Muitos festivais e pouco público
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de outubro de 1987
Mais dois festivais de cinema brasileiro iniciam nesta semana. Ontem, "Anjos da Noite", de Wilson Barros, abriu a vigésima edição do Festival de Brasília e amanhã, em Natal, começa o primeiro festival de cinema da Capital do Rio Grande do Norte. Na semana passada, a I Mostra do Cinema Latino-Americano do Paraná apresentou cinco estréias nacionais - algumas delas, aliás, estarão nos festivais de Brasília e Natal: "Leila Diniz", de Luís Carlos Lacerda; "Fronteiras das Almas", de Hermano Alves; "O País dos Tenentes", de João Batista Andrade; "Rádio Pirata", de Lael Rodrigues e "Tigipió", de Pedro Jorge.
Com pré-estréia na quarta-feira, 14, "Um Trem para as Estrelas" - que representou o Brasil no Festival de Cannes deste ano - substituiu a "Veludo Azul", de David Lynch, no recém-reaberto Bristol - interrompendo a carreira do filme americano, que a Fox pretendia ali manter por mais uma semana. O lançamento de "Um Trem para as Estrelas", promovido pelo colunista Ruy Barroso (que, aliás, vem dando grande apoio a promoção dos filmes brasileiros) foi prejudicada pela ausência de seu realizador: devido a um prosaico resfriado Cacá Diegues comunicou na tarde de terça-feira a Levy Cordeiro, gerente local da Embrafilmes, que não poderia estar presente. Com isto, todo o esquema de entrevistas e badalação para tentar motivar o público em torno desta crônica urbana, sobre um jovem músico (interpretado por Guilherme Fontes) na busca de sua namorada, desaparecida misteriosamente, acabou sendo desativado na última hora. Domingo à tarde, numa das salas do Hotel Nacional, que este ano é a sede do XX Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, organizadores dos principais eventos cinematográficos terão a sua segunda reunião, formalizando um "diretório" que surgiu, informalmente, durante o II Festival do Cinema Brasileiro de Fortaleza, em agosto último. A realização de múltiplos eventos - dois dos quais com características internacionais (FestRio, em novembro; Mostra de São Paulo, já em andamento) trouxe uma natural procura de títulos inéditos - em contradição a redução de novas produções, ao menos brasileiras, e méritos para serem apresentados em festivais e mostras. Assim, enquanto as produções mais recentes foram reservadas para o FestRio (que escolherá de 2 a 3 produções nacionais) - como "Feliz Ano Velho", "Sonho de Valsa", "A Dama do Cine Shangai" etc - para os festivais de Brasília e Natal ficaram filmes já levados a Gramado (abril), Rio-Cine Festival, Fortaleza (agosto) e Curitiba (Mostra Latino-Americana, outubro).
Houve até o acavalamento destes dois festivais - Brasília e Natal, e mais a XI Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que o crítico Leon Kakoff iniciou na semana passada.
Os eventos cinematográficos abrem, naturalmente, um espaço promocional para o cinema brasileiro. O Festival de Gramado, há 15 anos sendo realizado sem interrupção, consta da pauta dos grandes veículos nacionais, assim como o FestRio, em novembro - pela revoada de nomes internacionais, e mais de 400 filmes em exibição - tem um espaço especial. Também os eventos regionais - como os de Fortaleza, Brasília, Natal e, agora a Mostra Latino-Americana do Paraná - trazem para as páginas dos jornais, a televisão e mesmo as rádios, realizadores, artistas, gente enfim ligada ao cinema. Isto deveria resultar na melhoria das rendas dos filmes, mas a situação é dramática: cada vez mais caem as bilheterias (ver nota nesta mesma página).
No Festival de Brasília - que tem programado para hoje a noite "Fonte da Saudade", de Marcos Altberg (visto há duas semanas, no Cinema I), paralelamente aos longas, dois interessantes médias-metragens - "A Lenda do Pai Inácio", do baiano Pola Ribeiro e "Cartola", de Adilson Ruiz. Dos onze curtas-metragens, em competição, três foram vistos em Curitiba, na semana passada, na mostra organizada por Fernanda Morini e Lu Rufalco: "Churrascaria Brasil", de Fred Confalonieri; "Evocações... Nelson Ferreira", de Flávio Rodrigues; e "Tana's Take", de Almir Guilhermino. "Avante Camaradas", de Michelene Bondi, já tinha sido mostrado anteriormente, no Groff. Os demais, são inéditos: "Cidadão Jatobá", de Maria Luiza Aboim: "Salvar o Brasil", de José Mariani; "O Bebê", de Ana Maria Magalhães; "Arrepio", de André Pompeia Sturm; "O Rato", de Wilson Solon; "Heleno e Garrincha", de Ney Costa Santos e - o mais aguardado de todos - "A Mulher Fatal Encontra o Homem Ideal", que marca a estréia da atriz Carla Camurati como diretora.
LEGENDA FOTO - "Tana's Take", do alagoano Almir Guilhermino, visto já na Mostra do Cinema Latino-Americano - é um dos curtas que está concorrendo em Brasília.
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