E onde está a mostra do mestre Saul Bass?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de outubro de 1986
Já imaginou o que significa o extravio de uma exposição com trabalhos de um dos artistas gráficos mais importantes do mundo?
Não foi sem razão que o desenhista Oswaldo Miranda Jr. - o famoso Mirandinha - viajou agoniado, esta semana, para Santos, tentando localizar aonde pode ter ido parar a exposição de Saul Bass, que foi despachada dos Estados Unidos sob sua responsabilidade e que, até na segunda-feira, ainda não havia sido localizada.
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Editor de "Gráfica" - publicação totalmente produzida em Curitiba que hoje é mais conhecida no Exterior do que no Brasil - Mirandinha conseguiu, a custa de muitas cartas e, especialmente, mostrando o seu belíssimo (ultrapremiado) trabalho gráfico, merecer a credibilidade de Saul Bass, a quem, há alguns meses, dedicou uma edição especial de sua revista - editada com textos em português e inglês e que já chega a concorrer com a suíça "Graphics", como revista de cabeceira de diretores de arte, ilustradores, artistas plásticos, etc., das grandes cidades do mundo.
Acostumado a organizar mostras internacionais de grafismo - normalmente promovidas em pontos específicos, com patrocínio da Umuarama - Mirandinha animou-se a trazer uma exposição retrospectiva de Saul Bass. Só que o material despachado de Nova Iorque parece que se perdeu nos meandros da Alfândega e nesta semana o parnanguara Mirandinha, coração na boca, nervosíssimo, buscava o seu paradeiro - como um Sherlock do nanquim - na procura de seus personagens.
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Saul Bass é um nome conhecido no Brasil por seus trabalhos no cinema. Desde que o austríaco Otto Preminger (1906-1986) o convidou para criar os títulos de "Carmen Jones" (1955), "O Homem do Braço de Ouro" (1956), e "Anatomia de um Crime" (1958), "Êxodus" (1960), "Tempestade Sobre Washington" (1962) e "Bunn Lake Desapareceu" (1965) praticamente revolucionou a arte de apresentar os créditos de uma produção. Alfred Hitchcock (1899-1980), astutamente, também percebeu o quanto Bass poderia valorizar um filme e o convidou para não só fazer os créditos de "Um Corpo que Cai" (Vertigo, 1958), mas como criar uma seqüência de pesadelo vivido por James Stewart. Posteriormente, Bass colaborou em outros filmes do mestre do suspense como "Intriga Internacional" (North by Northwest, 1959) e "Psicose" (1960), além de também ter dado sua contribuição a filmes marcantes como "A Volta ao Mundo em 80 Dias" (1956, de Michael Anderson), "Como Nasce um Bravo" (1958, de Delmer Daves), "Spartacus" (1960), "Pelos Bairros do Vício" (1962, de Edward Dymtryck), "Deu a Louca no Mundo" (1963, de Stanley Kramer), "Os Vitoriosos" (1964, de Carl Foreman) e, especialmente, "Amor, Sublime Amor" (West Side Story, 1961, de Jerome Robbins/Robert Wise), do qual também foi assessor visual.
Novaiorquino, 65 anos, Saul Bass tem sido premiado internacionalmente por trabalhos publicitários, como "IBM Orientation", "Mennen's Baby Magic" e "Sale of Manhattan Tishman", entre outros filmes publicitários. Possivelmente o mais requisitado programador visual do mundo, com trabalhos para as maiores empresas em dezenas de países, Saul se apaixonou por cinema e além de ter elaborado em outros longas-metragens como "O Cardeal" (também de seu amigo Preminger) e "Grand Prix" (de John Frankheimer), finalmente partiu para o longa-metragem, dirigindo em 1974 um fantástico science-fiction, "Fase IV - Destruição", assustador e envolvente presságio do que seria a humanidade sob o domínio das formigas.
Antes deste longa-metragem, Bass havia realizado três curtas-metragens - "The Searching Eye" (63), "From Here to There" (64) e "Why Man Creates", em 1968 - este exibido várias vezes em Curitiba, no final dos anos 60, quando a Usis aqui mantinha um ativo escritório de promoção cultural.
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