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João Batista prepara "Vlado" e lança seu primeiro romance

Há três anos, no XX Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, quando João Batista de Andrade participava com "O País dos Tenentes" - que entre outras premiações valeu o Candango de melhor ator a Paulo Autran - se falou muito não apenas naquele filme de visão histórica do tenentismo, mas, especialmente, do projeto que já fascinava ao cineasta mineiro-paulista: "Vlado". Na época, publicamos uma coluna há muitos anos, em torno de fazer mais do que um filme, uma homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, nascido em 1937, em Banjaluca, na Iugoslávia, e morto em 25/10/1975, nos cárceres do DOI-CODI, em São Paulo. Amigo e companheiro de Herzog - trabalharam juntos na TV-Cultura (Vlado chegou a realizar alguns documentários), a morte do jornalista atingiu profundamente a João Batista, que em várias ocasiões tem repetido: - "Participávamos dos mesmos ideais, das mesmas lutas. Assim como foi ele o preso, torturado e morto, poderia ter sido eu". Trabalhando no roteiro do filme desde 1979 (paralelamente, saíram meia dúzia de livros sobre o caso Herzog, mas o trabalho de Batista é original), a produção vem sendo montada com todo o cuidado, mas esbarrando naquilo que fez com que a cinematografia brasileira fosse praticamente congelada nos últimos 3 anos: falta de recursos. Mesmo reconhecido, por seus 9 filmes de longa-metragem (quase todos premiados em festivais no Brasil e Exterior, como um dos mais corajosos e atuantes cineastas brasileiros, associado a uma produtora exemplar - a Raiz Filmes, dirigida por sua esposa, Assunpção Hernandez - mesmo assim os recursos para permitir uma produção tranqüila tem sido difíceis. Após vários contatos, a TV-Espanhola aprovou o projeto como um dos que desenvolverá em 1990 com cineastas brasileiros e o Chanel Four, de Londres, também deverá participar com 30%. Como algumas seqüências da infância de Herzog (que veio para o Brasil com 9 anos de idade) terão que ser rodadas na Iugoslávia, haverá também a colaboração do instituto de cinema daquele país. Apesar de ocupadíssimo com os preparativos de "Vlado", João Batista e sua incansável esposa, Assunpção Hernandez, da Raiz Filmes, uma das produtoras mais eficientes do país, não param. No Festival de Brasília, João Batista lançou o seu primeiro livro de ficção, "Perdidos no Meio da Rua" (Global Editora, 112 páginas, NCz$ 35,00). Agora, dependendo apenas de alguns detalhes, João também virá a Curitiba, em promoção coordenada por Valêncio Xavier, diretor do MIS-PR, para fazer uma palestra sobre cinema e autografar o seu livro na "Ypê Amarelo". Assunpção, caso o acompanhe, fará uma exposição sobre o assunto que mais conhece: como montar uma eficiente produção cinematográfica. Mineiro de Ituiutaba, às vésperas dos 50 anos - a serem completados no dia 1º, sexta-feira - João Batista se volta à literatura: após este romance, já tem material para uma "História da Utopia", destinada ao público juvenil. "Perdidos" reúne pequenas histórias escritas entre 1962/64, quando estudava Engenharia na Politécnica da USP - agora reescritas. - "Naquela época eu a alguns amigos chegamos a formar um grupo literário - e "Escola Psico-realista", que publicava poemas, contos e até novelas em esquemas alternativos. Com o golpe militar de 64 passei a escrever compulsoriamente. Meu sofrimento pessoal era tão grande que eu só enxergava dor a meu redor. E foi olhando as pessoas que me cercavam que inventei vários personagens. Três deles estão em "Perdidos no Meio da Rua". Lembrando que dos textos originais guardou "uma certa ingenuidade", João Batista acrescenta: - "Uma das frases que dizíamos em nossas conversas é a que a nossa vida, naquele momento (1964) era jogada como lama e lixo num bueiro. Havíamos caído na armadilha e não sabíamos como nos safar". xxx Enquanto João Batista prepara "Vlado", sua esposa Assunpção Hernandez - uma espécie de anjo protetor de cineastas em crise que não conseguem terminar seus filmes, viabilizar a finalização de "O Beijo", que Valter Rogério rodou há quase três anos, prepara o segundo longa de Augusto Sevá a ("O Caminho das Índias") - "Real Desejo" e mais dois curtas - "Arabesques", de Eliana Caffé (realizadora de "O Nariz", um dos cinco curtas brasileiros em disputa no FestRio-Fortaleza) e "Aquele Breve Encontro", de Tânia Savieto. João Batista, embora agora empenhado em "Vlado", já tem, entretanto, pronto o roteiro para um outro longa, "sem a menor previsão de quando será realizado"; uma adaptação do romance "O Tronco", do escritor goiano Bernardo Elis. Assunpção tem ainda um projeto internacional - "Solo de Violino", direção da portuguesa Monique Rusler, com José Wilker - e de cuja realização a Embrafilme participa com 18% do custo da produção - orçado inicialmente em US$ 450 mil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/11/1989

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