Escorpiã austríaca e Tolerance francesa sob o sol de Fortaleza
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de novembro de 1989
Fortaleza
Normalmente um festival começa com os filmes menos atraentes para o público - seja pelo desconhecimento de seus realizadores, seja por serem produções de países cujas cinematografias ainda é pouco divulgada entre nós. Assim, após os filmes vindos da Espanha ("La Luna Negra", de Imanol Uribe) e Hungria ("Mr. Universe", de Cyorgy Szomjas), apresentados ontem - e os concorrentes por Portugal ("O Processo do Rei", de João Mario Grilo), Argentina ("Cypayos", de Jorge Coscia) e Checoslováquia ("Tio Ciril", de Jiri Svoboda), que serão exibidos hoje - o evento começa a esquentar no domingo com dois filmes mais atraentes - o francês "Tolerance", de Pierre-Henry Salfatti e "Mulher Escorpião", do austríaco Suzanne Zanke. E, como hor concours, teremos o elogiado (e aguardado) "Rosalie Vai às Compras", do alemão Percy Adlon, com a mesma atriz gordinha e simpática, Marianne Sagebrech, que ajudou a fazê-lo vitorioso no FestRio-87, com o emotivo "Out of Rosenheim" (lançado internacionalmente como "Café Bagdá"), mas ainda inédito em nosso circuitos comerciais - embora já comercializado em vídeo.
Com uma história meio estranha, ambientada no final do século XVIII, numa pequena cidade italiana, na qual um misterioso ermitão (interpretado por Ruppert Everett, visto em "Crônica de uma Morte Anunciada" e "Sede de Amar") interfere na vida de uma jovem esposa (Anne Brochet), diáfana e bela, mas cansada da convivência com o marido nobre decadente (Ugo Tognazzi). Com cenografia elogiada pela crítica francesa, este longa praticamente apresenta o realizador Pierre-Henry Salfati no Brasil, cujo último filme "Amnésia", tem merecido aplausos em alguns festivais internacionais.
"Mulher Aranha" (Die Skorpionfrau), representante da Áustria, é uma dos poucos filmes em competição dirigido por uma mulher - Susanne e Zanke - e que traz uma bela atriz, Angélica Domrose, como a juíza Lisa, 44 anos, que tendo uma vida estável com seu filho de 18 anos, George Heinz Weixelbraun, após um relacionamento harmonioso com um arquiteto de 50 anos, Felix (Peter Andorai), envolve-se efetivamente com Rudi (Fritz Hammel), acusado de crimes que ela deverá julgar.
Uma história da própria diretora Susanne Zamke, com elementos que podem facilmente resvalar para o dramalhão - mas que também poderão surpreender pela colocação de pessoas (aparentemente) estáveis que têm o seu dia-a-dia estremecido.
Mostra Informativa
Tão atraente quanto os filmes em disputa das premiações, é a mostra informativa internacional que reúne 21 produções recentes, entre longas-metragens que participaram de outros festivais internacionais e, portanto, não podem aqui competir.
É o caso, por exemplo de "Fuga na Névoa" (Landescap in the mist), do cineasta grego Theo Angelopoulos, 53 anos, famoso realizador contemporâneo daquele país, mas ainda totalmente inédito no Brasil (seu "Viagem à Citara", 84, teve apenas algumas exibições na 8ª Mostra Internacional de São Paulo e no I FestRio).
Dois filmes em torno de monstros sagrados do cinema mundial serão aqui vistos: "John Huston - the mans, the movies, the maverick", de Frank Martin e "Notebook on cities and clothes", de Wim Wenders, em torno da obra do estilista japonês Yoji Yamamoto. O filme mais badalado, entretanto, é "Mistery Trian", de Jim Jamurschi - que embora já adquirido para ser lançado em vídeo e no circuito comercial, lotou as sessões da 13ª Mostra de São Paulo, onde foi apresentado, e abriu o rastolho daquela promoção levada a Curitiba, no dia 6 de novembro.
Outro cult-movie por antecipação é "Jesus de Montreal", de Dennis Arcand ("Declínio do Império Americano", premiado em Cannes-89). Mas há muitos outros filmes atraentes na mostra informativa internacional: "Romero", de John Duigan - cinebiografia do bispo de Salvador, assassinado por militares (episódio denunciado por Oliver Stone em "El Salvador-Martírio de um Povo"), com Raul Julia; "Vozes de Serafina", de Nigel Noble; "Erik, o viking", de Terry Jones, ex-Monthy Phyton e diretor do irreverente "Serviços Pessoais". Paul Deluc ("México Rebelde", "Frida"), que em 1986 foi nosso colega de júri dos curtas-metragem, é o diretor de "Barroco", outra das atrações da mostra informativa que tem ainda "Boda Secreta", co-produção da Argentina, Canadá e Holanda, direção de Alejandro Agresti; "Cartas por Encomenda", produção espanhola mas dirigida pelo cubano Thomas Gutierrez Ales; "Beije-me com Carinho" (Embrasse Moi"), França, de Michele Rosier; as produções húngaras "Brincadeira Mortal" (A Hecc, de Peter Gardos) e ("Meu Século XX") (Az en XX - Szazadon, de Ildiko Enydy).
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