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Aramis

Mensagem à violência

De certa forma o ator-produtor-diretor Clint Eastwood, 48 anos, tem alguma semelhança com Bem Shockley, resoluto personagem que interpreta em "Rota Suicida" (Cine Avenida, até domingo, 5 sessões diárias). Ator que começou fazendo bangue-bangue italianos, inexpressivos em termos artísticos, soube aprender as lições dos diretores, com quem trabalhou e investindo em produções os rendimentos obtidos como ator, vem conseguindo fazer uma razoável carreira de diretor. Assim como o detetive Shockley, homem duro e amargurado, decide cumprir a missão que é encarregado a qualquer preço. Eastwood também parece disposto a provar que é mais do que um simples ator. E em sete filmes, já obteve ao menos um sucesso, o psicanalítico western "O Estranho Sem Nome" (High Plains Drifter, 72), possivelmente um dos mais interessantes filmes da década. Para o grande público, entretanto, Eastwood é identificado ainda com o personagem durão impiedoso, mas defensor da lei e da ordem, muitas vezes quase com conotações fascistas, principalmente no personagem "Dirty Harry", criado a partir de "Perseguidor Implacável" (72, de Donald Siegel). Eastwood procura trazer para a crua realidade dos anos 70, com toda a violência, solidão urbana e neurose coletiva, alguns elementos que, com mais inocência e romantismo, faziam o encantamento dos melhores exemplos da chamada "série negra" da Warner, com Humphrey Bogar (1899-1957) interpretando detetives particulares como Sam Spade e Phil Marlowe, criações dos romancistas Dashiell Hammett e Raymond Chandler, respectivamente. Só que os personagens de Eastwood - seja o durão Harry ou o frustrado Shockley deste "Rota Suicida" são policiais, pagos pelo Estado, vivendo de magros salários, arriscando a vida diariamente - enojados do trabalho, da corrupção, do sistema. Neste prisma é que "Rota Suicida" deve ser visto, quase como um filme alegórico sobre a violência de nossos dias, especialmente no american way of life, provocada por interesses de corporações do crime organizado associados ao poder público ([indiretas] referências a Watergate e outros escândalos nacionais?). Na Europa e Estados Unidos, no final de 77, "The Gauntlet" teve um lançamento primoroso, em cinemas de primeira linha. Aqui, a Warner Brothers não deu maior atenção de forma que o filme chega até nós em exibição obscura no Avenida, ex-casa de primeira linha, hoje um poeira que raramente atrai público mais exigente face a mediocridade de sua programação. Entretanto, a quem se interessa pelo chamado "cinema da violência" que se faz nos Estados Unidos, é um filme que merece ser visto. Longe de ser um trabalho brilhante, inferior ao terror-musical de "Perversa Paixão" (Play Misty For Me, 71, estréia de Clint na direção), vale, entretanto, pelo sentido simbólico que os roteiristas Michael Butler/Dennis Shryack procuraram e que Eastwood manteve em sua construção. A decisão de Bem Shockley, (Eastwood), um policial de Fênix, alcoólatra e frustrado em sua carreira, em tentar levar de Las Vegas a sua cidade uma prostituta, Gus Mally (Sandra Locke), testemunha num julgamento que incriminaria o próprio chefe de polícia Blakeloch (Willian Prince), "plot" do argumento, não tem muito de original. Afinal, dezenas de filmes sobre testemunhas ameaçadas por assassinos tem sido realizados, tanto no gênero policial como western (e entre eles basta lembrar "Galante e Sanguinário/3:10 To Yuma, 57", de Delmer Daves). Só que a exemplo de personagem de "Tragam-me a Cabeça de Alfonso Garcia" (Bring Me The Head of Alfonso Garcia, 74, de Sam Peckimpoah), Shockley é também um homem que se dispõe a provar a si mesmo ser (ainda) capaz de levar uma "mensagem a Garcia". E para isto, enfrenta uma série de atentados - suficiente para destruir todo um exército e consegue sair vitorioso. E neste aspecto, evidentemente, "The Gauntlet" torna-se inverossímil e vulnerável: um batalhão de policiais destroi a tiros uma casa, um automóvel e até um ônibus, mas nem por isso conseguem mais do que alojar uma bala na perna esquerda do super-herói. O romance entre o duro Shockley e a prostituta (respeitosa ?) Gus também é forçado. Mas, com boa vontade, é possível ver os pontos positivos do filme, seu simbolismo, a segurança que Eastwood tem como diretor, lições aprendidas principalmente com Donald Siegel, que o dirigiu, entre outros, em "O Estranho que nos Amamos" (The Begiled, 72). A presença de Sondra Locke, a admirável atriz lançada em "Porque Tem de Ser Assim? /The Heart Is A Lonely Nuber, 68, de Robert Ellis Miller) é um dos pontos altos do filme. Jazzística trilha sonora de Jerry Fielding. E para quem curte cenas de perseguições, afora corridas automobilísticas, há uma novidade: um assassino num helicóptero tentando atingir os heróis, fugindo numa motocicleta. Seqüência, entretanto, que apesar da ação faz ainda com que fiquemos com aquelas cenas mais curtas - mas compactas - de "Intriga Internacional"2 (North By Northwest, 59, de Alfred Hitchcook), em que um avião tenta matar Gary Grant, perdido no meio de uma estrada no deserto de Nevada. xxx Um P.S. a quem se interessa: amanhã, à meia-noite, o Astor exige "Trágica Decisão"2 (The Triple Echo), filme inédito de Michael Aptde, com Glenda Jackson e Oliver Reed. A trilha sonora é de Mark Wilkinson, compositor e regente inglês que por duas vezes esteve em Curitiba, participando dos festivais internacionais de música. A última foi em janeiro de 75. E sábado, também à meia-noite, no Astor, reprise do musical "New York, New York" de Martin Scorcese, com Liza Minelli e Roberto de Niro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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07/09/1978

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