Muitas opções para o reduzido público
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de agosto de 1980
As férias nem bem terminaram, os universitários só retornam, efetivamente, na próxima semana, a gasolina aumentou, o dinheiro diminuiu, mas nunca houve tantas opções de lazer cultural como agora. Mesmo com subvenções reduzidas e público cada vez mais escasso, tanto a Fundação Teatro Guaíra como a fundação Cultural de Curitiba oferecem uma multiplicidade de espetáculos neste fim de semana conforme O ESTADO detalha em outros espaços, embora sejam tantas as atrações, que falta condições do destaque que cada um mereceria.
Teatro-de-revista, ópeara, dança, jazz, Brecht, música popular e filmes-de-arte estão nos auditórios, fazendo com que se lamente a falta de dom da umbiguidade, para se poder atender a todos os compromissos. Mas não custa tentar...
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De hoje a domingo, no Guairão, mais duas apresentações de "Último Trem", dos mesmos autores e com o grupo (corpo, de Belo Horizonte), que há 3 anos apresentou "Maria, Maria": música de Milton Nascimento, roteiro de fernando Brandt, coreografia e direção geral de Oscar Araiz. Cenários e figurinos de Carlos Cytrynoski. Na estréia, quarta-feira, os elogios foram amplos e generosos, para este espetáculo de música e dança, com raízes brasileiras realizado por mineiros, sobre um tema atual: a desativação de ramais ferroviários, a "morte" de pequenas cidades ao longo das linhas férreas. Uma visão mais universal da dança, está na mostra de filmes sobre bailados que o Goethe Institut exibe na sala Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro.
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Nesta mostra do Goethe, temos hoje, às 20:30 horas, "Mantra", 1970, de Horst Gfeller e Hilmar Schatz, música de Kalheinz Stockhausen (piano e instrumentos eletrônicos). Dois filmes, dirigidos por John Cranko (1927-1973), o lendário coreógrafo e diretor do ballet de Stuttgart: "Romeu e Julieta", e Socorro, Os Globlinks", de Crlo Menotti. Numa época em que aumenta cada vez mais o interesse pela dança, esta iniciativa do Goethe Institut não poderia ser mais oportuna.
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Até domingo, no auditório do Sesi, é a Cultura Inglesa afinal saindo de uma letargia em termos de promoções que justifiquem sua existência patrocina, com ajuda da FCC, uma nova temporada de "Dido e Aenéas", ópera trágica em 3 atos, composta em 1689 por Henry Purcell. Roberto de Regina, cravista, regente da Camerata Antigua de Curitiba, apaixonou-se pela encenação que o inglês Gerard Galloway fez em Angra dos Reis, com humildes integrantes do Coral Jair Travassos, daquela cidade, e trouxe, no ano passado, o espetáculo a Curitiba. A encenação desta ópera agradou tanto que há agora uma nova temporada, onde, mais uma vez, participa a Camerata Antiqua, que, por sinal, está gravando seu terceiro elepê já em fase de mixagem, no Sir Laboratório de Som e Imagem. As apresentações de "Dido e Aenéas" serão hoje, amanhã e domingo, às 21 horas. Ingressos a preços reduzidíssimos.
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Na quarta-feira, infelizmente, não houve público para que "Diário de Bordo" fosse apresentado no auditório Salvador de Ferrante, às 18:30 horas. Este horário alternativo, consagrado dentro da filosofia do Projeto Pixinguinha (este ano incluindo Londrina ao invés de Curitiba, no roteiro Sul), oferece riscos para espetáculos que não estejam consagrados. E no caso da produção do grupo "Nós Todos", idealizado e dirigido pelo jovem Fernando Libardi, apesar de dois nomes famosos a atriz Mirian Pérsia e o clarinetista Paulo Moura, está sofrendo com a concorrência de programas culturais na cidade. No palco, estão também o ator Paulo César Soares e o pianista Leonardo Luz. Uma tentativa de juntar a palavra e a música, num espetáculo que Libardi quer levar a várias Capitais brasileiras, e que continuará em cartaz, até domingo, às 18:30 horas, e que merece ser visto, por quem admira Mirian Pérsia, uma das boas atrizes brasileiras (em 1958, estrelou um filme precursor do Cinema Novo, "O Grande momento", de Roberto Santos) e o excelente instrumentista que é Paulo Moura.
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Também no horário das 18:30 horas por falta de espaço em outras salas será a única apresentação do Albert McNeill Jubilee Singers, domingo, 10, no grande auditório. Do programa constam negro spirituals, gospel, baladas contemporâneas, fragmentos de "Porgy and Bess",de George Gershwin, uma balada do musical "The Wiz", programa, portanto dos mais atraentes. Com 12 integrantes. Albert McNeill Jubilee Singers destaca-se como um dos melhores grupos vocais americanos. Vamos ver se o público da cidade, que curte blues, jazz, etc., comparece. Ingressos a Cr$ 300,00, Cr$ 200,00 e Cr$ 80,00.
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Ontem, a fulgurante Elke Maravilha, que na segunda-feira esteve no Rio para a estréia de "A Noiva da Cidade"(de Alex Viany, da qual é a principal intérprete), dividiu com o jornalista Cláudio Manoel da Costa a inauguração do restaurante "O Franciscano", com o qual Paulo Bruel pretende animar um pouco o setor histórico de Curitiba. Elke continua até domingo, à frente do elenco de "Rio de Cabo a Rabo", revista de Gugu Olimecha, direção de Luis Mendonça às 21:30 horas, no Guairinha. No inicio com pequena frequencia, está havendo uma reação: é o tipo de espetaculo que melhor funciona a recomendação boca-a-boca.
Para quem prefere o teatro sério, de idéias, polêmico, voltamos a recomendar: "Baal", que Bertold Brecht escreveu em 1918, está em cartaz no miniauditório Glauco Flores de Sá Brito (21:30 horas, Cr$ 100,00). Ontem já falamos, demoradamente, a respeito, e, nada melhor do que comparecer para ver como o baiano Marcio Meirelles, faz uma revisão atual da primeira peça escrita por Brecht.
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No Paiol, desde ontem, é Lecy Brandão, compositora-interprete, quem apresenta um espetáculo musical ("Essa Tal Criatura"), E as atrações vão continuar: já na terça-feira, estréia no Guairinha, "Navalha na Carne", de Plinio Marcos, direção de Odilon Wagner, com Gloria Menezes, Roberto Bonfim e Edgar Gurgel Aranha.
Haja tempo, disposição e, principalmente, dinheiro, para tantos programas. Sem falar no cinema, o que é papo para outra coluna, no 2o caderno desta edição.
LEGENDA FOTO 1 - "Último Trem", em cartaz.
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