Bilheterias alarmantes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de outubro de 1987
Com exceção de "Eu", de Walter Hugo Khouri - que em cinco semanas de exibição conseguiu mais de 20 mil espectadores - todos os filmes brasileiros lançados este ano em Curitiba têm tido rendas irrisórias. Levi Cordeiro, 46 anos, 32 de cinematografia, gerente do escritório local da Embrafilmes, lamenta:
- "É! Este ano só tivemos fracassos!"
E não tem sido por falta de promoção. Os festivais tem provocado notícias a respeito dos novos filmes brasileiros, campanhas publicitárias na televisão - como no caso de "Besame Mucho" - e mesmo a vinda de diretores e artistas para percorrer jornais e televisão, ajudando na divulgação, não conseguem despertar o interesse do público.
"Ele, o Boto", de Walter Lima Jr., lançado a uma semana, com a vinda do ator Carlos Ricelli, teve menos de seis mil espectadores. "Apesar da renda ser de apenas 40% do que costuma fazer o São João, decidimos mantê-lo em cartaz" diz Aleixo Zonari, perdendo os cabelos pelas fracas bilheterias - que atingem também produções internacionais. Mesmo "Veludo Azul", que reabriu o Bristol, encerrou sua carreira antes do previsto.
"A Fonte da Saudade" que hoje a noite concorre em Brasília - mesmo promovido com a vinda do diretor Marcos Altberg, foi um dos maiores fracassos do ano: apenas 236 espectadores em uma semana no Cinema I. Um filme sensível, com trilha sonora de Antonio Carlos Jobim (premiada no Festival de Gramado) e Lucélia Santos em magnífica atuação (3 personagens diferentes) não motivou o público.
A questão é grave e preocupa os realizadores - já que Curitiba é apenas um exemplo. Nacionalmente, com raras exceções, o panorama é desolador e com as produções elevando-se cada vez mais (hoje um longa-metragem custa o mínimo de US$ 500 mil) não dá mais para encarar os riscos de um mercado tão cruel. Este é um dos assuntos que mais se discute nos festivais - e que se estará repetindo nas reuniões, formais ou não, dos encontros de Brasília e Natal.
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