mm - no Rio e São Paulo. Marcos Aurélio Marcondes, principal assessor da Art Filmes, contava que há muitas semanas o dono da empresa, Ugo Sorentino, já havia negociado com representantes do produtor Kees Kasander, da Holanda, a compra dos direitos do favorito do Festival - "O Cozinheiro, o ladrão, sua mulher e seu amante", que levou os Tucanos de Prata de melhor direção (Peter Greenaway) e atriz (Helen Mirren). Um dos filmes da mostra Midnight Movies, organizada por Fausto Canosa (brasileiro que há anos é o programador dos cinemas de arte de Joe Popp, em Nova Iorque), que teve melhor público - "Scenes from the class struggle" do irreverente americano Paul Bartel - (na ausência de Jim Jarmurschi, foi o realizador mais procurado pela imprensa em Fortaleza), já está comprado pela F. J. Lucas, de São Paulo - e deve sair num dos próximos pacotes desta empresa - que possui também uma cadeia de cinemas (em Curitiba, o cine Plaza). O filme que mais encantou o público - "Splendor", de Ettore Scolla - exibido hors concurs - está na bica para ser lançado nacionalmente pela Warner, o que talvez só não aconteça nas próximas duas semanas devido a existirem vários outros "cabeças-de-produção" que estarão brigando pelas bilheterias no circuito nacional. Também dois outros hors concurs levados a Fortaleza chegarão logo: "A Sociedade dos Poetas Mortos", do australiano Peter Weir e "Assassinato Sob Custódia", da martinicana Euzhan Palcy - ambos produções americanas, excelentes e que merecerão futuros comentários nesta coluna. Com relação ao divertido "Rosalie Vai às Compras", do alemão Percy Adlon e "Recordações da Casa Amarela", do português João Cesar monteiro - também mostrados hors concours, a demora poderá ser maior. Afinal, apesar de Adlon ter obtido o Tucano de Ouro há dois anos com "Cut of Rosenheim" (lançado internacionalmente com o "Café Bagdá"), este filme continua inédito em Curitiba, embora já disponível em vídeo assim como "Zuckerbaby" ("Celeste", considerado seu melhor filme, foi exibido apenas em uma mostra organizada pelo Goethe Institut). xxx Ninguém realiza um filme (ou vídeo) para que o mesmo fique apenas no circuito dos festivais mas as leis do mercado são cruéis. Jim Jarmuschi, o badalado diretor, teve seus dois primeiros longas - "Strangers Than Paradise" e "Downbylaw", praticamente estraçalhados nos circuitos alternativos antes de obter condições de fazê-los render no Brasil. Por isso mesmo, apressou-se a negociar os direitos de seu ótimo "Mistery Train", sensação em Cannes e que abriu o rastolho da XIII Mostra Internacional de Cinema, trazido a Curitiba em 6 de novembro, para que o mesmo saia agora em vídeo, paralelamente ao lançamento nos cinemas. Enfim, os festivais valem como o grande traille do que se faz na produção audio-visual internacional, e mesmo sabendo-se que obras-primas como "Figuras na Névoa" (Landescapin the mist), do grego Theo Angelopoulos (premiado em Berlim e que na semana passada recebeu o Felix, o Oscar europeu) talvez demore para ter sua exibição entre nós (o que pode até nem acontecer, já que os outros filmes de Angelopoulos continuam inéditos), sempre há a esperança de que o prazer das telas do FestRio, em obras de melhor qualidade, possa ser dividido com o grande público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/12/1989

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