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Aramis

Mária & Sandro, os profissionais

Se Maria Della Costa, por sua própria condição de uma das cinco grandes damas do teatro brasileiro (as outras são Tônia Carreiro, Nathalia Thimberg, Fernanda Montenegro e Henriette Morineu) merece, evidentemente, todas as atenções, nesta temporada curitibana ( "A Mala", no Guairinha, até o dia 29 de maio, sessões às 21 horas), não pode ser esquecido o trabalho de seu marido e empresário Sandro Polônio. Polêmico e incompreendido às vezes, Sandro tem, a seu favor, um pioneirismo no lançamento de importantíssimos autores - como Brecht ("A Boa Alma de Tse- Tsuan"), Sarte ("A rostituta Respeitosa"), Eskine Caldwell ("Tabaco Road"), além de Arthur Miller, cujo "Depois da Queda", há 13 anos passados, permanece ainda hoje, como um dos melhores momentos do teatro contemporâneo (o próprio Miller, afirma numa entrevista, que a melhor intérprete de "Maggie/Marilyn Monroe", de todas as encenações de "After The Fall", foi Maria Della Costa). *** Sandro e Maria, com quase 40 anos de teatro, mais de 100 produções, alguns filmes e apenas duas experiências de telenovelas ("Beto Rockfeller" e "Estúpido Cupido"), têm muitas estórias para a história do teatro brasileiro. Pertencem a uma geração de profissionais responsáveis, com respeito ao público, de teatro de repertório e não foram poucas as temporadas que fizeram Brasil afora, levando elenco de 20 a 40 atores/atrizes, com 5 a 7 peças, uma por noite. Hoje, as coisas se modificaram e, com nostalgia, Sandro Lamenta ser obrigado a encenar peças menores com elenco reduzido, como "A Mala", do argentino Júlio Maurício, com apenas 3 personagens, vivido por Maria, Leonardo Villar (praticamente sócio da produção, com 40% da bilheteria) e o jovem Rômulo Marinho Júnior, 21 anos, em sua primeira chance profissional. Sandro, afirma, gostaria de estar novamente com uma grande companhia, montando um clássico - ele que já fez tantas grandes produções, a última das quais foi "Bodas de Sangue", de Garcia Lorca. Mas os tempos são duros, faltam bons textos e é melancólicos afirmar, mas também bons intérpretes. Os grandes profissionais estão presos a contratos nas televisões, no eixo Rio-São Paulo. Dos jovens, poucos tem a garra profissional que Maria e Sandro exigem. *** Nesta temporada, Maria e Sandro levam "A Mala" as menores cidades, apresentando a peça em palcos improvisados, sem refletores, mas oferendo ao grande público a chance de assistir um teatro com dois grandes nomes. Na terça-feira, Sandro gastou várias horas para tentar liberar o Teatro da Lapa e ali fazer uma apresentação de "A Mala", na segunda-feira, dia 30. Pois embora o Patrimônio Histórico e Artístico da União tenha investido quase Cr$ 2 milhões na restauração daquele teatro, reinaugurado em novembro/76, o mesmo praticamente só funcionou nos 15 primeiros dias, que sucederam a badalada festa, que teve até a presença da atriz de TV Regina Duarte. As portas foram fechadas e, quando poderia se tornar um núcleo cultural ativo, está praticamente abandonado - com as chuvas fazendo estragos e as poltronas já avariadas (ao que consta, foram retiradas e mandadas consertar - não se sabe porque - no Rio Grande do Sul). O prefeito Sérgio Leone, até agora não soube aproveitar a oportunidade de fazer do teatro um importante centro cultural e, assim, para a sua simples utilização, são necessários telefonemas ao Patrimônio Histórico, no Rio, que autoriza a sua cessão. Convenhamos que é muito bur(r)ocracia... Apesar de tudo, com incrível boa vontade, Sandro conseguiu afinal vencer os entraves e "A Mala", após a temporada curitibana, ali estará sendo mostrada. Mais de mil pessoas não puderam entrar no ginásio do Clube Atlético Paranaense, sábado passado, quando Leonel & Campos, dupla sertaneja que mantém programas na Rádio Curitibana, ali promoveu uma "festa caipira", com superstars da música regional, como Tônico & Tinoco, Pedro Bento e Zé da Estrada, Tião Carreiro & Pardinho e outros. Apesar dos ingressos a Cr$ 40,00, o ginásio ficou lotado - confirmando-se aquilo que aqui analisamos, no sábado: a existência deste imenso mercado, que apesar de marginalizado e, aparentemente, não dispor de poder aquisitivo, garante vendas impressionantes dos elepês sertanejos, sustentáculo econômico de muitas fábricas. Uma nova prova de popularidade da música regional, deve ocorrer na próxima semana, quando o cantor Sérgio Reis, ex-intérprete de música ié-ié-ié e que assumiu, honestamente o gênero, vier a Curitiba para a estréia de seu filme "O Menino da Porteira", realizado por Jeremias Moreira Filho, Ciro Peliciano e Wenceslau Moreira da Silva Neto, a partir da canção de Luizinho e Teddy Vieira, que ajudou Sérgio Reis - se transformar também num superstar da música sertaneja, hoje com agenda repleta de compromissos pelo Brasil afora. Inteligente, dono da boa voz, Sérgio sabe escolher bonitas músicas regionais, o que o faz inclusive ser aceito por outro tipo de público. A trilha sonora do filme (RCA Victor 103.0202, maio/77), colocada nas lojas há poucos dias, já caminha para as relações das mais vendidas. FOTO LEGENDA- Sérgio Reis Uma das mais incômodas perguntas que o economista Reinhold Stephanes, presidente do INPS, deverá responder na próxima semana, quando participar de um "pinga-fogo" na televisão, em Curitiba, será sobre as dispendiosas obras que estão sendo realizadas no edifício localizado na Rua Cândido Lopes, esquina com Ébano Pereira. Dezenas de aparelhos de ar condicionado, revestimentos em madeira e mármore, carpê e outras sofisticações num prédio destinado, objetivamente, a atender o público exigem uma explicação - principalmente quando muitos graves problemas ainda estão a serem solucionados, na opinião do próprio Stephanes, admirado por suas colocações sinceras e honestas. O mais incômodo é que dentro de alguns anos o INPS terá uma nova sede - a torre a ser construída na Praça Rui Barbosa. Por estas e outras é que stephanes convocou assessores para se municiar de bons argumentos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
20/05/1977

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