Estes diretores e seus filmes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de outubro de 1987
Seja ator, diretor ou produtor a última obra é sempre a preferida. Na I Mostra de Cinema Latino-Americano, que terminou sábado em Curitiba, curtas, médias e longas metragens foram apresentados durante uma semana ao público curitibano. Vários diretores e atores estiveram presentes, como o diretor Lael Rodrigues e os atores Lídia Brondi e Jayme Periard, do filme "Rádio Pirata"; Fred Confalonieri, o Araken, o show-man, diretor do engraçadíssimo curta "Churrascaria Brasil"; o cubano Sérgio Giral diretor de um curta sobre Che Guevara. As últimas presenças ficaram por conta dos diretores Suzana de Moraes, filha do poetinha Vinícius, com o filme "Vinícius de Moraes - um rapaz de família", José Inácio Parente, diretor de "Rio de Memórias" e João Batista de Andrade, diretor de "O País dos Tenentes", que em conversa com a imprensa, falaram um pouco sobre suas obras.
Suzane de Moraes
A idéia inicial era fazer um filme sobre gerações, mas Suzane tinha uma posição "única e privilegiada", como ela mesma diz, sendo cineasta e filha de alguém tão significativo para sua própria geração. Aí nasceu "Vinícius de Moraes - um rapaz de família". Um filme que foge do documentário, para seguir um caminho próximo à ficção, numa nova linguagem sem didatismos e com emoção. Claro que não poderia ser impessoal, em se tratando da filha contando o pai. Mostra um Vinícius até então desconhecido para o público: dormindo, conversando, bebendo, numa visão íntima do poeta. Sua vida privada e não pública. "Qualquer pessoa pública é mitificada quando mostra suas contradições, hesitações e angústias, nem sempre é bem recebida", diz Suzane, que acha que algumas pessoas saem assustadas quando vêem este filme ficam cara a cara com um Vinícius não conhecido.
José Inácio Parente
Em 1840, na atual Praça XV, no Rio de Janeiro, em frente ao Paço Imperial, é realizada a primeira fotografia na América. Já em 1920, a fotografia alcança outro estágio, com elaboração industrial. Entre estes dois períodos, a história do Rio de Janeiro. É este o tema do filme "Rio de Memórias", do diretor José Inácio Parente, que mostra a evolução da fotografia contando a história do Rio de Janeiro. "É um cenário de fotógrafos trabalhando", diz ele, lembrando que o filme não é apenas uma sucessão de fotos antigas, mas ganha beleza também pelo trabalho com cada fotografia, que pode ganhar movimentos, ruídos, sons, movimentos de câmera. Parente é psicanalista e Patrícia Monte-Mór, que trabalhou na pesquisa do filme, antropóloga. Juntos, conseguiram reconstituir um pouco da história carioca. Rio, para o cineasta, tem várias conotações, desde o verbo rir ou um afluente de águas ou o Rio de Janeiro. No filme "um Rio que não existe mais", seus prédios, pessoas que já morreram, vida da época, "que chega a dar vontade de chorar". O trabalho de pesquisa, para Patrícia foi dificultado pela falta de material ou conservação dos existentes. Mas valeu à pena. Em quatro meses de exibição, o filme rendeu dez prêmios em Fortaleza, FestRio e Gramado. Para José Inácio Parente, o filme "tenta resgatar a memória da função do fato, da imagem, recapitulando a amnésia da cidade".
João Batista de Andrade
"O País dos Tenentes" não é um documentário, nem tenta contar aulas de história. É a crise de um personagem que busca explicações em sua própria história. É assim que o cineasta explica o seu filme, a história de Gui (Paulo Autran), um general da reserva, que ao completar 80 anos se dá conta de que todas suas idéias de mudanças de 60 anos atrás não existem mais e o País mudou. O Pais passa agora pelo movimento dos civis, que pedem pelas diretas-já. "É uma proposta nova que não quer dar aulas para ninguém, mas mostra que é possível enriquecer o cinema brasileiro buscando a alma, a cabeça, o sentimento dos personagens", diz João Batista, que mostra um personagem perplexo em relação ao País, que toma consciência de que os sonhos da sociedade brasileira estão sendo jogados no lixo. Para ele, é a constatação de que a violência, desigualdades, manipulação industrial passaram por cima de suas idéias. "O capitalismo moderniza industrialmente, mas questões sociais têm saídas difíceis. A miséria, atraso são grandes demais, e é difícil saber por onde começar e as mobilizações nacionais são logo cozinhadas pela elite", diz. Escrito entre 84 e 86 e filmado em 11 semanas no ano passado, "O País dos Tenentes" mostra cenas já esquecidas do Brasil e por sua importância na vida do personagem, aparecem em grandes reconstituições, como a cena da Coluna Prestes, onde 400 personagens fardados e 150 cavalos atuam em meio ao cerrado baiano. Já a Revolução de 30, com a vitória de Getúlio Vargas é reconstituída dentro do estúdio e para a cena da caminhada e morte na praia de Copacabana dos "18 heróis do Forte de Copacabana", a calçada precisou ser reconstituída como em 1922. "O filme não tem uma relação intencional, acaba tendo uma relação de fato".
LEGENDA FOTO 1 - José Inácio Parente
LEGENDA FOTO 2 - Suzane de Moraes
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